Alê Oliveira

Era assim que Nizan Guanaes era saudado pelos investidores e empreendedores reunidos no primeiro evento do CUBO, sensacional iniciativa do Itaú para o desenvolvimento e fortalecimento de startups.

Como falar do Brasil do futuro? Das possibilidades de novos negócios? E ainda motivar os jovens empresários para que continuem acreditando em seus projetos, justamente no dia seguinte em que o Brasil perdeu seu investment grade e o mundo parecia desabar como a chuva fora do CUBO?

Nizan, inspiradíssimo, não perdeu um só minuto de sua palestra lamentando ou culpando responsáveis. Nem sequer vendeu os lenços para os chorosos da crise. Em 60 minutos desfilou um bem-humorado arrazoado anticrise, baseado principalmente na fé, na versatilidade e na competência do brasileiro, principalmente, do empresariado, driblando, ultrapassando e vencendo todas as crises que enfrentamos. Nem que seja para cair numa outra maior. E sair de novo.

Verdade que o cenário não poderia ser melhor: durante todo o dia, centenas de empreendedores (majoritariamente jovens) e dezenas de investidores ouviram e trocaram experiências de realizações e projetos de uma nova economia, baseada na tecnologia digital, nos processos colaborativos e na inovação de todos os produtos e serviços. Ninguém falou em investment grade, ninguém estava preocupado com os cortes do orçamento, ninguém lamentou o preço do dólar, até porque, inseridos na economia global e no processo internacional de inovação, as pessoas que estavam no CUBO trabalham e ganham em moedas internacionais, quando não em bitcoins.

Para este público, Nizan foi mais Nizan do que nunca: entusiasmado como um pastor evangélico (e não se enganem, estava pregando mesmo!), andava pelo palco e auditório, comentando suas experiências empresariais, fatos curiosos de sua vida, identificando na plateia seus amigos e parceiros de histórias semelhantes, todas unidas pela mesma fé no próprio sonho, competência e vontade de vencer. Mas, principalmente, com o instinto empreendedor desassombrado que é o traço característico das melhores iniciativas brasileiras. Gente que, se tivesse olhado para a crise, não teria feito nada.

Líder de um grupo empresarial de sucesso, Nizan sabe que pode ser criticado por ter uma visão “Poliana” do mundo e brinca com isso na palestra, mas justamente por sua condição de grande empresário que suas palavras de entusiasmo ficaram ainda mais fortes. Todos sabiam que quem estava falando não era apenas um devoto da fé empreendedora, mas ele mesmo um empreendedor que vem acreditando e construindo seu próprio sonho, na maior parte das vezes, aproveitando para crescer nas oportunidades que as diversas crises apresentaram.

O longo disco de aplausos que a plateia lhe reservou ao final, de pé, mostrou que haviam compreendido o recado.

Recado que encontra eco em muitos outros empresários e líderes setoriais que também se pronunciaram nesta semana em eventos semelhantes, como no Fórum de Inovação Design e Tecnologia promovido pelo Lide e no Movimento Falconi, onde se apresentou o próprio Ministro Levy, na tarde do mesmo dia em que foi divulgado o rebaixamento de nosso grau de investimento. Os milhares de profissionais reunidos nesses dois eventos e na inauguração do CUBO ouviram de empresários, políticos e especialistas o mesmo diagnóstico sombrio de nossa situação econômica, mas, sobretudo, aprenderam que é preciso mudar o mindset da visão derrotada e derrotista e voltar a acreditar na nossa capacidade de fazer as coisas acontecerem à nossa volta. E partir decididamente para a inserção do Brasil no cenário mundial de criação de produtos e processos inovadores em todos os setores da economia.

Com ou sem investment grade.

*VP corporativo ESPM