“O samba me traz tanta recordação. Enche a minha alma de inspiração.” 

Muito antes do início da propaganda como a conhecemos hoje, bem longe das métricas e KPIs, ainda como aprendiz de ganzá e tamborim, Cartola, Noel e Vinícius de Moraes me levaram a lugares mágicos e inimagináveis que eu sentia saudades mesmo sabendo que não vivi naquela época.

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De forma simples, fazendo um paralelo com nosso mercado, grandes obras foram e são criadas, principalmente, pelas referências e bagagens de seus autores, que expressam em estrofes e versos o resultado de seus sonhos e inspirações.

E há sete anos, quando presenciamos o nascimento da Peppery, o samba nos acompanha das mais diferentes formas. Seja representado em algum grafite em nossa parede, em uma homenagem ao centenário de Dorival Caymmi, afinal criamos em 2014 um vídeo musical com a participação de Toquinho, Claudio Zoli e produção de João Marcello Bôscoli, ou até mesmo em documentários autorais de carnavais e velhas guardas que foram filmados, roteirizados e finalizados dentro de casa.

Assim como em nosso último projeto “sem briefing”, em que eu, meu sócio Bruno Bernardo, e o diretor de criação da agência, Felipe Branquinho, saímos com algumas câmeras na mão para retratar a belíssima história de uma reunião de sambistas na Casa de Cultura de Santo Amaro, chamada Samba da Vela. Uma espécie de sarau que é realizado religiosamente todas as segundas-feiras e tem como objetivo dar continuidade ao samba de raiz, além de valorizar e gerar oportunidades para o novo compositor, que é um propósito genial. O samba começa assim que a vela é acesa e, de maneira muito educada e sutil, a música termina assim que a vela se apaga. A lendária Beth Carvalho é a madrinha do local que viu o primeiro samba da vela ser realizado, em 17 de julho de 2000.

Um lugar como esse revelou diversos talentos do samba e testemunhou passagens de figuras importantes da nossa música. É, hoje, um ponto quase obrigatório por aqueles que amam e visitam São Paulo profundamente, sendo ou não daqui.

Mas a luta dos fundadores é diária para manter o projeto, que está enfrentando diversos obstáculos por falta de recursos e reconhecimento. Mas a cada roda de samba é inspirador ver José Marilton, o Chapinha, acendendo a vela e, com maestria, levantando a comunidade frequentadora com a mais pura magia, a essência do samba.

Após um ano de filmagens, viagens e depoimentos, o documentário tomou forma e será exibido em breve nas principais casas de cultura de São Paulo e concorrerá a alguns festivais de curta-metragem. Mas, para a Peppery, foi muito além disso. Foi a maneira mais gostosa e inspiradora de sair das intermináveis reuniões e passar tardes como contrarregra e ajudante de cena, tomando um café com Beth Carvalho ou ouvindo o mestre Monarco na quadra da Portela.

De tudo isso, a inspiração por esse gênero centenário é a fonte para somarmos nosso hobby com o que fazemos de melhor em nosso dia a dia: contar histórias e embalar conteúdos.

São por projetos como esse que eu repito os versos do poeta, dizendo: “Quem não gosta de samba, bom sujeito não é. É ruim da cabeça ou doente do pé”.

Guilherme Pierri é CEO da Peppery e autor do site Raiz do Samba