O Cannes Lions 2016 terminou há mais de mês, mas seus efeitos ainda ecoam. A própria organização do festival continua nos alimentando com informações de origem analítica do amplo conteúdo apresentado em Cannes. Os delegates, eu inclusive, estão recebendo e-mails apresentando análises de conceitos e temas discutidos nos seminários, fóruns e outras sessões. Essa série de reports que estamos recebendo levou o nome de Insights from Cannes Lions.

Escrevo este artigo depois de ter recebido o oitavo report. Pela riqueza do material, resolvi dividi-lo com você. Afinal, um dos maiores benefícios de estar no Cannes Lions é captar tendências e ter insights sobre o nosso mercado. Pela limitação de espaço, dividirei essa análise em dois artigos. Então, lá vão os primeiros insights.

Insight 1: realidade virtual já é realidade. Nada menos do que sete sessões do festival este ano tiveram VR (Virtual Reality) no seu título, além de outras tantas que abordaram o recurso. Kevin Kelly, o fundador da Wired, na sua apresentação, afirmou: “com a VR estamos entrando na era da internet da experiência, em que mais coisas serão vivenciadas e compartilhadas. Experiências serão a nova moeda. Gastaremos mais com elas e as compartilharemos. VR será a mais social das mídias sociais.” A Deloitte prevê que o mercado de VR atinja um bilhão de dólares ainda este ano. Não à toa, a Samsung estava presente no Palais com uma ativação totalmente voltada para uma experiência em VR.

Insight 2: concorrentes se juntam para o bem. Quando os principais “madmen” do mundo se reúnem, devemos ficar muito atentos. Foi o que ocorreu no prestigiado Cannes Debate, ultimamente liderado por sir Martin Sorrell, CEO do WPP. Pela primeira vez na história, foram reunidos no palco do festival Yannick Bolloré, chairman e CEO da Havas; Michael I. Roth, chairman e CEO da Interpublic; sir Martin Sorrell, CEO do WPP; John Wren, CEO do grupo Omnicom; e Maurice Lévy, CEO do grupo Publicis, além de TadashiIshii, CEO do Dentsu, que não pôde estar presente, mas enviou um vídeo. Tudo isso para atender ao apelo do secretário-geral da ONU, o coreano Ban Ki-moon, que foi ao Cannes Lions pedir ajuda aos principais grupos de comunicação do mundo para ajudar a divulgar os 17 objetivos mundiais de desenvolvimento sustentável. Por conta da competição feroz entre esses players, o fato acabou ganhando grande repercussão e merece a nossa reflexão. Há momentos em que devemos deixar de lado a animosidade entre concorrentes e batalharmos juntos por uma causa maior.

Insight 3: sexo não vende. Os temas de igualdade de gêneros, recorrentes nos últimos anos, voltaram a ser amplamente debatidos no Cannes Lions. Até a masculinidade entrou em debate. A apresentação mais impactante ficou por conta de Madonna Badger, cofundadora da Badger&Winters, que liderou a apresentação Sex, Lies andAdvertising, na qual apresentou um estudo sobre o que ela chama de objetificação da mulher. Segundo sua pesquisa, nada menos do que 91% das mulheres americanas dizem que não são entendidas pelos publicitários. Seu estudo percorreu mercados variados, como o de carros e bebidas, e ela garante: usar mulher como objeto em comerciais é tiro no pé, mesmo para produtos dirigidos aos homens.

Insight 4: autenticidade é tudo. A fala de John C. Jay, presidente de criatividade de marca do grupo da Uniqlo, uma grife de grande crescimento no mundo, afirma: “pare de tentar ser autêntico e simplesmente seja autêntico. Autenticidade é a única forma de desenvolver marcas”. Marcas que tentam passar uma imagem de autenticidade da porta para fora se dão mal. A autenticidade tem de estar em todas as atitudes e manifestações para ser percebida e valorizada.

Bem, estes foram quatro dos oito insights divulgados pelo Cannes Lions Festival. Na próxima semana, trago os quatro restantes. Espero que sejam úteis.

Alexis Thuller Pagliarini é superintendente da Fenapro (Federação Nacional de Agências de Propaganda)