Na semana passada foi realizado mais um Mídia Sul, um belo evento do nosso meio, com excelente conteúdo. O evento é uma realização do Sinapro SC, em parceria com a B21. Estive lá para conferir o sucesso de público (mais de mil inscritos) e de crítica.
Acabei sendo convocado para compor um dos painéis, exatamente o que sucedeu à brilhante apresentação de Renato Fernandez, originário da Região Sul do Brasil, hoje morando nos EUA, onde cumpre a importante função de CCO da TBWAChiatDay de Nova York.
Ao ver o título da palestra do Renato, que fechou o evento, fiquei preocupado. Jeitinho brasileiro era o título. Lá vem mais um expatriado desancar o nosso já combalido país, pensei.
Certamente vai destacar toda aquela história da malandragem brasileira, o “deixar em cima da hora”, o “quebrar galho”… Queimei a língua (ou alguns neurônios)!
Na sua exposição brilhante, em vez de destacar os aspectos negativos do “jeitinho brasileiro”, Renato preferiu enaltecer os atributos positivos da brasilidade. Senti-me mal comigo mesmo por ter pensado somente no lado negativo dessa brasilidade.
É o tal do complexo de vira-lata que nos assola, ao nos depararmos com tanta malandragem no nosso dia a dia. Ainda bem que tem gente como o Renato, que não nos deixa esquecer de todo o lado positivo do nosso jeito brazuka.
Afinal, os brasileiros são reconhecidos internacionalmente pela sua capacidade criativa e a consequente qualidade da propaganda gerada em nosso país ou por brazukas espalhados pelo mundo afora.
Não podemos jamais esquecer os tantos exemplos positivos que apresentamos, desde os resultados expressivos nos festivais internacionais, como nos profissionais que se destacam por aí.
Exemplo exuberante é o Lions of Saint Mark, do Cannes Lions, recebido pelo nosso Marcelão Serpa em 2016, uma honraria cedida a poucos profissionais do mundo. Mas, afinal, quais são as qualidades que nos diferenciam dos gringos (entenda gringo como qualquer estrangeiro)?
Não me lembro exatamente as destacadas pelo Renato. Então vou relacionar aquelas que me vêm à mente.
Antes de mais nada, destacaria a Flexibilidade, expressa na predisposição dos brasileiros em ver as coisas com menor rigidez, ampliando o espectro das possibilidades.
Flexibilidade também no sentido de se adequar facilmente às situações adversas, criando alternativas nem sempre ortodoxas. Outra característica pode ser descrita por “sou brasileiro e não desisto nunca”.
É essa nossa teimosia em não abandonar uma ideia perante o primeiro impedimento. É a capacidade de juntar forças para superar dificuldades, fazendo parcerias e batalhando até o fim para colocar de pé uma boa ideia.
Uma outra seria aquela – não tão positiva – de ignorar o prazo ideal. São as “viradas de noite” e as correrias em cima da hora para fazer acontecer. Em outras culturas, isso é impensável. E não podemos nos esquecer da Liberdade.
O brasileiro não é arraigado a tradições, tampouco preso a preconceitos. Temos a garantia de liberdade de expressão, que, apesar da onda do politicamente correto que assola todo o mundo – e a nós também –, podemos nos expressar livremente, sem medo de censura.
E finalmente a Resiliência.
Quem passa por tanto perrengue como nós passamos, superando planos econômicos esdrúxulos, corrupção generalizada, instabilidade política e outras mazelas de caráter macroeconômico e social, tira de letra os desafios de se recuperar de tombos no meio do caminho.
É esse tal jeitinho brasileiro que, às vezes, é classificado pejorativamente, que nos faz diferentes e, às vezes, melhor.
É como diria Tom Jobim, justificando sua volta ao Brasil: “Morar fora é bom, mas é uma merda. O Brasil é uma merda, mas é bom!”. Em bom brasileirês: é nóis!
Alexis Thuller Pagliarini é superintendente da Fenapro (Federação Nacional de Agências
de Propaganda) – alexis@fenapro.org.br