Na primeira vez que Drucker foi ao Japão, atrás da arte japonesa, um artista perguntou para o mestre qual o legado que pretendia deixar. Não conseguiu pensar em outra coisa até o final da viagem, de sua vida, e deixou um legado monumental.
Mudou a história das empresas, dos profissionais, dos negócios. Para melhor, para muito melhor. Deu uma contribuição inestimável para um mundo socialmente mais justo. É sobre legado o comentário de hoje. E começo perguntando…
Legado. Por que só depois? Por que não durante? Por que não pensar antes?
Mais que emocionante constatar-se bilionários e milionários empresários lembrando-se que são finitos e que é importante não apenas preocupar-se com o legado, mas começar a realizá-lo em vida.
Foi o que aconteceu com Warren Buffett, com Bill e Melinda Gates, parece que está acontecendo com Jorge Paulo Lemann e seus dois sócios, e o que vem manifestando com muita insistência, de anos para cá, um dos líderes da colônia judaica no Brasil, e todo-poderoso da Cyrela – Elie Horn.
Lembro-me que décadas atrás, consciente da importância de fazer durante, e não depois, Amador Aguiar teve a iniciativa de criar sua Fundação Bradesco em 1956, 14 anos depois do nascimento do banco, no momento em que, e ainda, o banco era apenas uma promessa.
Em 1962, já tinha uma primeira escola na Cidade de Deus. E fechou o ano de 2017, com aproximadamente 100 mil alunos em todo o Brasil, com uma taxa de aprovação próxima de 95%.
Amador, Lázaro Brandão de Melo e seus companheiros acreditavam que o legado se constrói na trajetória, simultaneamente ao crescimento, ao sucesso e à prosperidade. Ou seja, é possível fazer-se no durante. Não precisa se esperar para o depois. De qualquer maneira, melhor fazer em qualquer momento. E não só se lembrar na véspera e quando chegou a hora de partir.
Em entrevista recente para a Folha, Elie Horn, 74 anos, manifesta sua decisão de reservar o tempo que lhe resta da vida para acelerar na construção de seu legado. “Quero chacoalhar a sociedade”, disse a Eliane Trindade, da Folha. E completou:
“Faz 20 anos que me decidi. Quero ser rico na eternidade. São valores familiares, judaicos, de não trabalhar só para si, de devolver à sociedade… Ou você escraviza o dinheiro, ou é escravizado. Se ajudar alguém, você escravizou o dinheiro. Se deixa para usufruir o luxo, é escravo”.
Isso posto, queridos amigos empresários que me honram e me acompanham nesta coluna. Não deixem o legado para o depois. Pense no seu negócio de hoje já considerando o legado, e em todos os novos negócios que ainda pensa fazer, desde as primeiras reuniões, desde a discussão das hipóteses e construa o planejamento inicial, já com o legado previsto e presente.
Como um dia, Amador Aguiar e Lázaro Brandão de Melo, enquanto tomavam café e conversavam numa padaria da cidade de Marília, no início do ano de 1943, enquanto davam os últimos retoques em seu projeto de vida: um banco. E que assim que fosse possível e com parte dos lucros teria uma fundação para cuidar do ensino de milhares de jovens brasileiros.
Não deixaram o legado para depois. Era tudo o que planejaram ainda e quando o Bradesco era apenas uma folha de papel… Um sonho a se realizar.
Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)