Desde muito cedo fui um ouvinte atento do jazz cigano.
Conheci-o numa viagem pela Europa com a família, quando tinha 17 anos. De lá pra cá, só cresceu a minha paixão pelo gênero inventado por Django Reinhardt.
Recentemente o gipsy jazz se espraiou. E também chegou ao Brasil. Piracicaba, aliás, com seu competente festival de manouche, é o centro do estilo por aqui.
Graças a isso acabei conhecendo o Gilberto Syllos, cujo alter ego é o Seo Manouche. O personagem tem diversas particularidades que me causam espécie. Uma delas é que trata-se de um dos raros contrabaixistas que é band leader. Ou seja, num universo em que todos querem ser Django Reinhardt, Gilberto optou por ser Louis Vola. A outra é que Seo Manouche une dois elementos pelos quais me interesso sobremaneira: gipsy jazz e humor.
Sem perda de tempo propus-lhe um almoço.
Durante o repasto, a química aprofundou-se. Os gostos musicais eram muito semelhantes, os humoristas do peito quase idênticos, assim como a mania mútua de assistir documentários.
Elogiei sua ideia de criar um manouche para o hino do XV de Piracicaba, time da cidade-berço do gênero cigano no Brasil, a hilária “Já que tá que fique”.
Ao entrarmos nas sobremesas já enveredávamos por uma provável parceria Gilberto de Syllos/Carlos Castelo. Afinal de contas, por que não letrar alguma melodia manouche do mestre Gilberto e incluí-la no playlist de seus shows? Que espécie de humorista não pensaria numa tentadora hipótese dessas?
Saí do restaurante com aquele desafio específico. No fim do dia escrevi uma letra inédita e mandei via WhatsApp para Seo Manouche. Antes da meia-noite, o aplicativo apitava em meu celular com a nossa primeira criação tocada ao violão, já com a linha de baixo e tudo.
No dia seguinte uma segunda ideia me ocorreu e lancei mão mais uma vez do Whats para fazê-la chegar ao contrabaixista. Ele não me decepcionou, no fim do dia repostava com uma segunda parceria consumada.
Em suma, após 72 horas já havíamos trazido à luz três canções e uma quarta estava por se concluir. Um fato desses não me ocorria desde quando comecei a escrever para o Língua de Trapo, na faculdade de jornalismo, nos meus dourados 20 e poucos anos.
O resultado pode ser atestado por você no CD que celebra nosso casual encontro: “Cavaquinho de Itu”. Numa plataforma digital perto de você.