A CES (Consumer Electronics Show) tem como missão apresentar as principais tendências de consumo de eletrônicos para os próximos anos. Com o tempo, foi atraindo outras indústrias, como a automobilística, que esteve em peso no evento deste ano. Seus números são superlativos, sob todos os pontos de vista: a edição 2018 da feira, realizada na semana passada, reuniu 184 mil inscritos, 4 mil empresas e 1,2 mil palestrantes. 

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Em meio a produtos relevantes que certamente estarão nos lares nos próximos anos, e algumas traquitanas futuristas que talvez não tenham o futuro almejado, houve uma tendência dominante: a inteligência artificial (AI) interligada aos mais diferentes objetos a serviço dos seres humanos.

Nos lares, a tendência da “casa conectada e inteligente” já é realidade. As chamadas “assistentes virtuais” já foram apresentadas na feira 2017, mas neste ano, Amazon, com Alexa; Google, com Google Assistente; e outros players estão saindo do campo dos protótipos e indo para a prática, em uma grande corrida que une empresas de tecnologias e fabricantes de eletroeletrônicos em parcerias que viabilizam a AI no maior número de objetos conectados possíveis.

Esses acordos estão ocorrendo por conta de números impressionantes: as caixas de som Echo (Amazon) e Google Home (Google), que têm a funcionalidade das assistentes virtuais de cada uma, já venderam, juntas, cerca de 27 milhões de aparelhos nos Estados Unidos em 2017, de acordo com dados da Consumer Intelligence Research. Eles e outros mecanismos como o HomePod, da Apple, possibilitam aos consumidores dar ordens aos dispositivos do lar, responder perguntas, ajustar alarmes, mudar a temperatura do ar-condicionado, tocar músicas e uma infinidade de funções, enquanto eles aprendem a se adaptar às necessidades de cada indivíduo. Em vez de precisar aprender a mexer nos equipamentos, as pessoas é que passam a ensinar o que eles precisam fazer.

Para as marcas, se abre mais uma oportunidade: entender como podem se conectar com o consumidor através dos assistentes de voz nos lares. Uma mostra desse potencial foi o case Google Home of the Whopper, da David Miami para Burger King, que faturou o Grand Prix em Direct Lions no Cannes Lions 2017.

Na ação, um filme de 15 segundos veiculado na TV trazia uma chamada ao Google Home do lar da pessoa para descrever o Whopper, através de uma pesquisa na Wikipedia. Após o lançamento, o Google bloqueou essa possibilidade, o que não impediu a ideia de se consagrar como uma das principais do ano passado, de acordo com o festival. Mas há muito mais a ser desenvolvido pelas marcas no futuro e as possibilidades estão se tornando mais claras.

Mar de novidades

Entre os lançamentos apresentados na CES, o Google trouxe o Smart Display, speaker equipado com display com app do YouTube e Google Assistente. Trata-se de uma parceria com a Lenovo, fornecedora das telas, que permite às pessoas fazer uma pergunta ao Google e obter a resposta em telas.

Recentemente, a Amazon, que lidera o mercado de assistentes virtuais, lançou o Echo Show, com funcionalidades parecidas. Já entre os fabricantes, a LG anunciou uma TV com inteligência artificial que usa a ferramenta de AI do Google para mudar de canal e fazer buscas na internet a partir de comandos de voz. A mesma empresa, que aproveitou o evento para lançar uma TV de 88 polegadas, e resolução 8k, além de uma nova linha de tela OLED, mostrou sua nova plataforma de inteligência artificial ThinQ, que conecta as pessoas com seus dispositivos digitais no lar. O comando de voz pode, por exemplo, acionar aparelhos de TV, fones de ouvido, equipamentos de áudio, ar-condicionado e outros produtos do portfólio.

Mais do que isso: esses equipamentos podem aprender as preferências do consumidor, seja a temperatura do ar, ou o tipo de tecido que está sendo lavado na máquina de lavar. Ele tem conexão com Echo e Google Home.

Uma situação curiosa do evento, vivida pela LG, foi uma falha do robô CLOi durante a apresentação. Ele ignorou ordens de David VanderWall, vice-presidente de marketing da fabricante nos Estados Unidos. “Mesmo os robôs têm seus dias ruins”, brincou ele.

Já a Samsung adotou a marca SmartThings para unificar os seus produtos de Internet das Coisas, que incluem itens do lar como smarTV, ar-condicionado, lava-roupas e geladeiras, que podem ser controlados por celular. A empresa também tem agora a Bixby, assistente virtual que só fala inglês e coreano, por enquanto.

Próxima Fronteira

Além de mostrar que as assistentes de voz estão se massificando no lar, a CES trouxe inúmeras outras novidades. Não dá para deixar de falar, por exemplo, do protótipo de veículo autônomo de Pizza Hut, uma parceria com a Toyota, que permite entregas em um carro sem motorista.
Assim como as fabricantes de eletroeletrônicos, as principais montadoras do mundo estão fazendo acordos para colocar inteligência artificial nos veículos, gerando oportunidades para as marcas. Os assistentes como Alexa, Google Assistente, Cortana (Microsoft) e Siri (Apple) permitirão aos motoristas ensinar as máquinas a acender os faróis ou abrir a garagem quando necessário, por exemplo.

A curva de adoção da AI nos veículos é mais lenta do que a dos assistentes domésticos. Mas é uma tendência inexorável que, em um futuro próximo, a maioria dos carros se torne mais conectada e seus sistemas sejam capazes de resolver inúmeras situações com inteligência própria.

Para as marcas, os carros podem se tornar, em breve, uma grande plataforma de marketing, que inclua, por exemplo, projetos que já estão no mercado, como os anúncios nos mapas com GPS, ou iniciativas inéditas, como carregamento de carros elétricos patrocinado.

O primeiro passo para que os carros se tornem atrativos para as marcas já está sendo dado: a busca pela massificação da AI neles. A Toyota anunciou na CES que alguns modelos 2018 passam a incluir o Alexa.

Em 2019, haveria ampliação para a maioria do portfólio de modelos da empresa. O mecanismo permitirá ao motorista obter mapas e direções, controlar o entretenimento de bordo, acessar notícias, enviar lembretes e acionar funções do carro por comando de voz. Haverá conectividade com dispositivos de AI do lar, o que possibilita, por exemplo, ligar o ar-condicionado de casa na hora certa. Na feira, a Toyota anunciou ainda o e-Palette, solução on-demand para veículos autônomos – que possibilitou o projeto em parceria com a Pizza Hut.

A Ford já havia lançado uma iniciativa em que os motoristas podem fazer pedidos no Starbucks usando o Alexa, da Amazon. Agora, na CES, anunciou parceria com a Qualcomm para ampliar a conectividade de devices do carro.

Será possível, por exemplo, conversar com a sinalização de ruas e estradas. O farol vermelho, por exemplo, pode fazer o carro parar automaticamente. Trata-se de uma solução dentro do conceito de “smart cities”, em que o carro “conversa” com a cidade.

A Volkswagen apresentou uma parceria com a nVIDIA para desenvolvimento de tecnologia para automóveis autônomos. O sistema permite análise de dados de telemetria e execução de algumas tarefas, como reconhecer o motorista e destravar a porta para ele. A van I.D. Buzz, substituta da Kombi, será produzida a partir de 2022 e trará o mecanismo.

A Hyundai aproveitou a CES para apresentar o protótipo Nexo, um SUV movido a hidrogênio. Também mostrou sua assistente pessoal para os carros, que estarão nos modelos a partir de 2019. O Intelligent Personal Cockpit inclui reconhecimento de voz através da tecnologia SoundHound, uma assistente pessoal com inteligência artificial e tecnologia de internet das coisas. Algumas possibilidades da ferramenta: operação de acessórios dos veículos, reconhecimento de múltiplos comandos de uma vez, e conectividade com tecnologias de smart home.

A interação entre homem e máquina, que por décadas se deu através do olhar e de cliques nos mouses e smartphones, está há algum tempo migrando para a voz e inteligência artificial. A CES, definitivamente, reforçou essa tendência em sua edição 2018.