Marco Túlio Pires, coordenador do Google News Lab no Brasil: “O futuro do jornalismo é imprescindível para o futuro do Google” (Divulgação)

O Brasil vive a pior fase da pandemia da Covid-19 com mais de mil mortes diárias e colapso iminente no sistema de saúde de diversos estados. Conteúdos relativos à saúde – que incentivem as pessoas a ignorarem tratamento médico ou que promovem substâncias nocivas à saúde – estão entre os campeões de desinformação.

Em um momento em que as pessoas buscam cada vez mais conteúdos confiáveis, o jornalismo feito a partir de bases de apuração idônea ganha importância, alavancando o apoio de gigantes da tecnologia. “Trabalhamos há quase 20 anos de forma colaborativa para um jornalismo saudável. Precisamos cuidar para que o jornalismo prospere a fim de que a pessoas continuem utilizando a máquina de busca para encontrar informação de qualidade. O futuro do jornalismo é imprescindível para o futuro do Google”, lembra Marco Túlio Pires, coordenador do Google News Lab no Brasil.

Segundo ele, o Google vem ajudando na construção de audiência e valor econômico para as redações enviando milhões de usuários para os sites noticiosos. “Temos mais de 24 bilhões de cliques que acontecem todo mês a partir das buscas das pessoas para encontrar jornalismo de qualidade”, diz Pires.

O executivo cita um estudo da Deloitte, que fez um cálculo econômico para os publishers mostrando que cada clique equivale a um valor médio de quatro a sete centavos. “Também ajudamos essas organizações a terem um crescimento econômico por meio da monetização nas plataformas de anúncios. Só em 2018, já compartilhamos US$ 14 bilhões com os publishers que são nossos parceiros em todo o mundo, um crescimento de 12% em relação a 2017”, declara Pires.

De acordo com o coordenador do Google News Lab no Brasil, os publishers ficam com 95% da geração de receita gerada na plataforma de anúncios do Google. Pires menciona ainda o papel do Google News Initiative (GNI), lançado em 2018 com investimento de US$ 300 milhões, além do Google News Show Case – no Brasil, “Destaques” – que deve somar um aporte de mais US$ 1 bilhão nos próximos três anos globalmente. O programa de licenciamento de conteúdo foi anunciado em junho de 2020 e começou a operar quatro meses depois, começando pelo Brasil e Alemanha.

Segundo o Google, já existem mais de 30 veículos participantes do “Destaques” e o avanço do projeto ajudará a potencializar os esforços de combate à desinformação, na esteira do acordo que acaba de ser assinado entre o governo da Austrália e os publishers daquele país. O acerto prevê o que o Google e o Facebook paguem pela publicação de notícias em suas plataformas, puxando um movimento reclamado há tempos pelas redações.

Nova campanha

Peças da campanha que ensina os usuários a identificarem conteúdos enganosos (Divulgação)

O Google lança uma nova etapa no seu programa de combate à desinformação. As ações partem de insights extraídos de pesquisas internas realizadas no fim de 2020 que apontaram a necessidade de ensinar as pessoas a identificar informações falsas.

De ensinamos compilados desde 2018, veio um guia sobre mitos e fatos, que pode ser visto no site da ação sintetizando de uma forma direta e didática o processo que a pessoa deve seguir para fazer a rápida verificação das informações encontradas na plataforma. Os quatro passos principais sugeridos pelo Google são: pause, investigue a fonte, busque informações mais completas e conheça o texto.

A parceria com o Educa Mídia, programa do Instituto Palavra Aberta criado para capacitar professores e organizações de ensino, e engajar a sociedade no processo de educação midiática dos jovens, ajuda a intensificar a ação. “Ajudamos as pessoas a exercerem o seu raciocínio cívico na internet”, comenta Pires.

Além desse material, o Google também explica como a informação chega e é tratada na plataforma tomando o cuidado de detalhar, por exemplo, os critérios para a remoção de conteúdos, que acontece em situações específicas de violação das políticas defendidas pela plataforma. A preocupação é afastar interpretações equivocadas. Pires conta que 67% dos brasileiros entendem que controlar postagens pode ser visto como um tipo de censura.

“Usamos uma série de visualizações mostrando como cuidamos das informações. Se todo o ecossistema não estiver saudável, o usuário não encontra informações de qualidade e a plataforma perde confiança”, resume Pires.

Só em 2019, mais de 30 mudanças aconteceram no YouTube para reduzir conteúdos que infringem as diretrizes da plataforma. “Tentamos baixar esse tipo de conteúdo para menos de 1%”, garante Pires.

Remover (conteúdos que desrespeitam as regras da plataforma), recomendar (fontes confiáveis), reduzir (a propagação de informações potencialmente prejudiciais) e recompensar (publishers que geram conteúdo de qualidade) são os pilares da estratégia de combate à desinformação do Google.

Balanço

O Google removeu mais de 30 milhões de vídeos do YouTube por violação das diretrizes da comunidade em 2019. Outros 2,7 bilhões de anúncios foram bloqueados ou retirados globalmente. No Brasil, anúncios de mais de 600 mil páginas e de 16 mil domínios também foram suspensos por violação de políticas entre abril e junho de 2020.

Também foram excluídos mais de 75 milhões de comentários indevidos do Google Maps, além da emissão de cerca de 3,7 mil pedidos de relatórios contendo dados sobre remoções de conteúdo ou solicitações de informações de usuários feitas por autoridades governamentais.