Liberdade de expressão comercial: é este o principal valor defendido pelo Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária) desde sua fundação, em 1980. Mas a missão parece cada vez mais difícil, como sugere Gilberto Leifert, presidente da entidade desde 1998. O executivo ministrou, na noite da última quinta-feira (28), uma palestra para um seleto grupo de associados da APP (Associação dos Profissionais de Propaganda), que também pode ser vista via web por estudantes de diversas universidades, sob o tema “Leis demais, mau humor e intolerância. Está cada vez mais difícil para o profissional de propaganda”.
Em sua apresentação, Leifert ressaltou, sobretudo, a quantidade de entidades, políticos e até blogs e pessoas comuns dedicadas a tentar legislar sobre mercado publicitário, na maioria das vezes sem qualquer embasamento, argumento ou clara visão da atuação como um todo. “O Brasil tem hoje uma propaganda conhecida por sua criatividade e respeitada por sua seriedade. Mesmo assim, somos impactados diariamente pela intolerância e pelo mau humor. Temos leis demais, o Estado é extremamente invasivo muitas vezes e o público tem uma visão ignorante sobre o quesito liberdade”, pontuou.
O presidente enfatizou que o trabalho do profissional de comunicação publicitária depende do imaginário para ser efetivo e que o esforço por controlar o que pode ou não ser dito ou abordado em uma campanha acabam tolhendo não só a criatividade, mas a liberdade em si de divulgar e apresentar produtos e serviços. “Não querem permitir a licença à fantasia – nem nas novelas, onde os patrulheiros controlam cada ato que não tenha total ligação com a realidade. E a propaganda se serve exatamente do sonho para fazer seu trabalho. Temos que escolher as palavras e evitar comparações a todo momento”, lamentou.
Outro ponto que Leifert fez questão de salientar é que a propaganda não deve receber o peso de educar e controlar o que a população consome ou não, bem como não pode ser obrigada a falar mal de seus próprios produtos, como se uma empresa cometesse um crime ao anunciar seus produtos e serviços. “Todos os produtos lícitos podem ser anunciados. Se algo está disponível na prateleira do supermercado, seu consumo é seguro. Não é a propaganda que é nociva à saúde, mas sim o uso individual abusivo de alguns desses produtos. Os comunicadores e a mídia têm sim responsabilidade com a educação da população, mas nunca podem substituir os pais. São eles quem devem decidir o que vai à mesa, o que seus filhos vão ou não consumir e quais as quantidades. Se o governo quer utilizar a propaganda para conscientizar e educar, que o faça como anunciante, já que é o maior do País”, aconselhou.
Reforçando que o trabalho do Conar é fazer valer normas éticas e considerações decididas por representantes de cada um dos setores de anunciantes, o presidente lamentou a insistente tentativa de alguns representantes do poder legislativo e de entidades como a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) de restringir e até proibir a atividade publicitária em alguns segmentos, citando os mais de 200 processos em trâmite no Congresso. Por outro lado, comemora: “As reclamações a órgãos competentes contra a propaganda brasileira que apresentam alguma fundamentação não ultrapassam 1% do volume total. Quanto às tentativas de leis, emendas e normas que tentam ferir a liberdade de expressão comercial, felizmente tem prevalecido o bom senso”.
por Karan Novas