Muito se discute na mídia sobre a ascensão da classe C e até usa-se como sinônimo dessa categoria social a expressão nova classe média brasileira. Mas, afinal, será que é correto fazer essa relação? Este foi o tema abordado na palestra ministrada por Nelsom Marangoni, vice-presidente de desenvolvimento de negócios estratégicos do Grupo Ibope, na Abep (Associação Brasileira das Empresas de Pesquisa), em São Paulo, na semana passada. Durante o encontro, Marangoni abordou os conceitos usados na mídia – muitos deles preconceituosos – para se designar a classe C tais como: classe média, classe trabalhadora, popular, média baixa e baixa renda.
O especialista também mostrou as maneiras de se definir uma classe social e explicou que no Brasil se utiliza a posse de bens para isso. “Aqui se usa a renda para definir o potencial de consumo denominado Critério Brasil”, disse. Dividido em cinco classes – A, B, C, D e E –, recentemente houve uma subsegmentação para determinar com mais precisão as diferenças sociais: A1 e A2; B1 e B2; C1 e C2. “A classe média é a que fica entre as classes alta e baixa, é a média entre as rendas de uma família em geral no País”, falou.
O especialista exibiu o levantamento feito pela FGV (Fundação Getulio Vargas) em 2008 no qual as classes A/B representam 10% da população brasileira, a classe C 49%, D 24% e E 16%. Já o Critério Brasil apresentou porcentagens bem diferentes da FGV, em levantamento realizado no mesmo ano. Os dados foram: A/B 32%; C 48%; D 18%; E 2%. Em relação à divisão por faixa salarial, a FGV fez a seguinte divisão baseada no salário mínimo, que em 2008 era de R$ 415: as classes A/B com renda superior a R$ 4.807; classe C entre R$ 1.115 e R$ 4.807; D entre R$ 768 e R$ 1.115; e E com renda até R$ 768. Já o Critério Brasil fez uma classificação totalmente distinta: classes A/B com renda superior a R$ 2.327; classe C com ganhos entre R$ 933 e R$ 1.391; classe D R$ 618; e classe E R$ 403. “Os dados são completamente diferentes. Aqui não estamos falando da mesma coisa”, observou Marangoni.
“A classe média que a mídia fala inclui a classe B2. Por isso, essa confusão no marketing das empresas. Mas não podemos negar que houve mobilidade social da classe C”, acrescentou.
Marangoni chamou a atenção para o fato de que essa mobilidade social da classe C não é um fato novo. Segundo o estudioso, isso ocorre há algum tempo. “A mobilidade que acontece não é de hoje, não é recente. E acontece no mundo todo, como na China, Índia, Rússia e até no Irã. Não é uma coisa exclusiva do Brasil”, comentou.
Inchaço
Outro fato que acaba sendo esquecido pela mídia é o aumento da população ao longo dos anos. Em 2000, de acordo com os dados apresentados por Marangoni, o Brasil tinha 60 milhões de pessoas na classe C. Este número subiu para 91 milhões em 2008, o que implica num inchaço dessa classe social.
Para 2014, o esperado ano da Copa do Mundo no Brasil, a projeção que se faz é de que o País seja o quinto maior mercado consumidor mundial. “Desde 1994 foram plantadas as sementes para o aumento de consumo no Brasil, como o fim da inflação, a diminuição das taxas de juros e o alongamento dos prazos. Tudo isso é um cenário favorável ao consumo”, falou Marangoni. E o aumento do volume de créditos e a facilidade em sua obtenção foram variáveis relevantes. “Foi o grande motor para o consumo da classe C”, justificou o especialista. Porém, o Brasil ainda apresenta problemas. “Não vamos nos iludir. O Brasil ainda está muito longe dos demais países”, opinou Marangoni, referindo-se ao crescimento de crédito em relação ao PIB (Produto Interno Bruto) dos Estados Unidos (187%), China (123%) e Índia (78%). “O consumo hoje no Brasil é igual ao dos Estados Unidos na década de 50”, concluiu.
por Maria Fernanda Malozzi