Alê Oliveira

Não sei você, mas às vezes eu fico com a impressão de que o homem, como espécie, parece ter caído numa armadilha que só o distancia da felicidade. A definição de felicidade é complexa, mas, vendo de um jeito simplista, trabalhar menos, ter mais tempo para se divertir em um ambiente seguro, leve e amigável e garantir a liberdade de fazer aquilo que dá mais prazer do que obrigação seria um bom caminho, não? Estive mais encucado com isso um tempo. Li bastante a respeito – não os livros de autoajuda do tipo “como ser feliz”, mas estudos isentos como “Felicidade”, de Eduardo Gianetti. O economista-filósofo reuniu amigos que não via há muito tempo para discutir a felicidade.

O fio condutor principal do livro é o Iluminismo – e as suas promessas de felicidade –, que traria o progresso nas ciências e nas artes, permitindo aos homens exercer um amplo domínio sobre a natureza. Poderíamos, guiados pelo conhecimento, calcular com precisão os meios necessários para evitar a dor e alcançar o prazer.

A razão iluminista nos permitiria aperfeiçoar nossa natureza. Dentro de pouco tempo, viveríamos num mundo mais justo, orientado por acordos racionais, gozando os benefícios de uma paz perpétua. Mas o fato é que vieram a ciência e a técnica, mas não veio a felicidade.

O mundo nunca foi tão injusto e a paz nunca esteve mais distante do que hoje. Os personagens de “Felicidade” queriam saber por quê. Um deles ficou incumbido de pesquisar o que aconteceu com alguns dos ganhadores de grandes prêmios de loteria. E a constatação corroborou a máxima de que dinheiro não traz felicidade.

Depois da euforia e de todas as compras proporcionadas pelo dinheiro fácil, quase sempre, vem a depressão de perceber que não dá para comprar a felicidade. É claro que o dinheiro é importante e o livro conclui que, de acordo com estudos, a felicidade de se poder comprar a casa própria e ter um bom carro, por exemplo, é sólida. Mas, passado esse estágio, é difícil garantir mais felicidade por comprar mais casas e mais carros. Procurei conhecer melhor os princípios do FIB – Felicidade Interna Bruta, um contraponto do Ser, em vez de Ter. Fui ouvir o que tinha a dizer a carismática Susan Andrews, embaixadora do conceito FIB no Brasil. Participei de um dos programas do Instituto Visão Futuro, liderado por ela em Porangaba, interior de São Paulo (aliás, recomendo fortemente). Mas aí vem o dia a dia e a inescapável realidade de que precisamos correr atrás do dinheiro para garantir a manutenção de um padrão de vida que, voltando à primeira frase deste artigo, parece uma armadilha difícil de sair.

Você deve estar se perguntando o que deu neste colunista com esse arroubo filosófico. Pois bem, o que me faz abordar esse tema foi o fato de ele ter aparecido numa sessão de Design Thinking coordenada pela Fenapro, pretendendo descobrir caminhos da sustentabilidade das agências de propaganda no Brasil. Um dos grupos participantes da sessão paulista (outras sessões estão sendo realizadas pelo país) destacou a necessidade do resgate da felicidade dentro das agências de propaganda.

De fato, quando iniciei minha carreira em propaganda, me deparei com o manual de integração de uma grande agência que terminava com a seguinte frase: “E, além de tudo, divirta-se, porque essa nossa profissão pode ser também muito divertida”. Não era uma promessa vã. Trabalhava-se muito numa agência, mas divertia-se também com a possibilidade de se gerar ideias e soluções criativas que mudavam a história de empresas e produtos. Era um ambiente quase histriônico, é verdade, mas, no fim do dia, íamos para casa com um sorriso nos lábios. Em algum momento isso se perdeu.

De uma maneira geral, as agências, pressionadas por clientes mais exigentes, foram se tornando mais sérias, caretas, e o que vemos nos seus corredores são rostos crispados e expressões de preocupação. Está certo que o momento atual carrega mais os ambientes, mas será que não pode ser diferente? Será que não conseguimos resgatar esse ambiente criativo, inspirador e até divertido dentro das agências?

Parece que o mundo digital “roubou” isso das agências. Vemos esse ambiente agora em empresas como Google ou Facebook, por exemplo. É um bom ponto para reflexão. Não que tenhamos de deixar de lado toda a seriedade que a propaganda, como ferramenta estratégica, deve ser tratada. Mas acho que dá para sermos mais felizes, não?

Superintendente da Fenapro e VP da Ampro