Sócio e diretor de criação da Gana convida mercado a priorizar referências brasileiras
O sócio e diretor de criação da Gana, Felipe Silva, transmitiu um alerta para as agências de propagada brasileiras durante a 8ª edição do RD Summit, evento de marketing e vendas realizado pela startup de marketing digital RD Station em Florianópolis (SC) entre os dias 26 e 28 de outubro.
No painel intitulado A publicidade do Brasil não gosta do Brasil, Silva critica o privilégio de referências estrangeiras em detrimento de manifestações artísticas genuinamente brasileiras. Nascido no Morro de Santo Inácio, em Niterói (RJ), o redator deixa a sua análise após 16 anos de carreira.
“Veio um olhar crítico para tudo o que a propaganda está construindo. Percebo uma dualidade entre o que se cria e o que é para o nosso povo”, observa Silva. Ele lembra que a propaganda brasileira está entre as três mais premiadas do mundo, legado que vem da conquista de prêmios nos principais festivais internacionais como Cannes Lions, One Show e D&AD.
“Porém, quantas pessoas conhecem esses trabalhos? O brasileiro não é muito interessado na propaganda que ganha prêmio lá fora”, constata Silva. Na ânsia de ganhar o reconhecimento de colegas em outros países, os profissionais concentraram esforços em ideias passíveis de serem entendidas pelos jurados.
“As referências passaram a ser o design alemão, o jeito norte-americano de contar histórias, o humor inglês, o cinema iraniano. Fomos deixando para trás tudo o que é brasileiro. O nosso país é tropical, colorido. Mas copiamos a linguagem europeia, sem cor”, lamenta.
O publicitário se queixa ainda do uso de hits norte-americanos, enquanto o funk e o sertanejo dominam as playlists nacionais. Outro exemplo é a releitura da novela Pantanal, da TV Globo, citada por Silva como o maior case de engajamento dos últimos tempos. “Cerca de 70% do nosso público assiste novela e ouve funk, mas insistimos em criar para jurados de prêmios”, reclama.
A agência Gana, no mercado há pouco mais de uma ano, é autora do podcast Mano a Mano, com o rapper Mano Brown e Spotify, que “traz as conversas que o país precisa”, frisa Silva. “Não adianta fazer propaganda de carro elétrico se a população ainda não tem acesso a esse tipo de veículo, não há conexão com o brasileiro”, emenda Felipe Silva, que é co-fundador da Gana ao lado de Ary Nogueira.
A lacuna entre a propaganda criativa e a comunicação feita no dia a dia deixa uma reflexão para o mercado. “Vamos retomar o que é do Brasil, deixar os estereótipos e trazer as nossas referências para o conteúdo, levando-as à linha de frente da propaganda”, convida Felipe Silva. De acordo com Silva, o mercado, pessoas e países são diferentes. A saída é ter um pensamento global com conexão local, valorizando a riqueza cultural de cada região.
Experiência
No painel A era da experiência do cliente, o CEO da Braip/ KPG, Shirleyson Kaisser, lembra que as marcas precisam se preocupar em estabelecer um propósito para o produto ou serviço ofertado e não apenas na venda. “A entrega vai além do que a pessoa espera”, orienta.
Apple, Outback e Harley Davidson são alguns exemplos mencionados por Kaisser. “São marcas que aprenderam a se comunicar pelo ‘porquê’ e não pelo ‘quê’”, complementa.
O executivo resgata da neurociência os fundamentos para estratégias bem-sucedidas. Ele explica que o cérebro bloqueia apelos de vendas incisivos, mas acolhe mensagens associadas a emoções. “Isso explica o motivo pelo qual há marcas veneradas. Você vai vender muito mais sem tentar vender”, insiste.
Palco
O RD Summit retorna em formato presencial após dois anos, com a expectativa de receber cerca de 11 mil pessoas, gerar 180 horas de programação, e receber 130 palestrantes. Retargetly, Tag Center, Braip, Hubify, iPlace Corporativo, Octadesk, Umbler e Vindi estão entre os patrocinadores. Com 4.505 metros quadrados, a feira de negócios reúne 80 marcas.