O jornalista João Santana foi preso pela Polícia Federal. O jornalista, responsável pela campanha eleitoral que reelegeu Dilma Rousseff, teria recebido mais de 7 milhões de dólares no exterior, provenientes de dinheiro desviado da Petrobras.
O jornalista estava em viagem, junto com sua mulher e sócia, fazendo campanha presidencial na República Dominicana… Chato, né? Se é chata essa insistência em chamá-lo do que ele é, imagine o quão mais chato ainda é ter de ler e ouvir o jornalista João Santana ser chamado o tempo todo do que ele não é. Publicitário.
O fato é que, no caso dele, além da tradicional implicância do jornalismo com a publicidade, soma-se o bom e velho corporativismo. Afinal, o que mais pode justificar a omissão do que é e a invenção do que não é? Bem, esse é um dos problemas. O outro, salvo um tremendo engano da minha parte, é o absoluto silêncio sobre esse, no mínimo, equívoco da mídia.
Com exceção de uma postagem que fiz no Facebook (alguém avise aos nossos jornaleiros que o marqueteiro João Santana não é publicitário) e desse artigo ainda não vi nenhuma manifestação pública criticando o constrangimento gratuito e injusto imposto aos publicitários.
Quando um psicopata matou e esquartejou o síndico de seu prédio, alguns anos atrás em São Paulo, a mídia fez a sua condição de publicitário mais notável do que a de psicopata. Como se esquartejar fosse tão natural a um publicitário como seria a um açougueiro. Marcos Valério, o ex-gerente de banco que se tornou agente do mensalão, foi por anos o publicitário mais famoso do Brasil. Ou seja, enquanto o país brilhava mais uma vez no Festival Cannes, encantando o mundo com a criatividade das ideias dos publicitários brasileiros, aqui a mídia colocava, através da figura de um criminoso, a publicidade na condição de eixo da corrupção.
Mas se o publicitário não costuma ser a figura mais querida dos jornalistas, a coisa piora um pouco quando, além de publicitário, o sujeito milita no marketing político. Para carimbar a atividade como semidelituosa e nem um pouco digna de respeito, a mídia forjou e consagrou o termo “marqueteiro político”, posteriormente reduzido apenas para “marqueteiro”.
Embora seja verdade que os políticos, em média, não costumem se comportar de maneira que orgulhem àqueles que lhes fornecem serviços, isso não deveria fazer de uma atividade lícita e necessária objeto de um escárnio tão perverso.
No caso do jornalista João Santana, já teria sido suficiente chamá-lo de marqueteiro (do PT!) para satisfazer um certo sadismo jornalístico. Mas não! Era preciso revolver todo o lixo da era Marcos Valério e refrescar a memória da opinião pública sobre o “potencial criminoso” dos publicitários.
E João Santana virou “o publicitário marqueteiro do PT”. Três “crimes” numa mesma qualificação. Ironia das ironias, no entanto, atuarem no marketing político muito, mas muito, mais jornalistas do que publicitários. Mas, para os coleguinhas da mídia, todos eles converteram-se, automaticamente, em publicitários, ao renunciarem à pureza do jornalismo.
Stalimir Vieira é diretor da Base Marketing