Nuvens negras nos céus da Coreia do Sul, 1981. Lei Marcial de volta. Já que não conseguiram ressuscitar o ditador militar Park Chung-Hee, ressuscitaram a lei. Do Won e Jin Sook decidiram pular fora.
Hoje, 45 anos depois, figuram na lista dos bilionários de Forbes. 790 lojas em 48 países. Forever 21 ou Forever até 2021?
Chegaram a Los Angeles, onde já morava a irmã de Do Won, num sábado. Ele, com 22 anos, e sua mulher, Jin Sook, com 25. Do Won comprou um jornal, descartou o editorial e foi direto à página de empregos.
Na segunda de manhã já estava empregado na cozinha de uma lanchonete lavando pratos. US$ 3 a hora: “Meu sonho era me mudar de armas, alma e bagagens para os Estados Unidos. Eu sempre pensava, no próximo mês vou, no próximo mês vou e, finalmente, fui. Ou, melhor, vim”.
Em três anos, o casal economizou US$ 11 mil. Em 1984, abriu a primeira loja, com menos de 100 metros quadrados de área. Fashion 21. 21 do dia da inauguração, 21 de abril. Diferencial de exclusividade, produtos de boa aparência por preços inacreditáveis.
Fila nas lojas todos os dias. Anos depois, e apostando na perenidade, rebatizou-se. Saiu Fashion, e entrou Forever. Forever 21. E bem antes do que o casal imaginava, fincou sua bandeira numa loja de nove mil metros quadrados, na Times Square, o mesmo local onde reinou um dia a falecida Virgin.
Do início do ano para cá, a Forever 21 começou a atrasar o pagamento de seus fornecedores.
O movimento nas lojas declinou de forma sensível e inesperada.
Nos cadernos de economia dos principais jornais do mundo uma mesma notícia: Forever 21 is in Financial Trouble. No New York Post, “atraso nos pagamentos leva Forever 21 a uma decisão surpreendente – fechar duas de suas principais lojas na Califórnia”.
Segundo o Wells Fargo Bank, a empresa corre atrás de fundos para suprir seu debilitado caixa. E alguns de seus fornecedores só atendem novos pedidos desde que o anterior seja quitado.
Forever até 2021? Quem sabe, provável. Estressou o modelo. JFF – Junk Fast Fashion. Um modelo absolutamente desconectado com as linhas por onde passará o futuro. Exauridos e extenuados pela moda das próximas horas, consumidores reconsideram a suposta felicidade do bonito e barato.
Voltam a apostar no menos é mais. Que é preferível usar o mesmo dinheiro para comprar menos roupas de maior qualidade, que, portanto, durem mais.
Se resistir até 2021 a Forever 21 descobrirá, tardiamente, que forçou a barra, que radicalizou em sua política e ultrapassou o limite inferior.
Que confere honras, glórias e alguma grana no curto prazo, mas não se sustenta mais adiante.
A morte é inerente à vida. Todas as espécies, mais cedo ou mais tarde, sem exceção, um dia, partirão. Mas, enquanto não chegue esse dia, devem se esmerar em busca de uma impossível perenidade.
No caso das empresas, empresas feitas para durar, não apenas para um brilhareco de poucos anos ou décadas de vida.
Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing