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Dia 12 de agosto passado, fui ver o show dos Novos Baianos no Citibank Hall. Sonhava com a volta do grupo – que fundiu o samba com o rock’n roll e a guitarra com o cavaquinho – desde 1994, quando fiz um comercial para as sandálias Rider, em São Francisco, na Califórnia. O filme tinha como trilha sonora a canção Brasil pandeiro, do também baiano Assis Valente, na gravação original do mais famoso álbum do grupo: o LP Acabou chorare, de 1972.

Naquela época, conversei bastante com a minha amiga Baby Consuelo, hoje Baby do Brasil, sobre a falta que o grupo fazia para a música popular brasileira e para a música prapular brasileira. Baby me ouviu atentamente, prometeu apartar umas briguinhas internas da época da pré-história dessa história e promover a reunião do grupo – coisa que ela acabou conseguindo só 22 anos depois.

Apadrinhados por Tom Zé, lançados por João Araújo (o pai do Cazuza), que na época iniciava a gravadora Som Livre, e adotados por João Gilberto, que virou móveis e utensílios da comunidade onde todos moravam com poucos móveis e utensílios, os Novos Baianos foram a prova definitiva de que uma ditadura militar podia ser combatida com talento e alegria.

Seus discos, desde o primeiro, É ferro na boneca, lançado em 1970, até o último, Caia na estrada e perigas ver, lançado em 1976, são clássicos da música popular e prapular cultuados no mundo inteiro. Assim como as famosas peladas jogadas no sítio Cantinho da vovó, em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, se transformaram num clássico do cinema cult por meio do documentário Novos Baianos Futebol Clube, de autoria do Solano Ribeiro, responsável também pelos mais famosos festivais da história da nossa música.

Na noite de 12 de agosto de 2016, a vitalidade e a eternidade das canções dos Novos Baianos ficaram mais do que evidenciadas para uma plateia que incluía desde pré-senhores de idade, como eu, até pré-adolescentes, como os meus filhos mais jovens, um casal de gêmeos de 12 anos de idade.

Baby Consuelo (hoje do Brasil por causa da antiga W/), Moraes Moreira, Pepeu Gomes, Paulinho Boca de Cantor, o poeta Luiz Galvão e a fabulosa banda encantaram a todos com momentos absolutamente mágicos, como as interpretações de Samba da minha terra, Preta pretinha, A menina dança, Acabou chorare, Brasil pandeiro e a mitológica Mistério do planeta: “vou mostrando como sou / e vou sendo como posso / jogando meu corpo no mundo, / andando por todos os cantos / e pela lei natural dos encontros / eu deixo e recebo um tanto / e passo aos olhos nus / ou vestidos de lunetas, / passado, presente / participo sendo o mistério do planeta”.

Para quem, como eu, acredita e defende que, na publicidade e na vida, o gesto de recriar o já existente muitas vezes é tão ou até mesmo mais importante do que fazer o novo de novo, um espetáculo como a volta dos Novos Baianos é adrenalina pura, muita endorfina, como diria a Baby; inspiração na veia.

É ferro na boneca. É no gogó, neném.

Washington Olivetto é chairman da W/McCann e CCO do McCann Worldgroup América Latina e Caribe