Não, amigo leitor, doce leitora, não vou comentar essas eleições que estão ocorrendo por aí nem a participação dos candidatos nos debates de TV. Também não vou deitar sapiências sobre a importância das redes sociais na decisão do eleitor. Os oito milhões e meio de cientistas sociais e os 13.400 profissionais de mídia digital já chutaram o bastante para vocês dispensarem a minha opinião sem sentir a menor falta. Até porque, confesso, também não entendo nada disso.
Talvez minha única vantagem seja a sinceridade de me considerar ignorante. Eu quero é contar três histórias sobre eleição que ouvi na tarde de sábado passado, após uma feijoada, já no doce de leite e no café com adoçante, pois todos estavam de dieta. Uma delas foi contada por uma amiga que tinha participado no dia anterior de uma reunião de condomínio e – segundo ela –, como toda reunião de condomínio, expõe o que as pessoas têm de pior e de mais mesquinho.
Como o prédio era novo, descobriram que, por um cochilo qualquer, a construtora não havia feito um banheiro para uso dos porteiros, o que significava que os coitados não dispunham de equipamento apropriado para satisfazer suas necessidades. Fazer um banheiro num espaço da garagem, iria custar uma besteira para cada condômino. Mas, como de praxe, a maioria dos presentes não se dispôs a gastar aquele dinheirinho.
Ao que o síndico, já de saco cheio e devidamente puto com a pequenez de seus vizinhos, ditou com voz calma para o secretário da reunião o que deveria constar da ata: “Registre-se que, devido à recusa da maioria dos condôminos em proporcionar um local apropriado para a urinagem e defecagem dos empregados encarregados da portaria, ficam estes autorizados a cagar na garagem onde melhor os aprouver”. O banheiro já está em obras.
A outra é do candidato Fausto Wolff, um jornalista conhecido no Rio de Janeiro, sujeito engraçadíssimo, cultíssimo, amigo de todo mundo, tremendo porrista e grande conquistador. Um gigante de mais de dois metros, justificando seu sobrenome. Um urso. Pois Fausto, tentando ser eleito vereador, panfletava na Avenida Atlântica, entregando aos passantes um santinho com sua plataforma e trocando meia dúzia de palavras.
Campanha pobre, de pouco material, os santinhos eram entregues um a um, para não haver desperdício. Pois lá vinha o Fausto andando quando cruzou com um provável eleitor. Deu-lhe o santinho, pediu apoio e teve de ouvir uma cantilena do cidadão, reclamando dos políticos, do Brasil, de todo mundo. Como voto é voto, Fausto se muniu de paciência e deu trela, tentando argumentar alguma coisa.
Mas o cara, verdadeira mala, não parava. Juntou gente para ouvir, o que aumentou a sanha reclamativa. Encheu tanto o saco que chegou uma hora que Fausto tirou o santinho da mão do eleitor e sentenciou com sua voz de cantor de ópera: “quer saber de uma coisa? Enfie seu voto no cu!” E saiu da rodinha. Perdeu a paciência, o voto e mais tarde a eleição.
Outro momento grandioso foi quando o escritor Austregésilo de Ataíde candidatou-se à presidência da Academia Brasileira de Letras. Um repórter de rádio o entrevistou e por três vezes chamou dr. Athayde de Astrogildo. Doutor Austregésilo foi tocando, para não humilhar o entrevistador. Até que, para encerrar, o radialista disse: “agora uma última pergunta ao grande intelectual Astrogildo de Ataúde…”.
Neste momento, do alto de sua condição de futuro presidente da ABL e imortal de carteirinha, dr. Austregésilo pega o microfone e diz: “Astrogildo tudo bem… mas Ataúde é a puta que lhe pariu!” Ouviu-se a risada até de Machado de Assis, patrono da instituição.
Lula Vieira é publicitário, diretor do Grupo Mesa e da Approach Comunicação, radialista, escritor, editor e professor(lulavieira@grupomesa.com.br)
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