“Uma indústria que vive de gente tem de estar focada em recursos humanos e essa é a minha maior obsessão”. A frase é de Nizan Guanaes, chairman do Grupo ABC, que emprega nas suas 15 empresas, entre as quais as agências Africa e DM9DDB, cerca de dois mil profissionais. E a missão nesses tempos de margens mais apertadas, subtração de investimentos e diminuição de quadros executivos é priorizar a experiência, ou senioridade, de quem fica no time ou que vai chegar. “A revolução que o Grupo ABC fará nos próximos anos está fundamentada em dois pilares cruciais: cultura e compliance. E, nos dois casos, recursos humanos são fundamentais. Cuidar de pessoas e da cultura do grupo será uma das minhas principais tarefas. RH é tão importante que precisa ser papel de todos os líderes de uma organização. Sobretudo dos fundadores, para que seja perene”.

A executiva Graziela Di Giorgi, diretora da Scopen, nova marca do Grupo Consultores, já percebera na pesquisa Agency Scope de 2014 uma tendência de seniorização nas estruturas das agências. “Isso não significa idade avançada. É conhecimento estratégico em combinação com criatividade, pensamento de longo prazo e muita inovação. Acredito que as agências estão em busca de profissionais com experiência em várias marcas porque certamente já vivenciaram vários desafios. O digital exige um pessoal mais novo, mas não adianta pensar em uma ideia legal se não for exequível. É nessa hora que os seniores ganham relevância”, raciocina.

Para o publicitário Luiz Lara, chairman da Lew’LaraTBWA, o critério que deve orientar em gênero, número e grau é o talento. “A escolha do profissional é alicerçada no talento e decidida pelo comprometimento, pela identificação com valores e o jeito de ser para fazer a cultura da agência”, observou Lara. “Os processos seletivos tornaram-se mais criteriosos, com perfil mais estratégico e de alto comprometimento”, resumiu Luiz Leite, CEO do Grupo Ogilvy.

As estatísticas apontam um crescimento do desemprego no país e a exigência de maior qualificação na hora de contratar é um corte pontual porque não há tempo para treinamento e o custo desse processo tem sido deletado pelos gestores financeiros. As principais agências têm promovido demissões diante do cenário e a receita para reposição é mixar madureza, capacidade intelectual e visão estratégica.

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“Líderes seniores gerenciando jovens de talento asseguram oxigenação e a renovação consistente da agência. O conhecimento consolidado do dia a dia do negócio é uma competência fundamental e, neste caso, é extremamente relevante. Atrair e manter os talentos de acordo com estratégico da agência e com isso proporcionar o equilíbrio de jovens de alto potencial com líderes capacitados. O profissional deve manter o foco no trabalho e buscar ferramentas de desenvolvimento. Além de manter o seu atual emprego, estar disposto a ousar e a se aprimorar continuamente para estar melhor preparado, se for o caso, para aumentar a sua empregabilidade no momento de crise”, explicou Sandra Dunes, diretora de RH da FCB Brasil e América Latina. “Se a necessidade está, por exemplo, no aprimoramento digital da agência, as contratações devem estar totalmente alinhadas ao perfil desejado para a agência alcançar os seus objetivos”, acrescentou.

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Leila Funfas, gerente de RH da Mullen Lowe Brasil, ressalta que a redução de custos não pode diminuir a produtividade. Pelo contrário. “Não contratamos um profissional de mercado sem antes avaliar se temos alguém internamente que possa ocupar a posição. Quando este movimento não é possível, vamos atrás de profissionais inquietos, aqueles que têm o desejo tão grande de crescer quanto o nosso. Dizemos internamente que queremos aqueles profissionais que nos assustam, porque a mediocridade nos assusta ainda mais”, argumentou. 

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Para Camila Almeida, diretora de gestão de pessoas da Africa, o básico é buscar talento, qualificação, comprometimento, competência e interesse na cultura interna. “A senioridade ganha relevância. Profissionais com maior autocontrole, equilíbrio, experiência e inteligência emocional são pontos fundamentais em períodos atípicos. Flexibilidade de adaptação a novas diretrizes e visão de dono são características que buscamos na senioridade. É nessa hora que precisamos produzir mais com menos”.