Acho que inspiração começa bem antes do berço. Começa no dia em que uma minúscula célula começa a se dividir, com base num código, chamado de DNA, que vai determinar as cores dos teus olhos, a altura e a mão com a qual você vai escrever (no meu caso, a esquerda). A genética acabou me deixando dois grandes legados. O do meu pai: engenheiro, metódico, professor pardal e sonhador. E o da minha mãe: advogada, humana e resolvedora. É assim que acredito que desenvolvi as minhas duas maiores paixões, minhas fontes de inspiração.
A primeira delas veio do meu pai. Neste caso, não no formato de DNA, mas de um computador 386 que tínhamos em casa. Meu pai – um mexicano – era o Steve Jobs latino. Adorava ficar comprando peças de computadores e ir montando o próprio PC. Eu me interessei mais pelo uso do PC. Gostava de jogar jogos clássicos, como Prince of Persia e Gorilla.bas. O trambolho demorava mais de 15 minutos para ligar, mas quando estava quente (precisava esquentar) passava longas tardes brincando e descobrindo comandos no DOS.
Com 13 anos de idade, comecei a ganhar um dinheiro revendendo hospedagens de sites e aos 15 comecei a programar. Fiquei simplesmente encantado pela programação. Alguns anos depois, já na faculdade de engenharia, desenvolvi o meu primeiro jogo de celular. Isso em 2002. O celulares eram supertoscos e você precisava ter muito cuidado para não estourar a memória deles.
Inspirava-me (e continuo me inspirando) na beleza e simplicidade das linhas de código. Elas representam a lógica na sua forma mais elementar, eliminando toda a subjetividade de adjetivos e palavras sem propósito. Lembro-me que a aula que mais mexeu comigo foi a de compiladores, onde acabei aprendendo a construir um compilador (um programa que transforma código em programas, meio inception), pois ele tem como base um modelo de matemática, chamado autômato finito, que é extremamente simples e poderoso.
Essa minha veia de engenheiro foi o que terminou guiando uma boa parte da minha vida. Eu seria um programador até hoje se não fosse pela minha segunda grande fonte de inspiração… A mente humana. Essa acredito que seja culpa da minha mãe. O DNA de advogado deve ter sofrido uma pequena mutação, se transformado em psicólogo. Aos meus 15 anos, fiz um aula de psicologia e fiquei fascinado pela forma como as escolas dessa área tentavam definir o comportamento humano.
O jeito frio e calculista da Escola Comportamental do BF Skinner me chamou atenção por ser muito objetiva e clara. Seu livro Walden II é, até hoje, um dos mais doidos que já li. A escola de Psicanalise do Freud foi a que menos me agradou. Encontrei-me mesmo na escola Cognitiva, que tinha como base o uso do método experimental para explicar o comportamento humano. Lia os livros por vontade própria, mas num mundo de bits and bytes não tinha muito onde aplicar aqueles conceitos.
O destino me levou a abrir uma agência e, sem querer, achei um jeito de juntar minhas duas fontes de inspiração: a tecnologia e a mente humana. Descobri uma paixão pela comunicação e explorei ainda mais esse lado através de estudos de Neurociência, onde vi que é possível compreender na sua verdadeira essência qual é o impacto da comunicação na mente de um ser humano. Tenho a sorte em poder dizer que minha inspiração se tornou meu trabalho, pois consigo expressar esses códigos genéticos passados pelos meus pais nesses dois mundos – e, no final, descobri que não eram tão divergentes assim.
Marcos Del Valle é sócio, diretor de comunicação e consulting da agência Jüssi