“O Brexit aconteceu. E isso mostrou que todas as pessoas que deveriam te informar sobre o mundo – jornalistas, políticos, experts – não sabem de nada. Mostrou que eles, assim como você, vivem em um mundo de sonhos, desconectado da realidade.”
Esse trecho faz parte do documentário HyperNormalisation, do cineasta Adam Curtis – você encontra fácil no YouTube – que assisti logo depois das eleições aqui nos EUA. Dá para substituir “Brexit” por “eleição do Trump” que tudo continua fazendo o mesmo sentido.
Esse documentário, somado à enorme onda de questionamentos sobre algoritmos e o impacto disso no resultado das eleições e na nossa opinião em geral, fez com que eu olhasse para a minha dinâmica de relações – virtuais ou não – e questionasse o quanto eu alimento essa grande câmara de eco.
Acredito que existe um conforto em estar dentro dessa câmara, em reconhecer nossas opiniões nos outros e sentir que elas transcendem as nossas timelines e conversas de bar, mas, depois de assistir esse documentário, me veio uma urgência de viver no desconforto que é estar cercada de visões e opiniões diferentes. E se tem uma coisa que me inspira é o diferente.
O ‘diferente’ é algo que somos mais estimulados a temer do que a explorar, a nos proteger do que abraçar; não à toa a conversa sobre diversidade e empatia vem ganhando força a cada segundo. E estimular essa conversa tanto dentro de casa quanto no trabalho é uma das grandes atitudes que podemos tomar como indivíduos que querem uma visão sobre diversidade e aceitação mais ampla em nossas vidas
Existe um projeto que eu admiro muito, e com o qual aprendo um pouco a cada dia, chamado Carlotas.org.
Com o foco em desconstrução do perfeito, respeito e empatia, Carlotas usa uma metodologia lúdica para conversar com crianças, professores e empresas – porque entende que é uma conversa importante desde a base de nossa educação e formação como indivíduo até a liderança de empresas e tomadas de decisão. Carlotas existe porque a sociedade não dá a devida importância a explorar e entender o diferente.
Olhando para a nossa indústria, poderíamos nos inspirar cada dia mais em Carlotas e tantas outras iniciativas incríveis que existem por aí, pois é uma das poucas indústrias que de fato conseguem impactar e mudar comportamentos em larga escala. Porém estamos falando de um mercado que ainda é prioritariamente comandado por um grupo homogêneo de pessoas – homens brancos.
Veja bem, a minha intenção aqui não é o ataque, mas sim um convite a uma reflexão: Nos dias de hoje, você acredita que uma indústria comandada por um único grupo de pessoas é capaz de promover as mudanças necessárias que o mercado e nossa sociedade precisam? Você acredita que diversidade de perfis e opiniões pode construir uma perspectiva mais real das coisas e influenciar decisões que não privilegiam somente certos grupos? A minha opinião vocês já podem imaginar qual é.
Portanto, você que está lendo essa coluna, se você, você, você e todos nós nos unirmos para fomentar a empatia e a diversidade nas nossas empresas, casas e conversas, o impacto positivo será imensurável. E não existe nada mais inspirador do que isso.
Chiara Martini é diretora de Social Strategy da DDB New York