O Cartão de Todos lança esta semana uma campanha estrelada pelo apresentador Luciano Huck, da TV Globo. Criada pela agência Gotcha, a ação contará com peças nas redes sociais da marca, com fotos assinadas por Maurício Nahas, além de filmes produzidos pela Sentimental, que serão veiculados na TV aberta e no canal do Cartão no YouTube.
A iniciativa é fruto de um modelo de trabalho da agência que funciona assumindo o marketing do cliente. Para Tiago Trindade, diretor de criação, a campanha coloca o “sarrafo lá em cima” e leva a Gotcha a um “outro patamar”. “Hoje temos um orgulho imenso de estar numa sala com a Sentimental Filmes. Com o Maurício Nahas de fotógrafo… com Capitão Foca de produção de áudio, então, é primeira prateleira trabalhando para os nossos clientes”, afirma.
PROPMARK conversou com os executivos da empresa criativa para saber detalhes da estratégia da agência e entender o momento da Gotcha.
Paulo Fischer, fundador da empresa, explica que a agência assumiu a área de marketing do Cartão de Todos em janeiro de 2020. “Nessa gestão, a gente incorporou a equipe do cliente, que já existia, mas era pequena, tinha três pessoas. Hoje tem 30”, revela. Segundo o executivo, houve uma necessidade de ir além do produto e publicidade.
A área de PR, liderada por Douglas Galan, também foi assumida pela agência. “A gente não entende só da campanha que tem que gerar venda ou fortalecer a marca, a gente entende o negócio do cliente”, diz Fischer. “Não temos esse modelo com 100% dos nossos clientes, mas adoraria. Em nenhum cliente temos só o modelo antigo de só ser agência”, completa.
Obviamente, o modelo reflete na criação. “A própria entrega criativa da Gotcha é impactada. A gente não fica esperando os briefings, a gente cria os briefings. Como a gente está dentro do cliente, sabemos suas dores e problemas”, explica Trindade.
Questionados sobre os desafios enfrentados pela agência devido à pandemia da Covid-19, os executivos explicam os prós e contras. Conforme revela Carlos Coelho, CEO da Gotcha, houve conquistas importantes nesse período, como a chegada do cliente WP LAB.
Fischer complementa: “conquistamos quatro contas recentes. Foi bem importante para até para dar um ânimo para agência, equipe e financeiro [risos]”. “Não só estamos adaptados para a pandemia, mas estamos adaptados para a vida. A gente não tem pretensão alguma de voltar todo mundo para a agência. Vamos fazer um modelo híbrido. Isso já é certo”, diz o executivo.
Outro fator importante é que as relações digitais provocaram melhoras em alguns pontos. A agência conseguiu ter cerca de 15 colaboradores que não moram em São Paulo, cidade onde o escritório físico da agência está localizado. “Tivemos até uma funcionária de Dubai”, diz Fischer.
“O criativo está acostumado a criar olho no olho. Antes de vir uma ideia a gente fala besteira, fala da vida, fala de coisas que você já passou, histórias… Hoje em dia você tem que abrir o Meet ou o Zoom e ter ideias. A gente aprendeu a ser pragmático. Aquele criativo com pé na mesa que fica esperando cair uma maçã na cabeça acabou”, avalia Trindade. Mas o diretor assume: o “olho no olho” faz falta.
Trindade, aliás, é um dos poucos diretores de criação negros do mercado. Perguntado sobre a importância da diversidade, o criativo explica que se alguém entrasse na Gotcha hoje, veria uma agência diversa. “Tanto do ponto de vista étnico como de todos os pontos. Isso, pra mim, é o mais importante. Vamos fazer, colocar gente preta, mulher preta… E não só em cargos menores. Sou exemplo disso, de uma liderança negra. Também tenho essa dor de orgulho de estar nessa cadeira, olhar para meu lado e não ver pares da minha origem. Esse movimento está acontecendo no mercado a passos lentos, mas o mais importante é fazer. Vejo muita gente falando e não tem resultado. Vejo muitas matérias com agências com tanto número de negros. Prefiro esperar um pouco. Solta essa nota daqui a um ano. Será que você conseguiu manter esses negros que contratou? Você fez um ecossistema para ele sobreviver à agência? Um negro da periferia quando ele chega na agência ele é um corpo estranho. As agências estão montando um ecossistema para manter essa pessoa ali ou só contratam um estagiário negro e colocam uma nota na internet? Temos uma equipe diversa”, comenta.
Para Coelho, isso não precisa ser notícia. “Isso é fato. Evidentemente que está gerando bons resultados, mas isso não pode ser regra. É um processo natural, simplesmente é”, comenta o CEO.
Trindade também falou sobre o crescimento do data na pandemia. “Tentamos usar os dados, não os dados nos usarem. Temos que aprender a usar as informações que recebemos e traduzirmos em criatividade”, finaliza.