O 7 de setembro sempre vai me trazer memórias importantes. Na minha juventude, ainda na minha Jaboticabal natal, os desfiles do Dia da Independência sempre foram marcantes.
As famílias iam para as ruas centrais, algumas portando bandeiras, acompanhar os pomposos desfiles, organizados pelas escolas, que ensaiavam por meses para não fazer feio nesse momento de grande importância para a cidade.
Por ter crescido precocemente e ser um dos mais altos da minha turma, tive por vezes a honraria de carregar a bandeira do Brasil, à frente da minha escola.
Aquela onda verde-amarela e o espírito de orgulho pela independência marcaram minha infância e juventude e certamente a dos meus amigos e de muitos estudantes espalhados pelo Brasil. Talvez nem entendêssemos bem o que estávamos celebrando, mas as cores verde e amarelo e o som ensaiado das fanfarras nos traziam orgulho de ser brasileiros.
Corta para décadas depois e me lembro da minha primeira oportunidade de empreender, já na capital São Paulo, dando meus primeiros passos profissionais. Estimulado por um dos mais concorridos fotógrafos de publicidade da época, montei uma empresa de assessoria a produções publicitárias, principalmente para atender à sua demanda de produção de uma grande campanha da marca Conga, sob mote Pise firme nesse chão que é seu!.
A campanha nada mais era do que um desfile escolar de 7 de setembro, tendo o Conga (existe ainda?) em primeiro plano, vestindo pés de garotos e garotas de diversas idades e tamanhos, desfilando de queixo erguido, em comemoração cívica pelo Dia da Independência.
Corta para anos depois e temos os caras-pintadas, movimento importante dos jovens, se contrapondo ao presidente defenestrado da época, Fernando Collor de Mello, que sofreu impeachment em 1992. Numa última tentativa frustrada de se manter no poder, Collor convocou brasileiros para que fossem às ruas de preto, em protesto contra seu impeachment. Os jovens ignoraram seu apelo e pintaram seus rostos de verde-amarelo, exaltando o desejo de justiça e moralidade. E lá estava o verde-amarelo. Assim como já tinha estado presente nas ruas nas conquistas da Copa do Mundo, principalmente a de 1970, que provocou uma onda verde-amarela, representada em pinturas e decoração nas ruas de todo o país.
Pois é esse verde e amarelo que está na minha memória desde sempre. Nas camisas da seleção brasileira, vendidas em todo o mundo, nas sandálias típicas brasileiras, também cobiçadas no exterior. São as cores da alegria, da descontração.
Corta para os dias atuais e vemos as cores-símbolo do Brasil adotadas por um grupo minoritário, que as usa em atos contra a democracia, em defesa do autoritarismo, contra instituições. Essa minoria ruidosa, que agora veste o verde e amarelo, nos faz nos envergonharmos e guardarmos no fundo da gaveta as cores de que tanto nos orgulhávamos.
A onda verde-amarela que se formou nas ruas em 7 de setembro, apesar de impressionante, representava apenas um grupo de brasileiros alinhados a um líder que tem uma interpretação tosca e irresponsável da independência e, em vez de celebrar os princípios que a regem, a ameaça e insufla seus seguidores fanáticos a atacarem os que atrapalham seu caminho autoritário.
Diz fazê-lo em nome do povo, mas sabemos que esse tal “povo” ao qual se refere não chega a 15% da população brasileira. E a data, que devia ser motivo de júbilo e orgulho,
se transformou em apreensão e receio de um retrocesso autoritário e de um confronto entre os poderes. A maioria dos brasileiros, atônita, se prepara para dias complicados no nosso país.
Não bastasse a volta da inflação, o crescimento do desemprego e a crise hídrica, sem falar na ameaça ainda presente da pandemia, agora teremos de enfrentar os arroubos ditatoriais de um líder e seu grupo minoritário de incautos. Quero meu 7 de setembro de volta!
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Alexis Thuller Pagliarini é presidente-executivo da Ampro (Associação de Marketing Promocional) (alexis@ampro.com.br)