A mudança de hábito do consumidor e o sucesso do comércio virtual preocupam o varejo. Diversos players do mercado europeu estão atentos aos fatos e o movimento para encontrar soluções já começou em países como a França. Vários exemplos já dão o ar da graça em Paris, por exemplo, para fazer com que o consumidor saia de casa e sinta prazer em ir a uma rede de lojas ou ao centro de compras.
A arte de atrair o consumidor não se restringe ao comércio em geral. Projetos em outros pontos de grande circulação, como aeroportos e metrô, também estão em andamento. Tudo em nome da “arte de viver bem”, como define Olivier Saguez, presidente e sócio da agência francesa de design Saguez&Partners, que recentemente firmou parceria com a brasileira Criacittá, dos sócios Nelson Rocha e Claudia Salto, especializada em ambientação de marcas. A joint-venture franco-brasileira de design e branding foi batizada como Saguez&Rocha.
Segundo o executivo francês, o varejo tem que enfrentar o desafio de se diferenciar para atrair o consumidor para loja. Para ele, não basta apenas reformar a loja ou mudar algo aqui e acolá. É preciso ir além e adotar a filosofia do “prazer de ver, sentir e comprar”. “O PDV deve ser um lugar de lazer, de entretenimento, já que o ato da compra é um prazer. Por isso, as marcas devem ir além.”
Para Olivier Saguez, o básico se compra pela internet e o que gera satisfação o consumidor deve ser atraído para a loja física. Segundo ele, o design é uma das soluções para trazer o homem e a mulher para dentro da loja. Os shoppings centers, por exemplo, devem oferecer mais e melhor, desde estacionamento adequado até a área de diversão para o homem que acompanha a mulher nas compras e não tem paciência de encarar a maratona pelos corredores do centro de compras.
A ideia é encantar o consumidor em todos os pontos de contato. A integração de todas as plataformas – PDV, web e mobile – também são importantes para as marcas. A Apple é o exemplo mais citado pelos executivos da Saguez, “campeã de vendas pela internet e nas lojas”. É um modelo de design bem-acabado, na visão da Saguez, em todos os sentidos.
O interesse da agência francesa pelo Brasil é o grande potencial de consumo e o volume de projetos que se avizinham por conta da Copa do Mundo 2014 e Olimpíadas 2016, dois grandes eventos que o país irá sediar. Segundo o executivo, os shoppings brasileiros são muito parecidos entre si e ele percebe que os empreendedores querem mudar essa cultura.
O projeto inicial que caracteriza a parceria franco-brasileira é a das Lojas Camicado, comprada em 2011 pela rede gaúcha Renner. O processo de reposicionamento da Camicado ainda está em análise, que segundo Nelson Rocha, diretor-geral da Saguez&Rocha, apenas duas lojas, por enquanto, foram reformuladas. “Agora, vamos começar a mexer nas outras oito unidades da rede”, disse Rocha. Saguez&Partners atende grandes redes varejistas, entre elas, a rede francesa de supermercados Cassino, que adquiriu o grupo brasileiro Pão de Açúcar e deve assumir ainda este mês o controle da holding até então comandada por Abilio Diniz. É claro que a Saguez&Rocha aguarda ansiosa pelo desenrolar do polêmico negócio, já que tem grandes chances, em um futuro próximo, de conquistar a conta de branding e repaginar as lojas da rede em solo nacional.
A partir do Brasil, a estratégia do Grupo Cassino é conquistar a América Latina e, com isso, os prestadores de serviços da rede podem também se beneficiar e ampliar a atuação na região.
A ideia da Saguez&Rocha é desenvolver projetos de design global, com foco nas grandes redes de varejo e centros comerciais, como aeroportos e shop-
pings. Além do Cassino, a agência desenvolveu projetos na França para a Galeria Lafayette, Nespresso, Peugeot, Renault, Torre Eiffel, Yves Rocher e Sony. Para o Aeroporto de Paris Charles de Gaulle, a Sagues&Partners é uma das empresas que assinam o projeto do novo terminal – Satélite 4 –, que será inaugurado em julho, para passageiros da Air France com destino a Ásia. Em construção há seis anos, dos quais dois de estudo, o gigantesco empreendimento traduz o conceito que une serviço e entretenimento. A integração entre o design, a funcionalidade e a modernidade são outros aspectos do espaço. Considerado o “último passeio” do passageiro por Paris, a nova ala, que exigiu um investimento de 580 milhões de euros, vai oferecer lojas de grandes marcas em ambiente confortável para quem espera por horas a fio o momento do embarque. Tem até a “Avenida do luxo”, com marcas como Dior, Prada, Gucci e Rolex.