Pensar-se nas pessoas como nos acostumamos, nós, os mais velhos, no correr das décadas, nos levará inexoravelmente a erros monumentais. De certa forma, e neste amanhecer da nova década, 2021, está mais que claro o novo comportamento da média dos brasileiros. Muito especialmente, pessoas das classes C e D, a parcela mais expressiva do mercado para quase a totalidade dos produtos e serviços.

E uma preciosa síntese encontramos numa matéria do Estadão do domingo retrasado, comentando sobre a adesão aos aplicativos pela maioria das pessoas, especialmente pelas pessoas de idade, e, mais especialmente ainda, para as pessoas que moram sozinhas.

Mergulharam de cabeça no ambiente digital. Passam a maior parte de seus dias grudadas em seus celulares, e só param para ver séries nos serviços de streaming, em especial da Netflix, mas com os olhos grudados no celular, que permanece ligado o tempo todo. Separei como exemplo o depoimento de Jeanete Aparecida, 75 anos, da cidade de Ribeirão Preto, SP.

Jeanete mora sozinha e confessa já ter queimado o arroz duas vezes de tão concentrada que se encontrava numa conversa no celular. Diz: “É muito bom usar a tecnologia, a gente não se sente só. Acordo, tomo o café, com o celular ligado e do meu lado. Aproveito e já mando um bom dia para amigos e familiares no WhatsApp. Dou uma conferida no YouTube, e aproveito para ver as mensagens do padre Fabio de Melo. Aprendi a mexer no celular com minha cunhada que, por sua vez, aprendeu com minha sobrinha, a filha dela. Outro dia aprendi a colocar figurinhas nas mensagens no WhatsApp. Recentemente comprei, com a orientação de outro sobrinho, uma Smart TV e assinei a Netflix. Agora assisto filmes e séries tanto na TV como no celular. Tenho visto bastante. Ah, e sempre vou atrás de receitas novas no YouTube…”.

É isso, amigos. Em todos os nossos planejamentos devemos continuar analisando tudo o que vem pela frente, todas as infinitas mudanças que vêm ocorrendo nos ambientes político, econômico, social e tecnológico, ter uma visão a mais clara possível do futuro, sem jamais nos esquecermos de que enquanto fazemos isso a maioria dos brasileiros tem seus olhos concentrados numa pequena telinha, que acionam com os dedos de uma mão enquanto a outra segura, e que, essa pequena janela, é a porta de entrada desses brasileiros para todo o mundo. Parentes, amigos, compras, pagamentos, informações, lazer, diversão, entretenimento, vida… Isso mesmo, vida…

Um dia e falando sobre A Arte de Ser Feliz, e a importância da janela que cada um de nós tem nos espaços que ocupa, uma mais que querida brasileira escreveu: “Houve um tempo que minha janela se abria sobre uma cidade que parecia feita de giz…”. E seguia adiante, terminando com as seguintes palavras…: “Quando falo dessas pequenas e certas felicidades, que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem diante das minhas janelas, e outro, finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim…”.

A média dos brasileiros, hoje, mais que adotou essa poesia, apenas tomando o cuidado de trocar a palavra janela por celular. E é a partir dessa consciência e certeza que devemos construir todos os planejamentos de nossas empresas. A propósito, essa poetiza é Cecília Meireles, que um dia, e referindo-se a todos nós seres humanos e alados, disse: “Quem tem asas, voa”.

E é o que fazemos muitas horas por dia, para os lugares mais distantes do mundo, sem tirar nossas bundas do sofá, independentemente de tamanho e dimensão, prazerosamente, através de telinhas, e de telonas, também.

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)