Mais de R$ 10 milhões foram investidos no longa, que estreia nesta sexta-feira (18)

 

Quando a câmera sobrevoa o trabalho dos garimpeiros nos barrancos de “Serra Pelada”, o espectador é imediatamente levado à região que, nos anos 80, ganhou o mundo e atraiu milhares de pessoas sob a promessa do ouro. As imagens, que comparam a massa humana a um formigueiro, causam impacto. No total, foram quatro anos de pesquisas e levantamento histórico, com investimento de R$ 10,5 milhões. Dirigida por Heitor Dhalia, a produção da ParanoidBR chega aos cinemas de todo país nesta sexta-feira (18), depois de aplaudida no Festival do Rio. “Por se tratar de um filme de época bastante específico, tivemos uma dificuldade natural em estabelecer parcerias de merchandising. Fechamos com a Caixa Econômica Federal, fundamental na época da ‘corrida do ouro brasileira’ e presente em todo o roteiro. Tentamos com outras empresas, mas acabou não rolando”, conta a produtora Tatiana Quintella.

A executiva ressalta que, também pelo fator histórico, “Serra Pelada” não atrai facilmente o público mais jovem. “Criar apelo junto a esse espectador tem sido um desafio. Apostamos na comunicação digital. As páginas oficiais do filme estão lindas e facilitam a aproximação, graças ao cuidado visual, à linguagem simples e descontraída, ao jogo de mistério”, diz. O projeto de divulgação inclui a JWT, responsável pelo planejamento de mídia; a Coletivo, que assina a plataforma digital; e o trabalho interno da Globo Filmes, parceira da ParanoidBR no longa-metragem.

Se distante da realidade de boa parte da geração millennial, “Serra Pelada”, por outro lado, tem atrativos fortes para esse público, entre eles as atuações de Matheus Nachtergaele (Carvalho), Wagner Moura (Lindo Rico) e Sophie Charlotte (Tereza), esta em estreia dupla: primeiro papel no cinema, primeiro personagem dramático. Os amigos que largam a vida dura do Sul pela esperança do Norte são interpretados por Júlio Andrade (Joaquim) e Juliano Cazarré (Juliano). Quanto ao público “maduro”, vale ir ao cinema sem medo: a reconstituição de época, associada à política da década de 80, convence por completo.

Megaprodução

“Serra Pelada” parte da amizade entre Joaquim e Juliano para falar de sociedade, romance, corrupção e miséria. Assim como muitos, os dois partem rumo ao Pará, seduzidos pela chance de mudar de vida. Lá, no entanto, mergulham em um universo à parte, que apesar das tantas regras estabelecidas pelo governo federal, tem suas próprias leis.

Inicialmente, o longa seria filmado no Norte do Brasil, mas os custos mostraram-se elevados e a Serra Pelada foi trazida a São Paulo. O garimpo foi recriado em Mogi das Cruzes, em uma antiga mineradora que dispunha de uma cava do tamanho de dois campos de futebol e com 100 metros de profundidade. Um aterro sanitário em Paulínia foi utilizado como cenário para o acampamento dos garimpeiros. As cenas urbanas foram gravadas na capital paulista e apenas a vila, os bares e prostíbulos foram filmados em Belém (PA). Para Heitor Dhalia, o resultado foi bastante verossímil. “Quando entrei no cenário dos barrancos pela primeira vez, me senti dentro das fotos que analisei por meses”, conta. Cerca de cinco mil imagens serviram de referência para a criação cenográfica.

Com diversas alterações ao longo de sua produção, “Serra Pelada” já foi associado aos nomes de Javier Bardem, Seu Jorge e Daniel de Oliveira. Wagner Moura, o Lindo Rico, na trama proprietário de diversos barrancos de extração de ouro, foi cogitado para outros personagens, bem como Júlio Andrade, o Joaquim. “Esse foi um filme muito promíscuo”, brinca Moura. “O fato é que cada ator acabou adaptando-se ao personagem que lhe caía melhor, e tudo isso foi bastante natural”, completa.

Com orçamento alto para os padrões nacionais, o longa, bem como tantas outras produções brasileiras, tem o desafio de recuperar seu investimento. A tarefa, no entanto, não deve ser árdua. Já chamado de “o novo ‘Cidade de Deus’”, “Serra Pelada” reforça que cada momento histórico tem o seu faroeste, uma sequência de acontecimentos que, mesmo quando ficção, tem enorme semelhança com a realidade – e, por isso, naturalmente atrativa.