Movimento vai da música à comida com fandoms engajados e leais aos artistas, que propagam a indústria incentivada pelo governo local

A banda de K-pop Stray Kids arrastou uma multidão de brasileiros ao Estádio Nilton Santos, o Engenhão, na Zona Norte do Rio de Janeiro, no dia 1º de abril. Depois, foi a vez de São Paulo receber a turnê mundial DominATE. Bang Chan, Lee Know, Changbin, Hyunjin, Han, Felix, Seungmin e I.N enlouqueceram a plateia que lotou o Morumbi nos dias 5 e 6 de abril com ‘Chk Chk boom’ e ‘God’s menu’.

Vencedora de “Melhor K-Pop” no MTV Video Music Awards (VMA) de 2023, a música ‘S-Class’ é outro hit do grupo formado em 2018, após a participação de seus integrantes em um reality show organizado pela JYP Entertainment, produtora dos shows do octeto no Brasil. O patrocínio foi do banco Santander com apoio da plataforma de benefícios e fidelidade Esfera e realização da Live Nation.

Integrantes da banda de K-pop Stray Kids antes do show realizado no Engenhão, no Rio de Janeiro, no dia 1º de abril; grupo ainda fez duas apresentações no Morumbi, em São Paulo (Reprodução X)

A boy band não é um sucesso isolado. Ateez, TXT, Treasure, Enhypen, (G)I-DLE, IZ One, ITZY, Aespa, Stayc, BTS, Seventeen e Blackpink são expoentes de uma cultura em explosão. E não é de hoje. Quem não se lembra de ‘Gangnam style’, do cantor Psy?

O clipe supera 5,5 bilhões de acessos no YouTube desde 2012, quando a canção foi lançada. Foi o primeiro vídeo a atingir um bilhão de visualizações, e gerou mais de US$ 8 milhões em receita publicitária, segundo dados do Google. O rapper sul-coreano Park Jae-Sang fez tanto sucesso que subiu no trio elétrico de Claudia Leitte, no Carnaval de 2013.

Cantor Psy no videoclipe de ‘Gangnam Style’, hit lançado em 2012, que abriu caminho para a explosão do K-pop em todo o mundo (Reprodução)

Com ‘Parasita’, a Coreia do Sul ganhou em 2020 o prêmio de melhor filme, roteiro original, filme internacional e diretor, para o cineasta Bong Joon, que retornou neste ano com o thriller de ficção científica ‘Mickey 17’. “Essa invasão foi chamada de ‘a febre da onda coreana’, em Taiwan, quando uma avalanche de conteúdos coreanos chegou aos canais da TV por assinatura a partir de 1994”, explica Han Na Kim, professora de comunicação e publicidade da ESPM.

Após a crise financeira asiática na década de 1990, o governo sul-coreano reconheceu o potencial das indústrias culturais para expandir o crescimento econômico além dos setores clássicos de transformação. Em meados de 1998, o audiovisual começou a difundir a cultura sul-coreana para o mundo.

Atores de ‘Parasita’, Melhor Filme do Oscar 2020, que alçou a produção audiovisual da Coreia do Sul para o mundo (Reprodução)

Na primeira fase, a partir dos anos 2000, filmes (K-movie) e dramas televisivos (K-dramas) se alastraram por países asiáticos, aumentando a fama das celebridades locais em um movimento que, ao chegar em sua quarta geração, abraça a música (K-pop), beleza (K-beauty), cozinha (K-food) e moda (K-style). A letra “k” é originária da palavra Korean, que significa coreano em inglês.

Essa é a origem da onda coreana, ou Hallyu. Aos poucos, o fenômeno encobriu outros continentes com conteúdos propagados pela internet e streaming. O X (ex-Twitter), Instagram, TikTok e YouTube promovem a disseminação de K-pop e K-drama por meio de hashtags e desafios de dança. Na outra ponta, os fãs coordenam encontros para aumentar a audiência de vídeoclipes, participar de votações internacionais e defender lançamentos.

“O K-pop tem uma profunda conexão emocional com os jovens porque os artistas utilizam as plataformas digitais para engajá-los, criando storytelling, fandoms e séries. As letras evocam temáticas da juventude com uma mistura de ritmos que gera identificação e atinge em cheio o coração dos fãs”, resume José Mauro Nunes, professor da FGV Ebape.

Leia a matéria completa na edição do propmark de 7 de abril de 2025