Eu poderia dizer que foi um livro, entre tantos que passaram pela minha cabeceira. Poderia afirmar que foi um filme ou uma série – que até foi, mas deixa que eu conto mais para frente. Poderia, ainda, falar que uma viagem, um museu, uma praia ou até uma festa cheia de, digamos, insumos para inspiração. Mas não, o grande trampolim que me faz saltar do nada para uma grande ideia chama-se ser humano. É nas pessoas, com suas histórias, sonhos, vontades, dificuldades, desejos, crenças, achismos ou resistências, que eu busco alimento para criar do mais banal ao mais complexo projeto. Longe de qualquer teoria da psicanálise, mas a verdade é que eu vivo analisando gente.
A inspiração anda junto com a curiosidade e eu aprendi isso ainda no começo da carreira, naqueles momentos de bloqueio mental em que eu jurava que me enfiar na frente de um computador com o fone de ouvido, alheio a qualquer movimentação ou conversa, resolveria a vida. Não resolvia. E então eu resolvi sair e escutar uma conversa ali, outra aqui, e as coisas começaram a fluir. As pessoas não sabem, mas sempre foram cocriadoras de grandes ações. Não necessariamente com ideia ou input, mas com uma sabedoria que Freud explicaria.
E trazendo para realidade atual, isso ganha uma dimensão ainda maior. Desde que me joguei, digo mudei, para os Estados Unidos tenho me inspirado ainda mais nessa novela chamada homem. E homem em todas as suas formas, mesmo que essa forma seja menor do que 1m10. Como tenho clientes, como Chuck E. Cheese’s e Party City, que falam diretamente com o público infantil, decidi me voluntariar como auxiliar técnico no PBFC (Pompano Beach Football Club) de um time de futebol para crianças. Cara, que aula. Enquanto eu dou pitacos sobre a bola no pé, escuto deles histórias que enriquecem a minha vida e, de quebra, ainda treino o inglês, que, diga-se de passagem, é uma aventura à parte.
Falando no inglês e sobre a experiência que estou vivendo por aqui, resolvi me inscrever nas aulas de uma escola pública no bairro mais carente de Pompano Beach. Como tenho clientes que falam diretamente com a classe C, decidi ir a fundo no universo. E é lá, ouvindo desejos e dificuldades (por que não, aqui também não é tudo brilho, como muitos pensam) me inspiro assertivamente, falando exatamente com quem eu preciso falar. A conclusão que chego diante disso tudo é: quem disse que fofoqueiro não tem um lado bom? A tia da janela se profissionalizou.
E agora, indo para o lado mais prático de algo que toda essa inspiração resultou, conto com orgulho dois cases que mais do que reconhecimento profissional – e olha, que teve até Leões e Clios, me fizeram melhor como pessoa. O primeiro é o Meeting Murilo, que possibilita que mães com deficiência visual consigam sentir o rosto de seu filho antes mesmo do nascimento, por meio de uma impressora 3D. O segundo, um projeto que virou filho, é o Deaf Beats, um fone de ouvido que transforma onda sonora em vibrações e permite que pessoas com deficiência auditiva possam sentir o calor da música. E ah, nem preciso dizer que a criação também veio de um sonho, ou seja, de alguém de carne, osso e desejos infinitos.
E por fim, como sei que muitos livros, filmes e séries serão citados entre os renomados profissionais que estão participando desta seção, também quero deixar minha dica, daquelas que motivam e realmente fazem a diferença: O Grande Hotel Budapeste, filme anglo-alemão que te tira do chão com uma comédia inteligente. Vale a pena. E ah, não deixem de lado passeios antropológicos.
Pronto, parei, já passei os caracteres. Mas é que, né, esse assunto me inspira.
André Felix é SVP/Digital Creative Director na Zimmerman Advertising Omnicom Group