Você já viveu a seguinte situação? Em uma viagem, vai atrás de um restaurante com uma comida incrível indicado por uma pessoa que é do próprio local, ou de uma lojinha muito escondida cheia de coisas especiais, mas acaba se perdendo e encontrando algo mais surpreendente e inspirador, que acaba ofuscando aquele objetivo inicial?

Art of Life/Shutterstock

Comigo isso acontece desde sempre. No início, acontecia porque ainda não havia a facilidade da geolocalização e depois, pelo puro prazer do inesperado. Passei a viajar desse jeito, com alguns pontos de interesse espalhados e eu ligado nas surpresas que viriam entre eles.

Assim dei de cara, por exemplo, com os melhores doces que comi em Paris simplesmente enquanto caminhava, ou melhor, flanava em direção a um museu.

Encontrei os chapéus mais coloridos do Soho perto da minha loja preferida de material de desenho… Já em Londres, uns croissants bem crocantes, quase ao lado da livraria onde encontrei alguns dos mais inspiradores livros sobre ilustração que tenho em minha coleção.

Volta e meia, eu encontro alguma pintura ou frase incrível nos meus passeios a pé pelas ruas da cidade de São Paulo.

E por falar em ilustração, também foi a partir de uma referência que conheci a arte dos caras que influenciaram o traço que tenho hoje. Meu trabalho sempre foi centrado na figura humana, então as figuras douradas e onipresentes de Klimt me levaram aos corpos magros e cheios de tensão sexual pintados por seu discípulo mais radical, Egon Schiele, que, por sua vez, me levou ao trabalho de um conterrâneo seu mais recente, mais otimista e muito mais colorido, Hundertwasser.

Divulgação

As cores de uns e os traços de outros, junto com as muitas mitologias do mundo, contadas de um jeito simples e gostoso nos livros de Joseph Campbell, ajudam a criar as minhas histórias. Aliás, não é nenhuma novidade que a mitologia é uma fonte riquíssima de inspiração. Não foi à toa que serviram como base da psicanálise. As imagens dos deuses maias e suas cerimônias são tão ricas quanto as dos surrealistas, só que foram criadas quase mil anos antes.

Falando em surrealistas, para mim o primeiro e mais inspirador deles foi Hieronymus Bosch, que viveu 500 anos antes do movimento.

Se em passeios e viagens o elemento surpresa é bem-vindo, nas nossas pesquisas pelos Instagrams, Facebooks, Vimeos, Pinterests e Youtubes da vida, isso é uma constante. Nossos artistas vizinhos são cheios de talentos, muitas vezes pouco conhecidos e quase sempre disponíveis para trocar uma ideia.