Os líderes deveriam entender que o principal skill da sua função é a comunicação. Aliás, não só os líderes, mas as pessoas, de uma maneira geral, deveriam absorver a máxima do Velho Guerreiro: “Quem não se comunica, se trumbica!”. Mas, ao contrário do que parece óbvio, não é o que está acontecendo.

Nunca houve tanto “disse me disse” e tanto desencontro de informações quanto agora. Principalmente da parte daqueles que deveriam ser os mais assertivos na sua comunicação: os líderes maiores, os que detêm o poder.

Algo que é dito hoje, é desmentido amanhã. “Não era bem assim…”, “A comunicação foi tirada de contexto…”, “Não foi o que eu disse…”. Antes de mais nada, todos têm de seguir fielmente o princípio da boa comunicação: “Se alguém não entende sua mensagem, a culpa não é dele, é sua!”. Já vi muito dirigente afirmar: “Esse pessoal é burro! Não entende nada do que eu digo!”. Desculpe-me quem faz tal afirmação, mas, se isso acontece, o burro é você!

Na comunicação, não vale o que você diz, vale o que o outro escuta. Comunicação é coisa séria! É sabido que mais de 2/3 dos problemas, sejam eles de qualquer natureza, são decorrentes de uma má comunicação ou da ausência dela. Nada deixa os liderados mais perdidos do que uma comunicação deficiente.

Nesses momentos de pandemia então… Se o próprio governo é errático na sua comunicação, abre-se o espaço para aventureiros que, por convicção, maldade ou ainda por motivos escusos, desandam a postar informações desencontradas.

Cloroquina salva! Cloroquina mata! Isolamento horizontal! Isolamento vertical! Jovens não sentem! Todos sofrem! Os governantes, os líderes empresariais e institucionais deveriam ter a seu lado os melhores recursos de comunicação. Mas, inexplicavelmente, esse tema não recebe a devida importância.

Principalmente em momentos de crise, muitos acham que o primeiro recurso a ser cortado é o de marketing, comunicação. Ledo engano! Se os líderes institucionais não o fazem, cabem às empresas preencher esse vácuo e estabelecer interlocução com seus públicos, de forma continuada e eficaz. É preciso continuar comunicando, mesmo – ou até mais ainda – nos momentos adversos.

Há ainda a forma da comunicação e seus meios. A proliferação de meios digitais trouxe a falsa impressão de que é possível substituir os meios tradicionais, que passaram a ser vistos como anacrônicos.

Está provado que não se consegue cobertura e impacto ideais somente pelos meios digitais. Deve-se considerar ainda a efemeridade das mensagens online, além do
ambiente disperso e muitas vezes beligerante das redes sociais. Há momentos em que a mensagem precisa ter seu peso e formalidade.

Um exemplo emblemático foi o caso
do manifesto do fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, quando acusado de mau uso dos dados dos seus usuários. O meio utilizado pelo magnata da internet foram os jornais. Isso mesmo: anúncios pomposos, veiculados nos principais jornais dos EUA. E ele não estava errado.

Apesar de ser um dos maiores players da internet, ele sabe (foi bem orientado) que o “preto no branco” dos jornais confere mais peso à mensagem. Na questão da cobertura, não dá para prescindir da televisão aberta para falar com todos no Brasil. Apesar do crescimento vertiginoso, a internet ainda não está presente na vida de mais de um quarto dos brasileiros.

Não se escolhe o meio somente por afinidade ou por simpatia, a definição de um plano de mídia é algo que deve ser feito por profissionais gabaritados e não por curiosos ou por parentes “com jeito pra coisa”. E finalmente vem a forma.

A deflagração dos bastidores de uma reunião entre os componentes do grupo que supostamente deveria dar o exemplo a todos escancarou a deficiência e o nível assombroso da comunicação do líder supremo com seus liderados. Um show de horrores que evidencia, de forma escabrosa, toda essa baixa qualidade de comunicação. Quem não se comunica…

Alexis Thuller Pagliarini é presidente-executivo da Ampro (Associação de Marketing Promocional) – alexis@ampro.com.br