Quando recebi o convite para este artigo com o tema inspiração, a palavra ‘pessoas’ ecoou alto na minha cabeça e fez meu coração vibrar. Fui inundada por recordações que aquecem o coração e me fazem ter esse amor por história e herança cultural.
Logo eu, que, à primeira vista, tenho um trabalho extremamente analítico! Apesar do meu trabalho estar ligado a dados e tecnologia, sempre me recordo que dados são gerados por comportamento, comportamentos são gerados por pessoas e pessoas são resultado de histórias, crenças e muitas diferenças. Nessas diferenças, existe ser e saber, e uma riqueza cultural capaz de mudar o mundo e revolucionar eras.
Sem fronteiras e atemporal, assim é a história cultural que é levada conosco por onde vamos, como parte daquilo que representa o nosso passado e simboliza as nossas raízes. Alguns historiadores chamam de “Lei dos Avós” todo o processo de construção da nossa memória individual por meio de informações que vamos recebendo e agregando.
Eu me considero muito sortuda por ter nascido numa família miscigenada e desbravadora. Meus pais são nordestinos que, por condições econômicas, migraram para São Paulo onde se conheceram e iniciaram a nossa família. Não tínhamos parentes por perto e logo surgiram os laços de amizades. Lembro de uma família de poloneses e libaneses, muito próxima, e com a qual aprendi muito. Nascia ali minha curiosidade por entender as pessoas e aprender com elas.
Na minha infância, fomos de carro algumas vezes para o Nordeste. Eu amava conhecer outras cidades e realidades bonitas ou nem tanto, esperançosas, embaraçosas. Isso me despertava ainda mais interesse em saber os porquês. Quem conhece o interior do Nordeste e seus moradores conseguirá me entender: é impressionante toda a sabedoria que essas pessoas carregam. Sabem sobre clima, plantio, curas através de ervas, religião… Uma infinidade de conhecimento passado de geração em geração e com usos efetivos. Existem também as histórias populares de tradições e crendices, uma diversão à parte.
Já adulta, tive a oportunidade de conhecer outros países, poucos ainda, sem perder minha paixão por saber mais e entender como cada cultura se forma e se modifica através das pessoas. Gosto muito do ato da contemplação, de observar e buscar entender os comportamentos, desde coisas simples como a forma de vestir, a alimentação, até economia e política.
No meu dia a dia sempre me esforço para entender quem são as pessoas que me cercam, seus anseios, como chegaram até aqui e para onde querem ir. Seja do ponto de vista da publicidade, do marketing, da gestão, dos dados ou pessoal: o autoconhecimento e o conhecimento dos que nos cercam é um ativo poderoso. Mesmo vivendo na era do machine learning e da inteligência artificial, não podemos nos esquecer que a máquina precisa ser treinada e, veja só, quem a treina é uma pessoa. Fico encantada como mesmo no contexto mais robótico o envolvimento das pessoas é essencial.
Ser inspirada por pessoas me faz pensar muito em empatia, aceitação e respeito. Infelizmente, vemos alguns retratos muito desafiadores quando falamos sobre diferenças, mas o que seria de nós, pessoas, se não fossem nossas diferenças, nossa pluralidade da expressão?
Por fim, deixo como dica para você que está lendo: se permita conhecer as histórias das pessoas que te cercam. Se por trás de cada dado existe uma infinidade de nuances, por trás de cada pessoa, há um universo. Tenho certeza de que você não será mais o mesmo depois dessa experiência. Sua visão será transformada e minha aposta é que será pra melhor.
Dora de Oliveira é martech data analytics director na i-Cherry