Na minha opinião, nada é mais inspirador do que observar, escutar, conversar, sair pra beber e amar as pessoas.
Amar inspira muito, claro. Mas não a si próprio, só. Não estou dizendo que a gente não tem de se gostar, mas hoje há um certo exagero, convenhamos (risos).
As pessoas são a nossa maior inspiração. E criar para elas é o grande prazer da criação. Mas, às vezes, quando esquecemos disso, olhamos só para nós mesmos. Ou para coisas, tentando substituí-las como fonte de inspiração, como no caso da tecnologia, por exemplo.
Porém, tudo, absolutamente tudo, é criado e feito para as pessoas. Sendo assim, precisamos conhecê-las bem ou, pelo menos, tentar. E nos conhecer bem também – o que é muito difícil, eu sei. Esta é a minha grande motivação. E estar com a família e os amigos é sempre inspirador. Gosto de saber o que todos pensam, o que sentem, o que gostam e o que fazem. Comemorar com eles. Sofrer com eles. E, acima de tudo, sempre respeitando as diferenças.
Para mim, as pessoas verdadeiras são as mais interessantes, porque simplesmente são mais humanas e originais. Elas falham, tropeçam, caem, sentem medo, erram e erram de novo. Mas fazem, e continuam fazendo. Mesmo que o feito não as leve a lugar nenhum. Estão sempre buscando estar felizes. São as que se preocupam menos com o que os outros acham ou pensam e, geralmente, não estão nem aí com as aparências e com dogmas.
Gente educada e gentil me inspira muito também. Até para me lembrar de como eu deveria ser sempre. No trabalho e na vida.
As pessoas que me inspiram são aparentemente bem comuns. Outras nem tanto: a minha mulher, Neu, por exemplo, que é estilista e acabou de voltar de Angola, onde estava ensinado moda para surdos. Ela também é voluntária de outro projeto maravilhoso: ensinar as garotas de programa na região da Cracolândia a produzir bolsas a partir de jeans reciclados e, com isso, a criar uma fonte de renda para sair das ruas. Quer pessoa mais inspiradora? Os meus filhos, Matheus e Gabriel, cada um no seu estilo e com seus aprendizados, estão constantemente me incentivando a exercitar novos olhares. Mas tem muito mais “gente que inspira” aí: Jesus; Lucian Freud; Jenny Saville; Almeida Júnior; Ed René Kivitz; Anne Tyler; Branca, do Branca Esportes; Jonathan Franzen; Ian McEwan; Elmore Leonard; João Boca; Leonardo Asprino; Kubrick; Spielberg; Spike Jonze e por aí vai, uma lista interminável de “inspiradores” com seus trabalhos, suas histórias e sabedorias.
E o que tudo isso tem a ver com a propaganda? Tudo! As referências estão aí, no nosso dia a dia. Nas pessoas. Na gente.
E, pra não dizer que não falei de mim, sou artista plástico por formação e publicitário por opção. Gosto de ler, pintar, de correr, jogar tênis e tranca. Assistir futebol, ficção científica e western. Beber cerveja e vinho. Já fiz marcenaria e agora faço teologia. Nada a ver uma coisa com a outra? Mas são essas contradições, tão normais na vida da grande maioria das pessoas, que as tornam uma fonte inesgotável de inspiração. Ainda bem.
Ricardo Papp é diretor-geral e diretor de criação da Y&R São Caetano do Sul