Os últimos 50 anos foram os que concentraram as maiores transformações do meio jornal. Essas mudanças afetaram todas as áreas das empresas jornalísticas, desde redação, pré-impressão, impressão, distribuição, comercialização e circulação. As rotativas ganharam maior precisão e velocidade. Houve a substituição da composição tipográfica pela digital. A informatização, que começou pelas áreas administrativa e comercial e chegou às redações na década de 1970, também contribuiu para a evolução do setor. Tudo isso permitiu que
os jornais se tornassem melhores editorial e graficamente. Os jornais ficaram mais eficientes e competitivos frente às demais mídias, que também se modernizavam.

Em 50 anos, houve um forte processo de consolidação do mercado. Nas décadas de 1960 e 1970, desapareceram títulos tradicionais nas principais cidades, muito em decorrência da evolução da TV. Quando a internet já era uma realidade, na década de 1990, e proliferavam os sites com conteúdo jornalístico, os telefones celulares e outros aparelhos ainda um tanto primitivos, antecessores do que viriam a ser dispositivos digitais como tablets, smartphones e phablets, os jornais eram empreendimentos rentáveis, e, em diversos países, como o Brasil, a circulação e a participação no investimento publicitário global apresentavam um bom desempenho.

Em 2010, o Estado de S.Paulo foi o primeiro jornal brasileiro a produzir edição para o tablet iPad, da Apple, antes mesmo que o dispositivo começasse a ser vendido no país. No mesmo ano, a Folha de S.Paulo foi o primeiro jornal brasileiro a criar a editoria de mídias sociais. A situação do mercado de jornais se alterou mais recentemente porque as tecnologias digitais, a partir de certo momento, tiveram grande impacto sobre o modelo de negócio da produção de conteúdo, exigindo um grande esforço de reposicionamento da indústria, como o que vem sendo feito pelos jornais associados à ANJ (Associação Nacional dos Jornais) em torno da ideia de que o meio não é uma plataforma tecnológica, mas uma forma de produção de conteúdo presente em todas as plataformas.

Na opinião de Carlos Fernando Lindenberg Neto, o Café, presidente da ANJ, tornou-se um chavão afirmar que os momentos de crise são, também, de oportunidades. “Na verdade, a questão é mais complexa do que a simples alternativa sugere, mas é indiscutível que momentos como o atual, de disrrupção, pela própria intensidade dos desafios que colocam, nos obrigam a desenvolver novos produtos, a inovar e a buscar soluções radicalmente distintas das adotadas anteriormente.”

No 10º Congresso Brasileiro de Jornais, realizado em agosto do ano passado, a ANJ apresentou o projeto “Jornais em Movimento”, um conjunto de ações com o objetivo de reposicionar o meio jornal no mercado de conteúdo jornalístico e publicitário, tendo como mote a noção de que “O jornal está em tudo”. “Não se trata apenas de chamar a atenção do público para o fato de que a maioria das informações que ele consome, comenta e reenvia às pessoas de suas relações por meio de qualquer device e pelas redes sociais tem origem numa redação de jornal. É importante que as próprias redações e as empresas como um todo se vejam como produtores desses conteúdos multimídia e multiplataforma”, comenta, acrescentando: “Além disso, há cada vez mais evidências, inclusive as obtidas por meio de pesquisas, como a que a Secom/PR divulgou no começo do ano, de que as informações jornalísticas e publicitárias dos jornais (em papel ou em meio digital) são as de maior credibilidade”.

Em março deste ano, foi lançada a Rede Digital Premium para publicidade simultânea em mais de 60 sites jornalísticos e em breve entrará em operação o Marketplace, uma ferramenta que agilizará a programação de publicidade no meio jornal. Também neste ano a entidade passou a contar com a colaboração de Nizan Guanaes e da Africa Zero no projeto de reposicionamento dos jornais. “O momento econômico brasileiro é difícil, mas estamos confiantes de que, superado o ajuste que, aliás, era necessário, veremos que a indústria jornalística brasileira é vigorosa”, finaliza.

Já no fim dos anos 1990 e na primeira década do século 21, o que chama a atenção é o surgimento de grande número de jornais populares, alguns dos quais líderes nos respectivos mercados, e, mais recentemente, o rápido crescimento das assinaturas das versões digitais.