É assim que chego à agência todos os dias, dando um belo e alto bom dia a todos, ou cantarolando uma música qualquer. Sim, sou brasileiro e não desisto nunca. Diferente dos americanos, somos um povo cheio de energia, mais expansivos e mais “sonoros”, vamos dizer assim. E é o que tento manter neste país, para seguir em frente de cabeça erguida e mostrar um pouco como a gente realmente é. Você vai embora do Brasil, mas não pode deixar o Brasil ir embora de você.
Eis aqui um pouquinho do mercado americano por um brazuca apaixonado. Trabalhar nos EUA é fabuloso, principalmente em termos de verbas e produções. Um dia você filma com o cara que já teve indicação ao Oscar e alguns Emmy’s, no outro está editando ou fazendo o sound design com o queridinho do Tarantino que o ajudou em Pulp Fiction. Para filmar uma cena qualquer, fecha-se o bairro todo e é caminhão de produção para tudo quanto é lado. Seu trabalho vai ser visto no país inteiro, quiçá no mundo todo. Criar sabendo que você terá toda essa magnitude dá um tesão incrível. Sim, aqui o negócio é sério. Mas às vezes, até sério demais.
O americano é um povo que se leva muito a sério, não quebra regras (de forma alguma), é muito metódico e disciplinado. Aqui, não adianta “dar um jeitinho”. Talvez seja por isso que o País é a primeira potência do mundo. Mas, e na publicidade, isso ajuda ou atrapalha? E aí, como fica a ousadia, o risco de meter aquela ideia maluca na rua sem noção do resultado? Chega a ser agonizante para o brasileiro – ao mesmo tempo que se tem tudo do bom e do melhor, gente podando é o que não falta. Muita cena (ou até uma ideia inteira), deixa de ir pro ar porque o ‘Legal’ barrou. Só para citar um exemplo: nosso último filme para University Of Phoenix, que conta a história de uma mulher negra americana a fazer parte do primeiro time feminino de basquete nas Olimpíadas, teve sua cartela alterada no final de Olympic Athlete para World Champion, porque senão a NBC, detentora dos direitos das Olimpíadas, poderia recusar o comercial. Na versão estendida on-line, em que a nossa heroína diz “em 1976, batemos a República Tcheca e levamos a medalha de prata pra casa”, a frase teve que ser editada porque se ‘refere’ às Olimpíadas. Peraí, mesmo não citando a palavra, mesmo indo ao ar depois das Olimpíadas, num ambiente digital, temos que alterar a frase? Sim. Mas…NO!
Bom, a gente sofre, mas tenta evitar. Um outro exemplo foi nosso trabalho para UNICEF – “Unfairy Tales”. Quando chegou o briefing (ajudar as crianças refugiadas), o escondemos das burocracias, tiramos dos processos, e não mostramos para o ‘Legal’ em nenhum momento. Era pro-bono, então tínhamos mais controle. Well… Ganhamos o Grand Prix for Good em Cannes este ano. Ok, não estou aqui para desmerecer as regras deles, o que quero dizer é que se você tem em seu sangue brasileiro a paixão pelo que faz e a ousadia de seguir em frente com ideias mirabolantes, você não pode deixar de ser o que é. Não pode perder o gingado.
A cultura é diferente e a gente tem que ter jogo de cintura para se adaptar a isso. Mas, no final das contas, você acaba se acostumando e até gostando, pois também aprende muito como ser uma pessoa mais civilizada, madura e profissional. (Continua)