Quando eu era pequena, meu pai costumava me presentear com coisas meio diferentonas, além das inevitáveis bonecas.
Ganhei lupa, binóculo, luneta, microscópio. Olhei muita formiga esmagada, muito fio de cabelo arrancado à força e, confesso, algumas janelas de vizinhos também.
Um dia ele veio com um caleidoscópio. E, de todos os presentes esquisitos, esse sempre foi meu preferido. Olhei aqueles caquinhos que se moviam ao meu comando como quem redescobria o olhar.
Com eles criei rostos, monstros, bichos e paisagens. Passei horas com os olhos pregados ali, alimentando um estrabismo que me acompanha até hoje.
Aquele primeiro exemplar se perdeu pelo caminho, e passei muito tempo procurando um novo. Recentemente consegui.
Como brinde, daqueles que as empresas distribuem em eventos e aos quais a gente nem presta muita atenção. Vibrei como criança quando abri a sacolinha e vi que não era uma caneta. Finalmente, um caleidoscópio para carregar comigo por aí.
Um dia me perguntei por que gostava tanto dele. Que fascinação era essa, que ia além do passatempo, do apreço pela estética, do jogo em si? Simples: um caleidoscópio é um jeito lindo de descobrir a sensação boa de que nada permanece igual.
Sou desse tipo de pessoa que encontra mais equilíbrio no movimento do que na estabilidade. Gosto demais do que está por vir, do que ainda não enxergo, do inesperado, do próximo passo. Gosto da impermanência, preciso dela.
Talvez isso explique meus 13 empregos ao longo da carreira (para quem duvida, o número traz sorte, eu garanto).
Ou a vontade inexplicável de aprender patinação depois dos 40 anos. Os patins, eles também, são uma lição de equilíbrio em movimento. O novo esporte não durou, mas ficou a certeza de que mudar é muito mais do que eu preciso.
Se você também é desses ou dessas que não suportam paradas, não haverá época melhor para trabalhar em comunicação do que o momento que estamos vivendo.
Parece que as disciplinas – antes tão bem separadinhas em marketing, propaganda, publicidade, relações públicas, comunicação, branding e por aí afora – se quebraram em mil pedacinhos recombinantes.
Assim, meio na marra, o que fazemos hoje virou um imenso caleidoscópio. Cada desafio pode ser resolvido com centenas de configurações estratégicas possíveis. Quanto mais misturamos as peças, melhor o resultado final.
Temos mais perguntas e menos certezas. Como vai ser o nosso trabalho daqui a cinco anos? Em quanto tempo teremos um robô em nossas equipes? Qual será o futuro das relações públicas? No que vai se transformar a propaganda? O que ainda será possível fazer com big data, inteligência artificial, realidade virtual? Como será o nosso mercado em 2020?
Não sei e adoro não saber.
Bom mesmo é ser uma pecinha colorida nesse caleidoscópio apressado. Não conhecer o desenho seguinte, mas fazer parte dele. Mais do que isso, inspiração de verdade é ser capaz de impulsionar o próximo giro, ser ao mesmo tempo sujeito e objeto do que quer que estejamos construindo.
Patricia Ávila é CEO da Burson-Marsteller