Executivas também falam sobre o que está sendo feito hoje para que os problemas não se repitam ‘Passei por situações de assédio tão constrangedoras que têm impacto em mim até hoje’. ‘A nossa opinião muitas vezes é desconsiderada’. ‘As interrupções em reuniões, dúvidas sobre a nossa capacidade’. ‘A pior das dores foi descobrir que estava grávida e meu chefe, na época, falar que não teria licença-maternidade porque era PJ’. ‘A mulher no meio da publicidade precisar ser o dobro! O dobro profissional, o dobro presente, o dobro atuante'.
Esses são breves trechos de alguns dos relatos que o PROPMARK ouviu de mais de 25 mulheres que, atualmente, estão em cargos de liderança dentro de agências. Cargos esses que vêm sendo ocupados – em um ritmo lento – por elas, mas ainda longe de se comemorar. Por exemplo: um estudo divulgado no ano passado pelo Fórum Econômico Mundial, mostrou que, em uma escala global, a participação de mulheres em postos de liderança está em 37%, distante da equidade.
A verdade é que o caminho até a liderança não é o mesmo, se comparado com o percorrido pelos homens. No mercado publicitário, o cenário não é diferente. De acordo com uma sondagem feita pelo PROPMARK em parceria com a More Grls , as mulheres ocupam 44% dos cargos de liderança dentro das agências, mas quando olhamos para o cenário de executivos e e vice-presidentes, a porcentagem cai para 36%. No caso de mulheres como presidentes do setor, a queda é ainda mais brusca: apenas 10% das mulheres sentam na cadeira mais alta das agências.
Ao PROPMARK, as (poucas) mulheres que ocupam os cargos de tomadas de decisão e liderança relataram as suas dores, desafios e lutas ao longo de suas trajetórias.
Leia abaixo, na íntegra, todos os depoimentos:
"Acho que existem duas grandes dores que pautam todas as outras: a de ser ouvida e a de ser respeitada, e as duas estão intrinsecamente ligadas. A nossa opinião muitas vezes é desconsiderada, como se o fato de sermos mulheres diminuísse a nossa capacidade técnica. Ouvi uma vez que 'os homens são promovidos por seu potencial e nós, pelo que já fizemos'. Isso explica muita coisa. O machismo estrutural faz do mercado de trabalho em geral, e não só da indústria da comunicação, um ambiente onde as mulheres precisam se provar o tempo todo para serem reconhecidas, enquanto os homens podem ser promovidos para só depois mostrarem seu valor. E, há, óbvio, a questão do respeito. Já evoluímos muito em termos de assédio, mas brincadeirinhas inconvenientes seguem sendo um fator de desestabilização na trajetória de profissionais femininas em diferentes posições e mercados. Uma cultura de diálogo e de valorização da equidade de gênero precisa tocar nessas feridas para que possamos evoluir no ambiente corporativo como um todo" Sumara Osório, CSO da VMLY&R "As dores enfrentadas estavam associadas a preconceito racial e misoginia. Infelizmente durante muitos anos eu não conseguia identificar situações como comentários e citações recheados de viés inconscientes, silenciamento da minha voz em reuniões, projetos questionados e igualmente aprovados por colegas do sexo masculino e por fim, as promoções onde muitas vezes eu estava 'no final da fila'. Durante anos, tinha o 'plano de sobrevivência', sem mostrar nenhum tipo de sensibilidade ou confrontamento. Claro que isso trouxe consequências emocionais. Nos últimos anos, por onde passo, faço trabalhos de letramento e abro oportunidades para as vozes femininas, afinal, quando falamos de equidade de gênero, não estamos falando só das questões das mulheres e sim a questão econômica. Eu diria que o mercado está em evolução, mas há um trabalho muito grande a realizar. Diferenças salariais, falta de representatividade racial, PCD, infelizmente ainda são exemplos de dores no nosso mercado" Heloisa Santana, presidente-executiva da Ampro “Como mulher em um mercado, não só composto majoritariamente por homens, mas que ainda hoje reconhece prioritariamente os homens, foram muitos desafios. As interrupções em reuniões, as dúvidas sobre nossa capacidade, os assédios, as horas a mais de estudo e trabalho necessárias para provar nossa competência, horas que deixamos de ter com os filhos, a família, os amigos. Porém, essas situações traziam com elas a força. Força que as mulheres têm dentro de si, de tratar seu trabalho como uma de suas crias e não desistir dele jamais. De criar, formar e proteger equipes. De colocar sempre sua visão e lutar por ela, em prol da equipe, da agência e dos clientes. E assim vamos conquistando nosso espaço, lutando para que possamos inverter a lógica da história e que para as mulheres do mercado publicitário, o sucesso seja inevitável, e o sofrimento cada vez menor” Andreia Abud, VP de mídia da WMcCann "Trabalhei em agência boa parte da minha carreira. São ambientes machistas. Fato. Confesso que demorei para entender que esses ambientes eram machistas, pois a gente se acostuma com as piadas, os comentários, as interrupções, o “mainexplainning”, a falta de voz. O machismo é tão enraizado cultural e estruturalmente na sociedade, que por anos achei tudo isso era normal. Se ao mesmo tempo, a minha “ignorância” me protegeu e assim consegui transitar mais levemente por todo esses lugares, hoje, percebo, que passei por situações de assédio tão constrangedoras que têm impacto em mim até hoje. O mundo está mudando, eu mudei e as pessoas jovens não aceitam mais passar o que passei. Ainda bem. E o que faço como líder no mercado é ser agente transformador desses ambientes para que mulheres não sofram da ignorância de não entender o que as rodeia" Carol Escorel, COO da Talent Marcel "Há tempos a luta de mulheres pela equidade vem sendo pautada em termos oportunidades e voz, sendo quem somos. Não ter que se adaptar a modelos de gestão masculinos é um desses fatores. Mas, mais que isso, ter um olhar atento as nossas especificidades e necessidades. Entender que uma profissional obstante a questões como a maternidade continua sendo essencial, no tempo que se dedica ao trabalho, na qualidade de suas entregas e naquilo que promove na organização. É o que promove a sonhada equidade. Para o atual movimento de nossa sociedade uma questão muito importante são as vivências dessa mulher e como estas podem ser utilizadas de forma estratégica como um ativo na empresa" Rejane Romano, diretora de comunicação da DPZ “Meu maior desafio na construção da minha carreira foi sem dúvidas conciliar o lado materno e o lado familiar com o meu crescimento profissional. Imagino que essa seja a dor de muitas mulheres, não só na comunicação, mas em todas as áreas. Por isso, eu sempre busquei desassociar a minha capacidade ao meu gênero ou idade, e sim à minha entrega de resultados e postura profissional na agência e com os clientes. A cobrança sempre existiu, mas durante a minha trajetória na Ogilvy eu tive a sorte de receber muito apoio e valorização dos meus líderes e colegas, além do meu marido, que foi uma peça fundamental nisso tudo. E dando conexão aos nossos hábitos do David Ogilvy, tudo isso eu enfrentei com muita persistência e coragem, além é claro, com muita paixão pelo que faço” Denise Caruso, CCO (Chief Client Officer) da Ogilvy Brasil "As dores foram algumas, mas as batizei de dores do crescimento. Foi Inevitável senti-las para chegar até aqui. A pior das dores foi descobrir que estava grávida e meu chefe, na época, falar que não teria licença-maternidade porque era PJ e que se eu saísse mais de dois meses não precisava voltar. Juntei duas férias para cuidar do meu filho e voltei a trabalhar, tendo que muitas vezes pedir para a babá levar o meu filho, com menos de três meses, na agência para que eu pudesse amamentar. Nesse momento, tive o apoio e a solidariedade de várias mulheres, mas de poucos homens, que na maioria das vezes olhavam torto quando me viam amamentando na agência. Depois disso mais nenhuma “dor” me fez estremecer. Quando nasceu o meu filho nasceu também uma mulher muita mais forte", Jaqueline Travaglin, COO da VMLY&R "Acredito que qualquer mulher que tenha alcançado um cargo executivo enfrentou uma série de dificuldades, mas eu destacaria duas como as que mais marcaram a minha carreira. A primeira delas é a masculinização da mulher. Sinto que num mercado tão masculino, espera-se que uma liderança feminina se adeque a esse "jeito masculino" de ser. Duro, intransigente, top down. No entanto, sempre objetive os melhores resultados com os times que liderei sendo fiel ao meu jeito. Sou muito da troca, gosto de ouvir, ponderar, gosto de equilibrar. Sou muito animada, engajada e bastante gentil na forma de lidar com as pessoas. Mas é preciso se provar mil vezes, dar muito mais resultado, para conseguir “provar” que esse jeito, considerado feminino, é uma forma bastante eficaz de liderar, mais atual, e muitas vezes até muito mais motivadora e inspiradora e que geram resultados muito potentes. Outro enorme desafio é a síndrome da Super mulher - “trabalhe como se não fosse mãe, seja mãe como se não trabalhasse”. Uma vez li essa frase e pensei em quão verdadeira ela pode ser. A mulher por si só já carrega uma culpa avassaladora em ter que se dedicar tanto ao trabalho. Mas num mercado ainda tão masculino, esse equilíbrio é realmente deixado bastante de lado. É preciso um empenho duas vezes maior para nenhum prato caia. A jornada dupla da mulher é uma realidade muito exaustiva e ainda pouco levada em consideração em muitas empresas" Ana Coutinho, head de negócios da Galeria.ag “Eu acredito que quando uma mulher sobe, ela puxa as outras. E isso foi uma grande verdade na minha vida e na minha carreira. A minha ascensão profissional se deu, principalmente, através de grandes líderes mulheres que me inspiraram e me reconheceram, seja como gestoras diretas, pares ou como clientes. Não dá para dizer que não houve nenhuma dificuldade, pois para todas as mulheres é necessário se impor para não deixar que os reconhecimentos profissionais feitos por homens fossem mal interpretados pelos outros. Obviamente, eu tenho clareza de que isso não ocorre apenas por ser mulher, mas certamente ocorre com muito mais frequência conosco. Reconhecimentos mal interpretados, falas descredibilizadas ou descontextualizadas. Tudo isso já aconteceu com alguma mulher em algum momento da carreira, infelizmente. Hoje, eu sei da minha importância como líder para contribuir na trajetória de outras mulheres” Raquel Messias, CSCO da Lew’Lara\TBWA "Foram muitos os desafios no desenvolvimento de uma carreira sólida iniciada na década de 1980, mas creio que o maior sempre foi equilibrar a vida profissional, familiar e a pessoal. Nesta época, era considerado inaceitável para uma executiva focar em qualquer coisa que não fosse o trabalho, o que dirá enfrentar problemas domésticos e familiares. Eu, mãe de três filhos, encarei desde a interrupção de uma licença maternidade e amamentação para viajar a trabalho, a ouvir comentários que hoje seriam, no mínimo, inaceitáveis. Além disso, sofri ao observar que características como foco em resultado e busca pela excelência, sempre tão admiradas em homens, ganhavam uma qualificação negativa quando aplicadas a uma mulher como eu. A única opção diante desses obstáculos era ser resiliente, ter foco nas necessidades dos clientes e no resultado, e seguir caminhando. Que bom que esta caminhada hoje é a caminhada de muitas mulheres, cada vez mais presentes entre a alta liderança das empresas!" Fabia Juliasz, CEO da Marketdata "Os nossos desafios como mulheres começam desde o início de nossas carreiras, principalmente quando a área de atuação é composta majoritariamente de homens. E esses desafios, que continuam no decorrer das nossas trajetórias, muitas vezes aumentam a cada degrau que subimos, sobretudo ao ocuparmos lugares em mesas de decisões. Eu estou na área há exatamente 20 anos e tive diversos tipos de dores pelo caminho. Já ouvi frases em outras experiências profissionais como “ela consegue visibilidade e crescimento porque tem uma boa aparência”, “essa vaga não é para ela: precisamos de um homem que imponha respeito e fale de igual para igual”, “por ser mulher, ela é mais sensível”, “ela pretende ser mãe. Como vai assumir a responsabilidade de um cargo de liderança?”. Além disso, durante esse tempo, já estive em uma sala de reunião repleta de homens que tomavam as decisões, e a minha posição só era validada quando algum deles concordava. Temos ocupado cada vez mais espaços de decisão, mas ainda falta muito para que haja equilíbrio entre homens e mulheres. O caminho ainda é longo" Caroline Mariano, gerente de RH da Fbiz "Construir uma carreira C-Level no nosso mercado é bastante desafiador. Além das questões estruturais como machismo e racismo, ter uma carreira sustentável, que leve em consideração a saúde mental dessas executivas é um fator que muitas vezes não é considerado. Ocupando agora uma posição de Head de ESG, além de fundadora e CEO, meu desejo é contribuir para um mercado mais equânime e assumir isso com a urgência que o tema precisa" Dilma Campos, head de ESG da B&Partners.co "Os meus desafios foram muito semelhantes aos da maioria das mulheres - ver homens performando menos e crescendo mais rápido, assédios velados de machismo, e todas as questões que englobam a maternidade. Passei por algumas entrevistas de emprego onde me perguntaram se eu pretendia ter filhos, se era casada, e por aí vai. Uma vez, logo após a dar à luz, ouvi de uma pessoa próxima (que tenho certeza de que nem percebeu o quanto sua fala estava errada de tão arraigada que são essas questões): 'Imagino que agora você esteja em um momento de trabalhar menos e aqui o ritmo é pesado'. Fiquei incrédula e, nesse momento, materializei o preconceito contra uma mãe de forma muito tangível. A verdade é que o caminho até o C-level de uma mulher é o de resiliência: você precisa se provar mais, entregar mais e mostrar ao mundo que maternar não é sinônimo de aposentadoria. E por mais que chegar até aqui tenha sido desafiador, me sinto privilegiada por sempre ter tido gestores humanos, e que de alguma forma, equilibraram a balança do ambiente e me ajudaram a nunca desistir. Hoje, ocupando uma cadeira em C-level, prezo por diálogos transparentes, por empoderamento verdadeiro das mulheres e uma gestão cada vez próxima para evitar errar" Gabi Borges, VP de atendimento da Publicis "Como mulher me vi muitas vezes sendo colocada em papeis submissos aos homens no nosso mercado. Mas, ao longo do tempo, fui entendendo que a generosidade feminina tem seu valor, mas que era necessário também ocupar novos espaços. Mais do que nunca, precisamos preencher as salas de reuniões, contribuindo nas conversas. Não basta estar lá, é necessário se posicionar. Isso nos força a buscar um elevado conhecimento que nos proporcione legitimidade e espaço de voz. Dessa forma, naturalmente, a relevância vai acontecendo. Outro desafio que muitas mulheres já passaram foi o excesso de energias ser rotulado como “surto”. Nesse momento sempre surgiu uma frase que uso até hoje: lidar com mulher com energia é uma evolução masculina que está crescente. Que bom que evoluímos e sou grata por ter tido homens na minha carreira que valorizam a energia feminina e por hoje estar em um Grupo que busca e valoriza isso diariamente. Por um mercado com mais energia feminina e menos classificação de gênero!" Glaucia Montanha, CEO da Artplan São Paulo "A principal dificuldade foi encontrar referências femininas, principalmente no início da minha carreira. Mas isso não me parou. Na verdade, me estimulou para que no futuro eu me tornasse essa referência que naquele momento eu buscava. Por sorte os anos se passaram e algumas mulheres líderes cruzaram o meu caminho, me inspirando e me puxando para ocupar também esse espaço do qual eu faço parte hoje, e busco ter esse papel na vida de outras mulheres, não apenas abrindo espaço mas ajudando que elas permaneçam lá. Hoje tenho a realização de pertencer a uma agência que tem um time majoritariamente feminino, somando 57%,5, além de ocuparem 5 de 9 cadeiras no Board. Falando em liderança, e isso transborda para todos os níveis da agência, no cargos de gerência, alcançamos mais de 57%", Rafaela Queiroz, VP de mídia e BI da DPZ “Para uma menina preta e periférica, ocupar o papel de liderança sequer passava pela minha cabeça. Quando comecei minha jornada profissional, em 1998, a única coisa que tinha em mente era trabalhar para comer. À época, uma mulher me deu a oportunidade de, não só atravessar a ponte João Dias fisicamente, mas também, atravessar tantos outros territórios internos que contribuíram na composição da profissional que sou hoje. Essas habilidades tecidas no dia a dia das corporações por onde passei, somadas ao meu currículo oculto, me permitiram decodificar os códigos que me fizeram avançar nas fases do game. E cá estou, head de recursos humanos, e com preocupações mais ‘sofisticadas’ do que ter o que comer. Tenho agora a oportunidade de apoiar outras meninas periféricas a também aprenderem seu ‘atravessar’ de pontes físicas e internas. Que acreditem em si e no seu poder de transformação e que usem - sempre - tudo que está contra ao seu favor. O Programa Kennedy’s, aqui na agência, é uma maneira de exercitar meu propósito, já que a intenção do projeto é dar uma chance para jovens impactados pela desigualdade social, e que dificilmente adentrariam no mercado publicitário das formas convencionais. Estar envolvida num projeto assim, me traz a nítida sensação de estar oferecendo o mesmo olhar que me ofereceram lá no meu começo, em 1998” Dani Jesus, head de RH da Wieden+Kennedy São Paulo “Por muito tempo havia poucas mulheres em cargos de liderança. Enquanto crescia na carreira, olhava em volta e via homens ocupando a maior parte das posições de destaque. A falta de referência foi uma grande dificuldade que tive. Quando vim pra São Paulo, e nos últimos anos, isso tem melhorado, pouco a pouco. Faz muita diferença para alguém que está se desenvolvendo na carreira, olhar para as posições acima da sua e ver mulheres ocupando os cargos. Isso vai naturalizando a presença da mulher nesses espaços e mostrando que você pode chegar lá também. Grande parte da minha carreira, a invisibilidade de mulheres e a escassez delas em posições de destaque foi uma grande dor. Uma outra dor que se fala pouco sobre, é sobre como a jornada para chegar e ocupar um cargo de liderança pode ser muito solitária. Nos últimos dois anos, comecei a ter a oportunidade de me conectar com outras mulheres em posição de liderança. Mas, até você descobrir e ter acesso a essa rede, foi uma trajetória, onde várias vezes, senti que estava desbravando muito sozinha. Tive muitos colegas de profissão e pares de cargo homens, que por mais abertos e parceiros que fossem, não sentiam na pele, não passavam por situações, não sentiam as inseguranças, a tal síndrome da impostora. Muitas vezes você tem que lidar com os conflitos e incertezas inerentes à jornada de crescimento sozinha mesmo. Às vezes, achava que era coisa da minha cabeça, mas quando você começa a ter uma rede com quem se conecta e troca, você vê que todas as mulheres sentem também essas coisas, em algum nível” Bruna Pastorini, sócia e CSO da Druid “O fato do mercado ter, historicamente, uma liderança mais masculina, francamente, para mim, que fiz uma trajetória mais dentro do Digital e CRM, não fez diferença. Nunca sofri preconceitos ou retaliações. Ao contrário, sempre tive líderes homens que deixaram o espaço aberto para que eu pudesse me desenvolver e me destacar. Mas, sem dúvida, o maior trunfo para o crescimento profissional é a confiança que temos que ter no nosso trabalho/capacidade/entrega. Nos preparamos para isso, estudando, lendo e procuramos capacitação. Quando se tem confiança, você se posiciona de uma maneira mais consistente e tem repertorio para expor seus pensamentos e ideias. O equilíbrio entre vida pessoal e profissional, sem dúvida, é o meu maior desafio diário. Acredito que o mercado está hoje muito mais aberto a entender os desafios que aquela executiva “mãe” , mas ainda tem espaço para evoluir, assim como nós mesmas, a aceitarmos que não daremos conta de tudo e, que está tudo bem” Tatiana Pacheco, diretora-geral da Cheil " Minha carreira no mundo da publicidade começou aos 18 anos em uma rádio do interior. Infelizmente, desde muito cedo, eu senti na pele o machismo escancarado que permeia esse universo. A mulher no meio da publicidade precisar ser o dobro! O dobro profissional, o dobro presente, o dobro atuante. Enfrentei muitas dificuldades para conquistar cargos de gestão, tendo que me posicionar quase à força. E, ao conseguir meu lugar nos veículos de comunicação, nem imaginava que começaria um desafio ainda maior ao abrir uma agência de publicidade, onde descobri que o problema era algo muito maior. Ao pedir a contratação de mulheres para integrarem o time da criação, cheguei a ouvir que não existiam mulheres boas nessa área. Já na área de atendimento, por exemplo, me deparei com frases do tipo “mulher para trabalhar no atendimento só precisa ser bonita” e percebi que o problema do machismo na publicidade era generalizado! Ao menos na OMZ, estamos lutando pela equidade de gênero não só em quantidade, mas em proporção: hoje somos 46% mulheres no quadro total, sendo que esse percentual também se espelha no quadro de lideranças: 48% são mulheres. A estrada é longa, a luta é árdua, mas somos nós: C-Levels da nossa geração que podemos fazer algo para acelerar esse caminho e abrir ainda mais espaço para que mais mulheres possam batalhar pelos seus cargos, sim, nós faremos isso!" Mayra Cordeiro, diretora-executiva de atendimento e criação da OMZ " Além do mercado publicitário ser composto majoritariamente por homens, a indústria do gaming, que é o universo da GMD, é conhecido por ser extremamente machista. Não foi incomum durante a minha trajetória ser a única mulher em salas cheias de homens em reuniões de negócios ou em eventos da indústria, ser tratada de forma condescendente, lidar com os obstáculos da constante síndrome da “impostora” e a falta de oportunidades de networking e representatividade. Começar um negócio em outro país, sendo uma mulher imigrante, triplicou esses desafios, e mais ainda no México. Na GMD, acreditamos na necessidade de criar um ambiente de trabalho inclusivo, onde as mulheres tenham as mesmas oportunidades de progresso na carreira que seus colegas masculinos e nos últimos anos trabalhamos conscientemente em fazer isso acontecer dentro da empresa. Atualmente, 52.4% dos colaboradores da GMD são mulheres e 71% dos cargos de liderança são ocupados por mulheres" Marina Paschoalli, diretora de Produção da GMD “Eu costumo dizer que sou uma mulher de muita sorte. Ao longo da minha carreira convivi com gestoras e gestores que me incentivaram a crescer. Fui liderada por algumas mulheres incríveis que abriram portas e oportunidades. E fui também liderada por homens que reconheceram a minha importância no processo para o crescimento dos negócios. Mas saindo desse olhar macro e indo para os obstáculos que nós mulheres executivas enfrentamos, ainda precisamos quebrar barreiras e nos posicionar como ativo fundamental de crescimento das empresas. O universo corporativo tem uma tendência a nos colocar em "caixinhas" de cuidado com o colaborador, olhando mais para o ambiente interno das companhias do que para as negociações que envolvem expansão e crescimento empresarial. A liderança feminina tem o poder de contemplar o bem-estar, o cuidado e a valorização dos colaboradores aliado a força criativa, diplomática e comercial para os negócios", Rianni Bertoldo, diretora-geral da agência Moringa "Em muitas agências, fui a única mulher na criação. É curioso que a gente tenha que se provar para ser ouvida, respeitada e ganhar o espaço, como se a gente não estivesse tão preparada (ou mais) quanto os caras. Também senti bastante minhas duas licenças-maternidade. Depois de quatro ou cinco meses fora, a gente se encontra um tanto diferente quando volta" Fernanda Cepollini, CCO e CSO da Execution "Eu tive a sorte de ter construído grande parte da minha carreira na Unilever, uma empresa que sempre deu valor às mulheres e buscou alcançar “gender balance”. Entretanto, é um fato que a minha maternidade afetou a minha carreira. A Unilever me acolheu, criou espaços para que eu pudesse retornar, mas uma grande reestruturação tinha acontecido e o meu timing de retorno me impediu de ocupar algumas posições que, eventualmente, poderiam ter criado condições para que eu ficasse mais tempo na empresa. De qualquer forma, encontrei na Oliver, outra empresa que valoriza as mulheres, um espaço para ocupar um papel também de igual liderança. Sei que minha experiência é minoritária, já que não sofri as dificuldades da maioria, mas mostra a importância de criarmos cada vez mais lugares que acolham, nutram e alavanquem as carreiras de mulheres" Livia Paiva, head de novos negócios da Oliver "Acho que os desafios de uma mulher no mercado de trabalho só vão mudando conforme o crescimento de carreira. Há 24 anos, quando comecei, o preconceito e o assédio não eram abertamente discutidos e a luta só estava no começo. Fomos acostumadas desde sempre com a síndrome da impostora e, aí, a desigualdade salarial quase era aceitável. Sem contar a escassez de oportunidades e a consequência da falta de representatividade para se inspirar em mulheres em cargos de liderança" Camila Porto, diretora de relacionamento da MField "A falta de representatividade de mulheres na criação e o filtro das ideias sempre sob a ótica masculina foram duas dores bastante presentes na minha jornada" Renata Antunes, sócia e diretora de criação da 11:11 "A maior dificuldade foi vencer a barreira de que 'mulher é frágil', em meio a uma cultura de liderança extremamente machista, onde os homens se "blindavam" e se protegiam, além de enfrentar o estigma de que lideramos com uma tendência mais matriarcal, menos disposta ao trabalho e ainda com risco de engravidar, prejudicando a empresa. Nós mulheres tivemos que nos provar em diferentes faces e mostrar que poderíamos ser tão boas e competentes profissionalmente quanto os homens. Isso traz a lição de que ser líder é mais do que liderar, e sim ser alguém que possa inspirar e servir de exemplo a tantas outras pessoas. A mulher tem a sensibilidade como ponto forte para compreender as necessidades humanas, exerce múltiplos papéis que ajudam a ter maior flexibilidade, tende a estar mais disposta a novos aprendizados, e valoriza o coletivo e a diversidade, pois já passou por diversos desafios relacionados ao gênero, compreendendo que a soma das diferenças é o que faz uma empresa ser mais forte e capaz de alcançar voos ainda mais distantes" Nani Oliveira, COO da Onze Marketing e Comunicação
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