A cena do embate entre índios e soldados da Polícia Militar de Brasília, com os primeiros atirando flechas e estes jogando bombas de efeito moral para se defender e impedir o avanço dos tapuias, lembrou filmes do antigo faroeste americano, com destaque para Forte Apache, com inesquecível interpretação de John Wayne.

A pergunta que não quer calar é se o nosso país voltará aos recentes tempos de um passo à frente e dois para trás.

Estamos tentando sair de uma profunda crise política e econômica, que nos deixou sequelas até hoje incuráveis, e quando se tem a esperança de que começamos a melhorar com o avanço da Lava Jato e da exposição pública das delações premiadas, que têm nos revelado inúmeras surpresas (embora outras nem tanto), paralisa-se o país em um período já prolongado de feriados.

Os próprios articuladores da manifestação de sexta-feira, 28, evitaram falar abertamente em greve, pois sabem que esta depende de assembleias de trabalhadores, o que não houve. Ficou bastante claro para os brasileiros de bom senso, que se tratou de um movimento político, com motivações que nada têm a ver com aqueles que verdadeiramente trabalham.

A propósito, cabe um registro ao desafio do prefeito de São Paulo, João Doria – o único grande fato novo na política brasileira nos últimos meses –, que, ao ser entrevistado pela Jovem Pan na manhã do dia da manifestação, revelou ter tomado conhecimento de um plano de lideranças sindicalistas, tentando interceptá-lo no caminho entre a sua residência e a sede da Prefeitura, no centro de São Paulo.

A ideia final era impedir a sua entrada no edifício do Viaduto do Chá.

O plano esquentaria o noticiário da manifestação logo cedo, mas João Doria chegou às 6h30 na sede da municipalidade, enquanto seus “perseguidores” somente por volta das 9h, provocando no jovem prefeito o recado aplaudido pela grande maioria da população que o elegeu: “Da próxima vez, acordem mais cedo, seus vagabundos”.

A quem interessa essa manifestação que atrapalhou todo o país? Se a proposta era a de um protesto pela reforma trabalhista, já aprovada em primeira votação pela Câmara Federal, deduz–se, para quem leu com atenção o projeto de lei, que o fim do imposto sindical obrigatório está no âmago da questão.

Porque não há no texto do projeto nada que prejudique o trabalhador, nem mesmo o explorado artigo da concessão das férias anuais em três etapas. Aliás, o fracionamento das férias é benéfico também aos trabalhadores. A grande e inegável verdade é que uma quantidade incalculável de dirigentes sindicalistas sabe que o fim do imposto sindical obrigatório fechará a grande torneira que irriga suas “propriedades” indevidas, fortalecendo-as financeiramente para todo tipo de destino, onde o menor deles é assegurar proteção aos sindicalizados.

Contam para isso com a benevolência do ex-presidente da República, hoje às voltas com a Justiça Federal de Curitiba, que vetou, no seu segundo mandato, item de projeto de lei que, dentre outras providências de interesse do país, obrigava os sindicatos de trabalhadores a prestarem contas das suas receitas aos Tribunais de Contas respectivos.

Nossa crença é a de que essa manifestação extemporânea teve um efeito contrário no raciocínio dos trabalhadores brasileiros. Uma vez mais perceberam que seus pseudolíderes não passam de meros aproveitadores de situações de tumulto, previamente engendradas para aumentar suas múltiplas formas de auferir benefícios próprios.

O faroeste brasileiro do nós contra eles está prestes a terminar.

 

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O mercado publicitário brasileiro foi agitado nos últimos dias pelo furo-denúncia da Folha – um jornal verdadeiramente pluralista – antecipando os resultados da concorrência do Banco do Brasil, para a escolha de uma agência de propaganda, para cuidar de uma parte da sua verba total publicitária, estimada (essa parte) em R$ 500 milhões.

Muito se falou sobre o caso, que repercutiu na imprensa nacional. Contou-se um pouco da história da vencedora Multi Solution (ainda dependendo no caso de uma confirmação do anunciante, que já se manifestou sobre os critérios técnicos da escolha), da sua falta de experiência em atender contas do setor público, de não ser filiada à Abap e de ocupar uma posição um pouco inferior ao trigésimo lugar no ranking das agências que operam no mercado publicitário brasileiro.

Falou-se também no seu crescimento após a conquista da conta publicitária da cerveja Itaipava, do Grupo Petrópolis, citada na delação de executivos da Odebrecht, como canal de distribuição do caixa dois para partidos políticos.

Falou-se, inclusive, e em tom depreciativo, no fato de Pedro Queirolo, titular da Multi Solution, ser piloto de corrida. O que não se falou até aqui, nem a título de mera especulação, é como se chegou aos resultados da concorrência antes da data prevista para a sua divulgação.

Que a Folha tenha omitido como obteve o seu furo, é perfeitamente compreensível. Mas a falta de investigação dos demais parceiros da grande imprensa sobre uma decisão do principal banco oficial brasileiro, que aparentemente envolve outros interesses políticos, é de se estranhar.

A mídia do trade foi até onde alcança o seu trabalho especializado. 

A grande mídia ficou devendo.

 

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Este Editorial é uma homenagem a Julio Ribeiro, pela coragem e determinação de voltar ao mercado, abrindo a JRP e lembrando ao público alguns dos princípios básicos que sempre o nortearam nas agências anteriores.

Alguns deles, citados no primeiro anúncio da nova agência: nunca abrir mão de ética e transparência, não aceitar contas de cigarros, bebidas destiladas, armas ou governo e dedicar talento e criatividade para poucos clientes. 

Armando Ferrentini é presidente da Editora Referência, que publica o PROPMARK e as revistas Marketing e Propaganda