No fim de 2013, a JSL, grupo brasileiro de transporte e logística, adquiriu a Movida, dando um novo gás para o setor de aluguel de carros no Brasil. O responsável por conduzir a guinada nos negócios da marca foi o CEO Renato Franklin, que viu os números de faturamento no período saltarem de R$ 58 milhões para R$ 1,3 bilhão. Dando continuidade ao plano de expansão, recentemente, a empresa anunciou a Talent Marcel como sua nova agência e lançou o conceito Vire a chave. Vá de Movida e uma nova assinatura: Movida. Aluguel de Carros, que substituiu Movida. Rent a Car, que já durava dez anos.
O que mudou na Movida depois da aquisição pela JSL?
Desde o início, com a aquisição da Movida, no fim de 2013, a intenção do grupo JSL era criar uma nova solução de aluguel de carros, voltada para a prestação de serviços. Ou seja, sair do modelo tradicional que existia no setor de aluguel de veículos. O mercado tradicional oferecia sempre uma experiência funcional. Ou seja, a pessoa tinha uma necessidade de locomoção e, dependo do lugar, ela só tinha o carro como opção: então ela precisava ir lá e alugar um carro. A gente brinca até que era quase igual cartório: a pessoa tinha de ir lá, acabar com a burocracia e pegar o carro para resolver a sua necessidade. O que nós acreditamos, e fez a gente entrar nesse negócio, é que existe um potencial enorme para oferecer realmente serviços de mobilidade que agreguem uma experiência diferente para o nosso cliente, que nem sempre é aquele que já alugava carro, ou novos clientes, que podem ter demandas antes não atendidas. Um exemplo é que hoje é possível enriquecer a viagem de uma pessoa, pois o aluguel do carro pode ser uma experiência a mais. Isso tudo a gente descobriu ouvindo o cliente. Fora do Brasil, por exemplo, percebemos que o nosso cliente escolhia um carro diferente para alugar, pois tinha o aluguel de carro como mais uma experiência para agregar em sua viagem. No Brasil isso não ocorria, de alugar um carro diferente, porque 80% da frota de carro para aluguel era de modelo comum, de carro popular, como Gol, Uno e Palio. Não desmerecendo a frota, mas era tudo comum, prata, cinza, branco, sem graça. O que a gente fez foi trazer para a realidade brasileira aquilo que nós vimos lá fora. Com isso, acabamos trazendo até outros usos para o carro alugado, como pessoas que alugam um carro diferente para o fim de semana, para um evento à noite, ou que querem fazer uma viagem com a família e pegar um carro maior.
Como foi essa mudança?
Começamos lá atrás já trazendo um HB20 para a frota, que foi um compacto econômico Premium. Depois, entramos com SUV automática, minivan automática, Audi A4, Mercedes C180… e tudo isso no Brasil inteiro. Passamos também por um processo de expansão muito grande da marca. De 2014 até agora, a gente abre duas lojas por semana. Saímos de 26 lojas e hoje temos um total de 206, sendo 40 de veículos seminovos e 166 de aluguel de carros. Depois dessa situação, investimos muito também em tecnologia e inovação para enriquecer essa experiência do consumidor.
Do que se trata essa experiência Movida?
Da mesma forma que nossos carros proporcionam experiências diferentes, faz sentido que nossos serviços também sejam diferenciados. A gente tem, por exemplo, uma plataforma mobile para o cliente poder alugar um carro do jeito que ele quiser, pelo app, pelo mobile site, em Android, iPhone e Windows Phone. A gente lançou também funcionalidades diferentes, como o Movida Wi-fi, que é um aparelho que você aluga e tem wi-fi para até cinco pessoas no carro. Além disso, dentro do app da Movida o usuário encontra Waze, playlists gratuitas, parceria com o Trip Advisor com dicas de restaurantes e passeio… enfim, experiências para enriquecer a viagem do cliente.
Houve incremento no faturamento por conta desses diferenciais?
Esses diferenciais de tecnologia foram muito importantes. Acho que isso tem trazido os novos clientes para nós. A confiança que as pessoas estão depositando na Movida tem permitido o nosso crescimento. Um crescimento grande, tanto de faturamento quanto de frota: de 2 mil carros, fomos para 55 mil; e saímos de um faturamento de R$ 58 milhões, em 2013, para R$ 1,3 bilhão no ano passado. Tudo isso aumenta muito a nossa segurança. Mas temos muito o que fazer ainda.
Por exemplo?
O cliente quer agilidade. Com isso temos investido muito em treinamento de pessoas, em uma equipe que trabalha feliz, trazendo alegria para o dia a dia do cliente, entendendo esse cliente e levando agilidade. Temos, por exemplo, diária de 27 horas, dando três horas a mais para o cliente devolver o carro. Todo esse negócio focado em inovação e no cliente é novo para o setor. Tudo isso a Movida tem, mas, sinceramente, a gente ainda não tinha contado bem para o mercado.
Esse é o objetivo da nova campanha?
Sim. A campanha surgiu da parceria com a Talent Marcel, que está com a gente desde abril. A Freead estava com a gente há dez anos e tem um papel muito importante na nossa trajetória. Não podemos desmerecer de jeito nenhum esse trabalho, porque a Movida foi construída junto com a Freead e ainda fazemos algumas coisas com eles. Hoje, a Talent cuida de on e offline, ou “no line”, como eles dizem.
O que pesa mais, on ou off?
Para nós, online é bem performance, bem importante. E no offline a gente está com uma campanha de porte um pouco maior, justamente para contar para as pessoas que aluguel de carro no Brasil já está bem diferenciado em relação ao que era no passado. Hoje, existe aluguel de carro com base em frota diferente, colorida, para o cliente alugar o carro que ele quiser, para se divertir e não ficar estressado com um monte de burocracia. Estamos aqui a serviço do cliente.
Dá para manter acessível o aluguel de carro mesmo com todos esses diferenciais?
O aluguel de carro, na verdade, está cada vez mais acessível e essa é uma barreira que a gente precisa romper na cultura do brasileiro. Antigamente, você pegava um salário-mínimo no Brasil e não pagava nem uma diária de aluguel de carro. Hoje, com um salário-mínimo, você fica quase um mês com um carro. Hoje você gasta pouco mais de R$ 200 para alugar um Audi. São soluções bem diferentes, que atingem toda a população, não é só para classe A ou B. Para alugar um carro, hoje, você precisa basicamente de duas coisas: carteira de habilitação e R$ 700 de crédito no cartão. Mais nada. Nada de papelada ou coisas que muitas vezes as pessoas acham que precisam. É isso que estamos tentando desmitificar com a campanha: hoje, alugar carro é fácil, barato e divertido.
Hoje se fala mais em mobilidade urbana no Brasil. Isso tem ajudado vocês?
A Movida cresceu muito, mas, se parar para observar, não roubamos muito share da concorrência. A gente tem muito cliente inédito, muita gente que deixou de ter carro. Tem gente de 18 anos que não sonha mais em comprar carro, mas que pensa em bicicleta, em mobilidade. Quando essa pessoa precisa de um deslocamento maior, ela aluga um carro. Ainda tem muito espaço para multiplicar esse conceito, mas na geração mais jovem vimos essa cultura muito forte. E isso, de certa forma, acaba influenciado outras gerações em busca de inovação.
A crise foi boa para vocês, uma vez que as pessoas ficaram sem dinheiro para trocar de carro ou comprar um novo?
Eu acho que a crise colabora porque ela ajuda a fazer conta. E hoje quem faz conta vê que é muito mais barato alugar um carro do que comprar um financiado, no custo total. Se você vai comprar à vista, aí realmente o aluguel é pouca coisa mais barato e vale mais pela comodidade e facilidade de não precisar se preocupar com multa, documentação e tudo que a locadora já resolve. Mas para quem compra financiado, é muito mais barato alugar. No aluguel corporativo, o Brasil tem muito potencial para crescer. Apenas 10% da frota de carros corporativos no país é terceirizada. Em países mais maduros, é de 50% a 70%. Com certeza um momento econômico mais desafiador faz com que as empresas se preocupem com as contas, priorizem e avaliem a terceirização para não ter de trocar a frota. A crise ajuda no sentido de as pessoas questionarem se faz sentido elas terem carro. E é por isso que, nas cidades mais maduras, a penetração de aluguel de carro é muito maior: as pessoas não costumam ter dois ou três carros em casa. Esse desenvolvimento de estrutura e de cultura de mobilidade contribui, mas ainda tem muito a ser feito. O potencial de crescimento é enorme.
Trazer a assinatura da empresa para o português é parte da estratégia de popularização do aluguel de carro?
Desde a compra da Movida lá atrás, já havia esse questionamento de mudar. O Movida. Rent a Car traz uma mensagem mais global para a marca, o que é legal, mas entendemos que Movida. Aluguel de Carro nos aproxima muito do nosso público final, do usuário do dia a dia. Entendemos que substituir Rent a Car – que está na Movida há dez anos, desde seu lançamento – por Aluguel de Carro deixa a mensagem mais clara e mais próxima de nossos clientes. Assim fica mais fácil de a pessoa ler e entender. Mudamos essa a assinatura junto com a nova campanha, que trouxe o conceito Vire a Chave.
Daqui para frente, qual o desdobramento da campanha?
Estamos com dois vídeos na TV paga, que ficam no ar até julho. Toda nossa mídia foi ajustada para o conceito da campanha Vire a Chave, com online, offline, aeroporto, rádio, revista de bordo… seguimos até o fim do ano com esse conceito, não necessariamente em todos esses meios.
Qual foi o investimento da campanha?
Nossa empresa é de capital aberto e não podemos falar muito. O que podemos dizer é que a verba de marketing para 2016 é 30% maior do que a de 2015.
Em termos de concorrência, a principal hoje são as montadoras ou Uber, por exemplo?
Todos eles acabam sendo parceiros ou concorrentes, dependendo da ótica. A gente brinca que o concorrente existe para te fazer correr atrás. A gente foca muito nos nossos métodos, e está dando resultado.