O Centro das Américas do China International Communications Group é uma frente do governo para fortalecer a relação por meio da mídia e intercâmbio
As cidades da China são poluídas. Os chineses são baixos. Eles só comem carne de cachorro, gato e animais exóticos. Se você ainda não conhece a China, esqueça todos esses estereótipos a respeito do gigante asiático, que tem a segunda maior economia do mundo (PIB de US$ 18,53 trilhões) e uma população de 1,425 bilhão de pessoas, disputando ombro a ombro o título de país mais populoso do mundo com a Índia (1,428 bilhão de habitantes). Ir para a China é uma experiência que abre os olhos, literalmente, para a modernidade e outras características que poucas pessoas falam sobre o país de muitas facetas.
As cidades chinesas são limpas, bonitas, há verde para todo o lado, com ruas ladeadas por canteiros de flores, onde se vê muita gente andando de bike (principalmente em Pequim), misturando paisagens arborizadas com telões hi-tech, como em Chengdu, por exemplo, conhecida como a cidade dos pandas. Já o progresso dá o tom a Xangai, com sua imensidão de arranha-céus coloridos à noite e a correria dos centros de compras frenéticos. A verdade é que cada parte da China é muito diferente da outra, inclusive em costumes e culinária. Ouvi muito isso de chineses quando estive no país em uma viagem de duas semanas.
Participei de uma delegação de brasileiros formada por jornalistas e influenciadores que visitou quatro cidades chinesas, a convite da Kuaishou, empresa chinesa controladora do Kwai, que anunciou, em Pequim, lançamento do seu e-commerce no Brasil, e do Centro das Américas do China International Communications Group (CICG), vinculado ao Departamento de Publicidade do Comitê Central do Partido Comunista da China.
Fizemos um tour turístico e de negócios em quatro cidades: Pequim (capital chinesa); Chengdu; Hangzhou e Xangai. Conhecemos lugares deslumbrantes, como a Muralha da China, com mais de 21 mil quilômetros de extensão, considerada uma das sete maravilhas do mundo e tombada como Patrimônio Mundial da Unesco.
O Centro das Américas é responsável por fortalecer laços culturais, econômicos e políticos entre a China e os países das Américas, com especial atenção ao Brasil, em um claro esforço de comunicação para aproximar os dois países. Receber delegações de estrangeiros, brasileiros como nós, para apresentar a China, é uma das atividades que realiza, por meio de eventos, intercâmbios culturais e parcerias com instituições. Outra frente de movimento são as publicações que produz, como a revista China Hoje, com conteúdo em português sobre cultura, economia e sociedade chinesa. De acordo com o Centro, essa cooperação reflete a importância estratégica do Brasil para a China na América Latina, principalmente em áreas como comércio, tecnologia e sustentabilidade.
O China International Communications Group (CICG) possui várias publicações voltadas para o público internacional. Além da China Hoje, tem a revista Beijing Review, com 66 anos de história, publicada em inglês e com foco em política, economia e cultura; a China Pictorial, disponível em diversos idiomas e conhecida por suas reportagens visuais sobre a vida cotidiana e o desenvolvimento da China; a People’s China, voltada para leitores de língua japonesa, que promove a compreensão da China no Japão; e a China Report, também em inglês, com uma variedade de temas sobre inovação, políticas públicas e relações internacionais da China.
A estrutura conta, por exemplo, com a diretora Liu Yunyun e os repórteres Tao Xing e Filipe Porto, brasileiro que mora na China há cerca de um ano, que nos acompanharam durante a viagem. “A missão da Beijing Review é apresentar a China ao mundo. Escrevemos histórias em inglês sobre vários aspectos da China para ajudar os leitores estrangeiros a compreender melhor o país. Após as reformas, nosso centro concentrou-se mais na região das Américas e incorporou as versões em espanhol e português da revista China Today: China Hoy e China Hoje, tornando a América Latina particularmente importante para nós”, relata Tao Xing.
Formado em comunicação internacional, Tao Xing, que também estudou na Inglaterra, fala sobre a missão de construir conexão com o Brasil por meio da mídia e do intercâmbio internacional. “A influência da mídia chinesa no Brasil ainda é relativamente fraca em comparação com a da mídia americana. Por um lado, estamos tentando descobrir uma forma eficaz de construir conexão com o Brasil através da mídia. Por outro lado, acreditamos que a comunicação entre pessoas é crucial, por isso convidamos vocês a vir até aqui. Esperamos que depois de visitar a China e testemunhar o desenvolvimento do país, vocês possam levar a verdadeira imagem chinesa ao povo brasileiro e fazer com que saibam o quanto valorizamos a amizade entre nós”, ressalta ele.
Ao mesmo tempo, o Centro das Américas também realiza eventos no Brasil, como o próximo fórum sobre civilizações sino-brasileiras, que ocorre em novembro, no Rio de Janeiro, e contará com uma delegação chinesa. Apaixonado pela China, o brasileiro Filipe Porto decidiu se mudar para o país por uma conjunção de fatores. Formado em relações internacionais, fez uma transição para o jornalismo, onde o país o acolheu.
“Sempre fui aquela pessoa que falava sobre a China, enxergando desde a faculdade o diferencial do país na forma como se posiciona no mundo e querendo ampliar esse conhecimento. Acreditava que o jornalismo seria um caminho eficaz, pois a pesquisa acadêmica em relações internacionais parecia muito restrita. Além disso, sempre que visitava a China, voltava impressionado e frustrado por ver tantas coisas incríveis sem destaque na mídia. Era comum sentar com amigos para tomar um café e expressar essa insatisfação, até que decidi fazer algo a respeito”, conta Porto.
Atualmente, edita artigos para a revista China Hoje, além de ser âncora de vídeos apresentando a China em português para os brasileiros. Seguindo a máxima de “contar a história da China bem” e “promover intercâmbios de pessoa a pessoa”, do presidente Xi Jinping, ele afirma que o enche de orgulho participar de atividades onde trazem estrangeiros de diferentes backgrounds para conhecer o país. “A intenção não é fazê-los amar ou odiar a China, mas criarem uma visão própria do país, que seja imune de outros interesses e interferências que não sirvam aos interesses nacionais de seus países de origem”, finaliza o brasileiro.
Tour
O tour da delegação brasileira da qual participei incluiu visitas à Cidade Proibida, em Pequim, que combina história antiga com inovação. A capital da China é também conhecida por seus hutongs tradicionais (vielas estreitas). Em Chengdu, capital da província de Sichuan, no sudoeste do país, que tem um estilo de vida descontraído e culinária apimentada, conhecemos a Base de Pandas Gigantes de Dujiangyan. Na viagem a Hangzhou, capital da província de Zhejiang, no leste da China, pudemos vivenciar como funciona um polo importante do e-commerce e da economia digital da China, com uma visita à base de produção de vídeos curtos de Linping (Lin Film Studio), parceira da Kuaishou, uma espécie de Projac da China.
Em Xangai, último ponto da viagem, fizemos um passeio noturno de barco pelo Rio Huangpu, que corta a cidade e de onde se tem uma visão deslumbrante dos arranha-céus coloridos e vibrantes do centro econômico que, para mim, é a metrópole mais cosmopolita da China. Fomos ainda ao Parque Yuyuan, centro de compras com prédios antigos chineses e dezenas de lojas tradicionais que vendem desde artigos locais, souvenir, artesanato a bebidas, como a famosa e milenar cachaça chinesa Baijiu. Posso dizer que volto da China renovada, com uma imagem sobre o país completamente diferente do que tinha antes da viagem, impressionada pela gentileza dos chineses, e inspirada pelo desenvolvimento e way of life chinês.