Onde passear. Onde comer. E até onde morar. Claro que essas decisões são dos humanos, mas as variáveis para escolher como gastar o dinheiro em atividades fora de casa, bem como onde comprar ou alugar um imóvel, já consideram o bem-estar do animal de estimação. A busca por empresas preparadas para receber bem os bichinhos cresce tanto que os setores estão se adaptando e investindo num futuro pet friendly para seus negócios.
Dos 601 empreendimentos ligados à Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), 39,8% têm pet shops, segundo o Censo Brasileiro de Shopping Centers de 2020/2021. Glauco Humai, presidente da Abrasce, acredita que a oferta dessa e outras comodidades é determinante para escolha do local a ser frequentado. “Espaços pets que permitem deixar o bichinho de estimação receber cuidados especiais enquanto o dono passeia ou faz suas compras é um serviço cada vez mais procurado e requisitado pelos frequentadores”, exemplifica.
Vanessa Amorim é diretora de marketing da brMalls, que soma 31 shoppings, sendo 26 administrados diretamente. Ela cita que a empresa já vive o conceito de shopping do futuro, com essa tendência há cerca de quatro anos. “Os shoppings se tornaram espaços de socialização e multifamílias para atender perfis de clientes cada vez mais heterogêneos. A adequação do mall para receber os pets também segue esse olhar”, diz.
Hoje, todos os empreendimentos da rede são pet friendly e oito têm parques para os bichos: Amazonas Shopping (AM), Shopping Rio Anil (MA), Shopping Del Rey (MG), Shopping Vila Velha (ES), Villagio Caxias (RS), Catuaí Londrina (PR) e o Estação Cuiabá (MT), o mais novo do portfólio e que já foi inaugurado com um pet park em 2018.
Já o Mooca Plaza (SP) tem, além de um local com mais de 2 mil m2, uma praça de alimentação pet ao ar livre com 500 m2. “Os espaços também contam com programações próprias e já receberam sessões de adestramento, eventos juninos e bailes de Carnaval. Para 2022, a expectativa é inaugurar até sete pet parks. O próximo começa a ser construído em outubro”, adianta.
Em todos, as equipes de segurança e limpeza estão preparadas para ajudar o cliente em eventuais transtornos. E alguns empreendimentos têm carrinhos de pet que podem ser retirados no SAC. O fluxo é majoritariamente de cachorros e, eventualmente, gatos. Mas o clima cada vez mais amistoso propicia cenas inusitadas como um “porco de estimação”, no Piracicaba Shopping.
Com 19 shoppings, a Multiplan está presente em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre e Distrito Federal, e aceita a circulação de animais de estimação, sendo que, na área de alimentação, apenas cães-guia e de suporte emocional são permitidos, devido à legislação.
Da rede, o BH Shopping (MG) e o BarraShopping (RJ), têm o parCão, espaço com um circuito com minitúneis, rampas e brinquedos. E o ParkShoppingBarigüi tem o PKB Pet Place, com gramado, bebedouro e saquinho para necessidades. Além destes, a rede inaugura ainda este ano seu 20º empreendimento já com área para animais.
O olhar mais atento a esses clientes também está fora das paredes comerciais. Em São Paulo, a Multiplan revitalizou a Praça Sol Peres, no entorno do MorumbiShopping, com áreas para cães. E, ao lado do ParkShoppingSãoCaetano, a companhia tem o Parque Tom Jobim, com espaços para pets.
Sobre o tema, Rodrigo Peres, co-head de marketing, inovação e negócios digitais (MIND) da Multiplan, também acredita na importância dos espaços para pets nesse conceito de shopping do futuro como centros de experiência. “A maioria dos nossos empreendimentos tem no seu mix lojas pensadas para pais e mães de pets, entre elas varejistas com itens para diversas espécies, clínicas veterinárias e operações focadas em acessórios”, acrescenta.
Para ele, este é um fator na escolha do shopping a ser frequentado. Outro ponto importante tem sido as ações para conscientização da população. “Há muitos anos realizamos feiras de adoção de animais em vários de nossos shoppings. E temos parceria como Instituto Luísa Mell, que atua no resgate de pets em situação de maus-tratos ou abandono”.
Eventos e lazer adaptados
Quem busca opções ainda mais personalizadas encontra atrações como sessões de cinema para tutores e seus animais. Em 2019, o Cinesystem criou o CinePets, que hoje ocorre todo terceiro sábado do mês.
Sherlon Adley, diretor comercial e de marketing da Cinesystem, explica que o foco da empresa sempre foi oferecer entretenimento para a família – seja qual for a configuração. “Para que a experiência seja o mais prazerosa possível, a exibição tem a adaptação necessária de som e luz, deixando o ambiente mais agradável aos olhos e ouvidos do pet, mas sem que os humanos percam a qualidade do filme”, explica.
Em agosto, 12 dos 26 cinemas passaram a receber o projeto. No mesmo mês, nove multiplex da rede promoveram campanhas de adoção de cães e gatos, em parceria com ONGs e protetores. Adley afirma que a demanda por sessões pets tem crescido e a empresa busca novidades a cada edição, seja com feira de adoção ou parceria com empresas do ramo. “O mercado pet segue crescendo a cada ano, independentemente de crise. E sabemos o quanto as experiências ao lado dos animais de estimação são importantes para os nossos clientes”, diz.
Já a Match Sports criou há alguns anos a Pet Run, que na última edição antes da pandemia reuniu aproximadamente 250 participantes e 15 mil pessoas entre as atividades do dia. Thaiene Skrzek, executiva de contas da Match Sports, explica que, além de corrida e caminhada, a programação reúne entretenimento e informação em diversas ações como palestras, adestramento e concursos. “O mercado de corridas para pets evoluiu, mas não existe evento como o nosso. Temos programação o dia todo. As pessoas esperam para participar. Esperamos um sucesso total após a pandemia”.
A casinha agora é cãodomínio
Sendo quase minicidades, boa parte dos condomínios já considera espaço para o bem-estar animal em seus desenhos. Felipe Cunha, diretor de Incorporação da Living e Vivaz, marcas do Grupo Cyrela, que atua em SP, RJ e RS, explica que da Living, marca de imóveis residenciais de médio padrão, todos os que foram lançados neste ano já têm espaços específicos para pets. “O perfil desse público geralmente é mais jovem. Casais que acabaram de formar uma família (de 1 a 2 filhos) ou solteiros. A probabilidade de terem animais de estimação é grande. No caso da Vivaz, marca da categoria econômica da Cyrela, 90% dos empreendimentos que serão entregues possuem Pet Place nos projetos. A premissa é sempre tentar ao máximo viabilizar esses espaços”, afirma.
Para ele também, essas e e outras comodidades relacionadas são muito bem avaliados pelo cliente devido a segurança e praticidade oferecidas. E não são simples. Os locais têm área-grama, equipamentos para atividades, ponto para bebedouro, bancos para o morador ficar no local e cercado.
Em nota, a MRV informa que tem mais de 100 empreendimentos com espaços pet, em 45 cidades, e essa demanda tem sido constante na procura para compra ou aluguel. “São fundamentais para oferecer uma experiência de moradia completa”.
Na mesma linha, Guilherme Benevides, CEO da Gafisa Incorporadora e Construtora, conta que quase 100% dos seus empreendimentos já nascem com este espaço – uma prioridade na empresa. E ele não vê mudança de cenário. “Tendências como essa, de um espaço social de alta aderência e usabilidade, agregam ainda mais valor aos imóveis e qualidade de vida aos nossos clientes”, afirma. Evidenciando a amplitude do segmento, há opções diferentes vários tipos de áreas, como pet place, pet care e pet play. Eles são projetados pensando na região em que serão construídos, considerando localidade e cliente potencial.
Já a construtora Plano&Plano tem 23 empreendimentos concluídos com áreas pet friendly em São Paulo, e 55 em etapa de elaboração e construção. Além do espaço, o próximo lançamento, o Sppace Jardim Botânico, terá também pet agility e pet care. Segundo Renée Silveira, diretora de Incorporação, o investimento é um reflexo claro da tendência que “definitivamente veio para ficar”. “Notamos o crescente número de clientes com animal de estimação e os números desse segmento de mercado só crescem ano a ano, corroborando a assertividade na disponibilidade desses espaços em nossos condomínios”, afirma.
Segundo a executiva, essas opções contribuem para a decisão do cliente. Além da qualidade do empreendimento, este perfil busca diferenciais para os filhos bichinhos. “E nada mais cômodo e prático que ter uma área para brincar com seu pet no condomínio, com segurança, e outra área com equipamentos para banho, tosa e cuidados que ele necessita, tudo sem sair de casa”, avalia.
Muito além das grandes empresas, o volume de locais e atividades que estão se adaptando e nascendo para esse segmento só cresce. Uma boa fonte é o Guia Pet Friendly, feito pela jornalista e fotógrafa Cris Berger, que concentra dicas em categorias como gastronomia, hospedagem e parques.
Um dos locais com DNA pet friendly que só cresce em projeção com o público é o Cachorródromo, em SP. O local tem sistema antifugas, mais de 35 câmeras e espaço assistido por comportamentalistas. Lá os pets podem fazer até festinha de aniversário com os “aumigos”. Apresentando-se como “o maior parque indoor para cães da América Latina com a maior piscina do mundo”, o Cachorródromo explica no site que surgiu das necessidades de “ter um local para ir com os amigos e familiares onde não haveriam restrições ou privações por estarmos na companhia dos nossos cães”.
Especial Mercado Pet
– R$46,5 bi em 2021: Laços entre humanos e pets impulsionam mercado no Brasil
– Humanos e pets: o que explica a conexão que atrai cada vez mais marcas?
– Pet influencer: humor, criatividade e engajamento atraem publicidade
– Varejo aposta em diversidade de itens e investimento em tecnologia
– Criatividade e tecnologia levam marcas ao coração do pet lover
– Temática ‘pets’ cresce nas redes, gera conteúdo e alavanca negócios
– Facilitar a convivência de tutores e pets influencia decisão de consumo
– Turismo investe para atender e mimar animais de estimação
– Marcas saem do core business em busca de relação com pet lover
– PROPMARK Live recebe Família Turbo: Gudan, Blant e seus humanos