E por que antes não era assim? Por uma série de razões. A mais forte, importante e definitiva, porque as pessoas – o público para reverenciar e aplaudir – vivia mal e porcamente até os 40 anos; exagerando, 50. Nos últimos 100 anos ganhamos quase mais 40 anos de vida. E assim, partindo próximo dos 80, temos de pensar na vida pós-aposentadoria.
Anos atrás nesta mesma coluna rebatizada para Ilovemarket, e lá atrás, simplesmente Marketing, falei que muitas celebridades mortas continuavam faturando mais que a maioria das celebridades vivas. E isso continua ocorrendo até hoje.
Na última relação publicada pela Forbes, referente a 2015, o morto que continuava mais vivo do que nunca, em termos de faturamento, era Michael Jackson, com uma receita de US$ 140 milhões em 2015. Na sequência “ressuscitavam” Elvis Presley, US$ 55 milhões, muito especialmente pela peregrinação que fãs de todo mundo realizam ao “santuário” de Graceland, sua antiga residência, mais licenciamentos de marcas e merchandising.
E, ainda, Charles Schulz, na terceira colocação, com US$ 50 milhões, uma vez que “seu filho”, Charlie Brown, e toda a sua turma do Snoopy, continua rendendo substanciais dividendos. Elisabeth Taylor na 4ª, com US$ 25 milhões; Bob Marley, na 5ª, com US$ 20 milhões; Marilyn Monroe, na 6ª, com US$ 17 milhões; e John Lennon, na 7ª, com US$ 12 milhões.
Mas a novidade é sob a vida pós-aposentadoria, em que os ganhos continuam sendo estratosféricos. E aí, nós, os sobreviventes, somos decisivos para que a caixa registradora das celebridades aposentadas não pare de tilintar. Continuamos prolongando a felicidade e a emoção de décadas atrás usando tênis da Nike assinados por Jordan – Michael Jordan. Vestindo-se na Kent & Curwen, ao estilo do bonitão David Beckham; jogando golfe nos campos projetados por Gary Player; e Jack Nicklaus, indo ao cinema rever Pelé – O Nascimento de uma Lenda. E, repito, nos emocionando.
No ranking de Forbes, dentre os aposentados que mais faturam, o grande campeão é Michael Jordan, que se retirou das quadras em 2003, tem patrimônio de mais de US$ 11 bilhões e faturou US$ 110 milhões no ano passado só em royalties. Depois vem David Beckham, com US$ 65 milhões, e não para de assinar novos e polpudos contratos para utilização de sua imagem. O único brasileiro que aparece nesse ranking é Pelé, que, segundo Forbes, faturou US$ 14 milhões em 2015.
E você, já pensou em se aposentar? E se sim, o que pretende fazer depois? E, finalmente, gasta alguns minutos por dia para pensar em eventual legado após a partida?
Ao menos, se não quer pensar no legado, considere e planeje seu segundo tempo. Sua nova atividade pós-aposentadoria. É o que a maioria das pessoas vem fazendo enquanto não chegou lá. Permanecem trabalhando com o mesmo afinco e comprometimento nas empresas, mas, simultaneamente, desenvolvendo um plano em paralelo para quando o momento chegar.
Mais ainda, sem prejuízo da ocupação principal, aquela que garante o sustento, muitas pessoas desenvolve em paralelo uma segunda atividade. Lembro-me de uma matéria de Exame em que uma advogada nos dias úteis virava fotógrafa profissional no fim de semana. Garantindo uma substancial renda extra – era ótima fotógrafa – e já formando clientela para o pós-aposentadoria. E, na mesma matéria, um publicitário que montou em paralelo com a mulher um buffet infantil, e, ainda, terceira atividade, era o vocalista de uma banda de rock…
Assim, jamais se esqueça de que um segundo tempo o espera. E mesmo não sendo artista ou celebridade, o início de qualquer atividade tem como capital principal, além de suas competências, o relacionamento, o networking que você construiu pela vida. Na família, vizinhança, clubes, e, muito especialmente, durante o primeiro tempo: os lugares onde você trabalhou, e as pessoas com quem se relacionou. De dentro e de fora das empresas.
Planeje. Capriche. Organize-se. Não deixe pra depois.
Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)