Elisa Benedetta Gorgatti. Meu nome dá uma leve pista sobre a minha origem. Começo falando isso, porque, para mim, não existe falar sobre inspiração, música e criatividade sem falar do povo italiano.
Se pararmos para pensar nas obras milenares dos romanos, por exemplo, veremos que foi a partir de ideias inovadoras que eles revolucionaram da construção civil às sobremesas. Sim! Há fortíssimos indícios de que eles criaram o sorvete a partir da neve!
Além do desejo assumido de dominação, tudo que os romanos realizavam tinha também um grande propósito: fazer diferença na vida das pessoas.
Durante as últimas férias, tive o privilégio de assistir a uma ópera na Arena di Verona, um anfiteatro romano de quase dois mil anos. E ali, a música, a criatividade e o foco nas pessoas se juntaram explicitamente.
Era impossível acreditar que não havia microfones. Foi maravilhoso perceber que a técnica lírica nasceu para que o maior número de pessoas pudesse usufruir da música, mesmo estando muito longe de quem estivesse cantando.
Em menor proporção, era o mesmo que ocorria na minha casa aos fins de semana, quando o meu pai pegava seu violão na cozinha e a sua voz ecoava pelos cômodos.
Foi isso que despertou em mim o lado criativo e musical. E, aos 5 anos, comecei a compor.
As músicas no piano e violão eram um sucesso na Rádio Estrela. Pouparei vocês dos detalhes infames desse conteúdo, mas o fato é que, entre um quadro e outro, elas também estavam lá: as propagandas. Pois é! Eu inventava anúncios, afinal, eram eles que bancavam minha rádio imaginária.
Meus únicos dois ouvintes, Mamma e Papà, foram cruciais para eu começar a entender que a criatividade só tem sentido quando ela está a serviço de quem a recebe.
Então, no melhor italian-style-direto-e-reto, meus pais foram me mostrando como lapidar melhor as minhas criações para que elas efetivamente fizessem sentido.
E aí veio minha primeira certeza: vou ser artista para que mais pessoas possam ouvir o que tenho a dizer. Só que esse caminho não é fácil. Decidi guardar o sonho numa gaveta e retomar meu outro lado criativo: aquele que fazia as propagandas inventadas.
E assim foi. Investi nesse caminho fortemente. Só que, mais uma vez, percebi que se o que eu criasse não estivesse pautado no que as pessoas e as marcas querem e precisam, de nada valeria o esforço.
Nesses dez anos de carreira publicitária, vi o quanto nossa criatividade é autocentrada. E vi o quanto os criativos esquecem de olhar para as pessoas. Para seus sentimentos, comportamentos e histórias.
Crise. Sim, tive uma minicrise em 2015, porque não estava mais enxergando valor naquilo que eu fazia. De repente, como num estalo, a música voltou a fazer parte da minha vida. E sabe como? A serviço das pessoas.
No fim desse mesmo ano, criei uma empresa chamada Músicas Personalizadas. O nome pode não ter nada de criativo, mas o propósito tem: fazer músicas a partir da história de cada um. Músicas que contam histórias únicas, que falam dos sentimentos e sonhos.
E, por mais irônico que isso pareça, foi a partir daí que comecei a fazer campanhas melhores e com resultados mais efetivos. Porque voltei o meu olhar sobre as pessoas com as quais meus clientes precisavam se comunicar.
Eu sei. Talvez nossas criações não atravessem os séculos como os anfiteatros romanos, mas acreditem: se o propósito delas for focado nas pessoas, eu garanto que elas serão eternas enquanto durarem.
Elisa Gorgatti é sócia e diretora de criação da Today