O novo site do IMP (Instituto Maria da Penha) foi criado após a análise de mais de dois mil depoimentos postados na internet por mulheres em situação de violência. O estudo foi feito pela F.biz com mais de 50 profissionais da agência trabalhando voluntariamente.
O trabalho começou pela análise de notícias sobre as vítimas. O estudo concluiu que a mulher encontra a frieza dos noticiários e falta de suporte ao procurar ajuda na internet, e que os relatos não são expostos em redes tradicionais e sim de forma anônima.
Renata d’Ávila, CSO da F.biz, conta que então começou o desafio de descobrir onde as mulheres contavam as suas histórias e buscavam apoio. “Deixamos de lado as ferramentas convencionais de pesquisa e utilizamos um método de raspagem de dados e tratamento das informações feito a partir de planilhas e do Gephi”, explica.
A pesquisa usou contextos ligados ao universo da violência doméstica, como “meu marido me agrediu” e “estou com medo do meu esposo” , e localizou sites e fóruns utilizados como canais de desabafos.
O passo seguinte foi montar uma rede de palavras. Quanto maior o tamanho da letra, maior é a frequência com que o termo se repete. Já a proximidade indica as expressões que aparecem juntas mais vezes. A palavra “inferno” é usada para descrever o ambiente doméstico cercado por álcool e xingamentos. São apontados ainda violência psicológica; traição; conselho; paciência; religião; denúncia; e separação.
O projeto envolveu cerca de 50 profissionais da agência, que trabalharam voluntariamente durante cerca de dois meses para transformar o site em referência de informações sobre violência doméstica no País.
“Refizemos o site a fim de que as pessoas possam encontrar um ambiente de acolhimento e amparo às vítimas, seus familiares e amigos. Com pesquisas, relatórios e um campo especial para doação, vamos contribuir para que o Instituto siga ajudando a transformar o cenário de violência no Brasil”, comenta Renata, que apoia a causa há quatro anos e que tomou a iniciativa de rever todo o conteúdo do site.
O portal entrou no ar em 25 de novembro, Dia Internacional de Combate à Violência Contra as Mulheres. A data faz parte do calendário da campanha “16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres”, uma mobilização global da sociedade civil que, no Brasil, acontece entre o dia 20 de novembro, Dia Nacional da Consciência Negra, e 10 de dezembro, Dia Internacional dos Direitos Humanos.
O projeto tem duas frentes, a de conteúdo e a de iniciativas de suporte. O novo site tem três áreas principais: Preciso de ajuda (Lei Maria da Penha e O que é violência doméstica); Quero entender (Ciclo da violência e Tipos de violência); e Quero conhecer (Quem é Maria da Penha e O Instituto).
Ele ainda traz a história de Maria da Penha Fernandes, fundadora e presidente do IMP, que sofreu duas tentativas de assassinato pelo marido. A primeira, com uma arma de fogo, que a deixou paraplégica. Na segunda, ele tentou eletrocutá-la no banho. Maria da Penha o denunciou e, em 2006, deu o seu nome à lei que trata da criminalização dos casos de violência doméstica no Brasil.