Antes de chegar à parte poética, quero dizer que minhas principais musas são a “Contas a Pagar” e a “Data de Entrega”. Crescer numa família de classe média baixa no interior da Bahia, pais acadêmicos e com vários empregos para fechar a conta no fim do mês te ensinam isso. Em nossa casa, sempre existiu a urgência de se criar para ser pago ou inventar algo novo para mais cedo ou mais tarde ganhar algum. Então acho que minha família é uma das minhas maiores fontes de inspiração…
Meu avô paterno era um “engenheiro prático”, que construiu inúmeras estradas no interior da Bahia usando sua experiência e intuição, sem nunca ter ido à faculdade. Mais tarde, outros engenheiros formados ficaram admirados com sua habilidade de ter realizado aquilo sem educação formal.
Antes de me mudar para o Rio, aos 9 anos de idade, eu achava que meu avô materno era aquele velhinho gordo e barbudo da foto em preto-e-branco de nossa sala em Vitória da Conquista, Karl Marx. Sim, para mim Karl Marx era Nelson Rodrigues.
Ao chegar ao Rio, descobrir quem era Nelson Rodrigues, ver meu tio-avô nome do Maracanã (Mario Filho) e entender que o pai da minha mãe morreu com menos fama e grana do que ele mereceria, desenvolvi a obsessão de descobrir novos modelos de criação e negócios para novos e antigos criadores de histórias.
Meus avôs me inspiraram a pensar novas maneiras de fazer as coisas.
Minha primeira fonte de inspiração foi, sem dúvida, minha mãe. Foi ela que me mostrou como construir uma carreira independente e bem-sucedida no setor privado e acadêmico, lidando com o peso de ser filha de Nelson Rodrigues. Com ela, abri minha primeira empresa e vendi um jogo educativo, que criamos juntos, em escolas públicas dos 15 aos 17 anos de idade.
[Ela me deu os livros de contar histórias mais importantes da minha vida: 1) A Bíblia – “Leia como uma fonte de histórias e não como religião” – ela dedicou na primeira página quando eu tinha 12 anos; 2) O Poder do Mito, de Joseph Campbell (entrevistado por Bill Moyers), base para qualquer roteirista; 3) Obra Completa de Shakespeare, em inglês, (momento crucial em que acelerei meu controle do idioma com a ajuda da MTV e seus clipes); 4) Introdução à Prática Amorosa, de Moacyr Scliar. Claro que houve centenas de livros, filmes e outras narrativas que ela me apresentou, mas esses marcaram e me construíram profissionalmente. Na nossa casa, poderíamos estar apertados de grana, mas sempre comprávamos e trocávamos livros em sebo, íamos a peças de teatro e ao cinema.
Vindo um pouco para o presente, a minha maior inspiração é Katie, minha mulher e sócia. Ela mostrou que havia um caminho para mim fora de publicidade, me dedicando completamente à narrativa e produção para TV e cinema. Ela, que já fazia isso para ONGs e fundações na Nigéria, Egito, Papua-Nova Guiné e México, produzindo séries de TV e radionovelas, passou dois anos me ajudando a fazer essa transição até o ponto de virarmos sócios e produzirmos uma série que quebrou diversas regras da TV norte-americana: East Los High. E no meio do caminho fomos indicados ao Emmy, ganhamos Leão em Cannes com a série e hoje produzimos a quarta temporada (feito que só 2,5% das séries conseguem alcançar).
Outra fonte de inspiração para mim são e foram meus mentores e mentoras, pois, na verdade, eles sempre compartilharam comigo seus repertórios, experiências, livros, viagens, quedas, lombadas e ascensões profissionais: Carla Esmeralda (curadora e produtora do Rio Content Market), Orlando Lopes (Kantar Ibope), Henry Jenkins (Universidade do Sul da Califórnia e autor de Cultura da Convergência, livro que mudou minha carreira), Nicole Clemens (VP de Desenvolvimento dos canais FX e considerada uma das 100 mulheres mais poderosas de Hollywood), Jonathan Taplin (Laboratório de Inovação da Annenberg School, produtor dos primeiros filmes do Scorcese e um cara que trabalhou com Dylan e Joplin), Luis Erlanger (que foi meu chefe na TV Globo por dois anos), Sylvia Panico (hoje na David) e por último, mas não menos importante, Paulo Camossa, que me mostrou como o departamento de mídia e as outras áreas de uma agência devem realmente trabalhar.