A necessidade é bem clara: organizar a vida online e offline. Foi isso que o estudo “Onlife Management”, feito pela Trendwatching, detectou. E tudo isso tem um por quê. Segundo o próprio estudo, em 2013, a América Latina viu um aumento nas vendas de smartphones maior do que em qualquer outra região. As vendas cresceram 96% apenas no último trimestre do ano passado.

“A gente tem observado bastante um movimento das empresas em acompanhar essa necessidade de ajudar o consumidor a administrar a vida online e offline”, conta Rebeca de Moraes, pesquisadora de tendências da Trendwatching. “Agora que todo mundo está na internet 24 horas por dia, as pessoas poderiam querer fazer o caminho contrário: se desconectar. Mas não foi isso que a gente observou. Elas querem, sim, administrar, organizar esses dois mundos”, completa.

E, para colaborar com os consumidores, as empresas estão elaborando estratégias. A Polar, marca brasileira de cerveja, lançou o Anulador de Celular, que é um cooler desenhado para bloquear sinais de celular – 3G, 4G e conexões de Wi-Fi. Os coolers especiais foram distribuídos em bares selecionados pelo Brasil com o objetivo de encorajar os clientes a deixarem os seus celulares de lado para conversarem com os amigos.

Outro exemplo foi o Estacionamento de Celular, criado pela Castillo de Molina, uma marca chilena de vinho. No caso, os clientes são estimulados a deixarem os seus celulares em cofres. A campanha teve participação de 80% dos clientes – quem aceitava a proposta ganhava garrafas de vinhos.

De São Paulo vem mais um exemplo. O bar Venga mudou todos os roteadores de Wi-Fi para que formassem uma mensagem para os comensais. Os responsáveis pelo estabelecimento estavam frustrados ao ver os clientes perguntando assim que entravam: “Qual a senha do Wi-Fi?”. Eles renomearam os roteadores para que quando uma pessoa tentasse entrar na rede de Wi-Fi visse uma frase como “Aproveite o momento!” ou “Deixe o telefone pra lá!”.

Rebeca de Moraes, coordenadora da pesquisa da Trendwatching, acredita que o mercado publicitário deveria ficar mais atento a essa tendência. “Para ele (mercado publicitário), as marcas estão muito preocupadas em atender às necessidades dos consumidores. E, justamente por isso, essa tendência precisaria ser incorporada com o objetivo de elas atenderem aos seus consumidores”, explica a pesquisadora.

Segurança

A segurança foi outro ponto abordado no estudo. Enquanto a preocupação com o vazamento de dados por marcas, hackers e governos é global, para alguns latino-americanos, que ainda se lembram dos tempos em que governos autoritários espionavam os próprios cidadãos, a preocupação com a segurança de dados e privacidade são particularmente agudas. A prova disso é que, de acordo com informações da Fecomercio-SP (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo), a quantidade de moradores de São Paulo que não confia na segurança de seus dados pessoais saltou de 49% para 72% entre 2012 e 2013.

O estudo também mostrou que muitos consumidores estão conscientes do papel que o espaço online pode ter em aumentar outros perigos que já existem na região. Um exemplo é a ameaça de quadrilhas que se baseiam em informações e fotos de crianças postadas na internet para escolher alvos de sequestros. Por isso, os latino-americanos querem se proteger de anunciantes que querem dados dos consumidores, da espionagem do governo e dos criminosos.

Rede alternativa

Na Argentina, o Ministério da Cultura lançou uma rede social anti-establishment para os latino-americanos. A plataforma incentiva os membros a participarem de forma construtiva, embora não condene golpes ou protestos ilegais. O Facepopular protege a privacidade dos usuários, não tem anúncios e salienta que nenhuma informação é compartilhada com conglomerados de mídia ou corporações estrangeiras.

Pensando não apenas na privacidade, como também na educação, o Google América Latina e as organizações sem fins lucrativos Red Natic e Save the Children lançaram o Todo a 1 Clic, que é uma campanha que nasceu com o objetivo de educar adolescentes das Américas do Sul e Central sobre os riscos presentes na tecnologia de informação e de comunicações. O projeto realiza fóruns com jovens de todos os países envolvidos e compartilha um vídeo de animação em que adolescentes são mostrados cometendo alguns dos erros mais comuns, tais como o envio público de fotos, participação em cyber-bullying ou usando computadores sem supervisão.