Quem não se comunica, se trumbica, repetia Abelardo Barbosa, o Velho Guerreiro de tempos imemoriais, que com as suas chacotas na tevê puxava as orelhas de governos e autoridades particulares, repetindo o óbvio nem sempre entendido.
Pois é disso que temos de voltar a escrever neste editorial, cuja publicação que o abriga acaba de completar cinco décadas e meia de circulação ininterrupta, falando principalmente sobre a criação publicitária e suas diversas formas e modalidades.
Queremos uma vez mais comentar aqui a decadência da qualidade publicitária que o governo Bolsonaro autoriza, através não só dos diversos canais de comunicação que possui, como também e principalmente através dos muitos anunciantes que compõem a enorme massa de manobra da comunicação oficial.
Estamos mais uma vez vendo agora, com a crise sanitária que se abate sobre o nosso país, como tem sido de baixo nível a qualidade dessa comunicação, perdida entre tantos caminhos que poderia e deveria trilhar. Como maior anunciante do país, o governo federal deveria ser mais exigente na escolha da sua equipe de trabalho na Secom, possibilitando assim que realmente o público se beneficiasse dos trabalhos encomendados e aprovados pelo emissor.
Infelizmente, isso não tem ocorrido e o que estamos vendo, inclusive antes da pandemia, é um desprezo pela busca da excelência e principalmente da pertinência, nas campanhas de governo (federal), atingindo até mesmo peças isoladas, teoricamente mais fáceis de serem bem produzidas, em respeito a uma história de sucesso da nossa propaganda, que de há muito impressiona o mundo pela sua criatividade sempre muito bem finalizada, para melhor atingir os diversos segmentos de um público que também se acostumou a aplaudir a propaganda brasileira, aqui incluídos governos e anunciantes da iniciativa privada.
Como diria o conselheiro Acácio, a boa propaganda dispensa explicações. Ela se explica por si só, produzindo resultados que geralmente ultrapassam as expectativas criadas em torno das mesmas.
Ultrapassamos os 55 anos de idade do PROPMARK, completados cronologicamente no dia 21 (nossa primeira edição data de 21 de maio de 1965), o que nos torna provavelmente o periódico mais antigo do segmento da comunicação em nosso país a prosseguir na caminhada que a ele traçamos desde o início e hoje ampliada por outros meios de comunicação, como o categorizado digital, que transformou a comunicação no planeta e a própria comunicação em si.
Nestas páginas e nos caminhos que o digital nos possibilita, temos sido guerreiros em defesa da boa comunicação publicitária, defendendo as empresas do meio que vieram para valorizar ainda mais a importância da qualidade nos diversos segmentos dessa comunicação.
Ainda sobre a importância da boa comunicação em geral e não apenas a que semanalmente é tratada nas páginas do PROPMARK e diariamente em nosso site, a exigência nos dias atuais não se restringe à comunicação que vende produtos, serviços e ideias, mas também ao que praticam as lideranças em todo o planeta, onde os países mais avançados são geralmente os de melhor comunicação de todas as fontes.
Hoje em nosso país, que já foi campeão diversas vezes nos mais cobiçados eventos publicitários do universo, com destaque para o Cannes Lions, ainda imbatível em termos de participação das principais marcas de produtos e serviços, como também dos grandes profissionais por elas responsáveis, corremos o risco de uma demorada sofrência, cujos fatores são diversos, destacando-se porém o do empobrecimento do país, que atinge todos os setores das nossas diversas e incontáveis atividades empresariais e profissionais.
Diga-se de passagem, que esse empobrecimento não é apenas de falta de recursos monetários, mas também – e aqui talvez uma coisa puxe a outra – de uma visível apatia de boa parte da população brasileira em busca de novos caminhos para o futuro breve. Desde há muito instalou-se entre nós um conformismo que não é próprio da nossa história, aqui englobados principalmente os povos de origem latina.
Deveríamos ter sempre em mente a lição do poeta e escritor espanhol Antonio Machado, ao gravar em seu poema Cantares a grande lição da vida: “Caminhante, não há caminho, se faz o caminho ao andar”.
Uma boa ilustração do que acima está dito vê-se agora neste momento de grande aflição para todos nós, com o coronavírus repetindo estragos mortais provocados em outros países, mas com maior persistência entre nós.
Além das nossas deficiências materiais, temos ainda de lutar com a disputa do poder pela classe política, que aproveita uma situação de sofrimento atroz para estabelecer brigas e batalhas contra a parte contrária, quando o certo seria deixar de lado, ainda que momentaneamente, os interesses pelo poder desse tipo de gente, irmanando-se pela salvação da população mais necessitada do país que, por isso mesmo, é a mais atingida pelos efeitos desse terrível vírus.
Ao contrário, vemos mandatários políticos se acusando mutuamente, estabelecendo um clima de guerra nos diversos territórios brasileiros, quando o certo seria um acordo de trégua, em busca de um processo de cura que custa a surgir.
Com todas as nossas belezas naturais e a qualidade do nosso ar ainda considerada como uma das melhores do mundo, não podemos nos sufocar diante de uma pandemia que nos coloca em terceiro lugar no planeta em número de contaminados.
Aqui retorna a falta que uma boa propaganda faz, quando orientada para o bem da população no combate à pandemia. Falta às recomendações de se evitar aglomeração de pessoas, por exemplo, um pouco mais de criatividade, tornando certeira a compreensão de todos em busca do isolamento, que será passageiro na exata medida da nossa colaboração.
Vale como autêntico registro desse conceito o comentário de Sandra Martinelli, presidente-executiva da ABA – Associação Brasileira de Anunciantes –, em entrevista concedida nesta edição do PROPMARK, observando a responsabilidade dos anunciantes em levar conhecimento ao público em meio à crise.