Uma boa equipe é uma equipe estimulada e focada. Foi assim que aprendi com meus mestres e é assim que procuro exercer liderança. Mas como é que se estimula uma equipe?
Vamos pegar o exemplo do Tite. Certamente, do mesmo jeito que Felipão, que já foi considerado herói e mágico, Tite vai conhecer o final de um ciclo e seus tropeços. Mas agora é o cara certo, no lugar certo e na hora certa. O que mais me chama a atenção em seu trabalho é ver em campo o que ele fala nas entrevistas. Seja antes ou depois do jogo.
Quando um menino pega a bola e vai à frente, como um desbravador, e lança outro menino que entende o recado com precisão matemática e devolve a bola para o desbravador dar um chute improvável, mas absolutamente preciso, alguma coisa muito certa está acontecendo na cabeça dessas pessoas. E o nome disso é liberdade para ser melhor.
Tite falou a respeito após o jogo com o Paraguai, com a serena alegria do dever cumprido, mais ou menos o seguinte: se você acredita que pode fazer, confie e vá sem medo e com entusiasmo. Está dizendo que não vai cobrar um resultado lógico, pois tudo o que envolve o humano é impreciso, mas que acredita que essa é a única possibilidade de vencer: entregando-se àquilo que se crê ser o melhor de si.
Essa disposição da equipe você só alcança se desvencilhar-se de certos padrões e colocar a alma no que se propõe. Quero dizer, se um mau-caráter fizer um curso de bom caratismo, ele não se tornará um bom caráter. E a sua tentativa de praticar bom caratismo será débil e ineficaz. Tite é o que parece e a equipe sente isso.
Os meus melhores líderes eram o que pareciam, o que fazia toda a diferença. Quando você é o que parece não precisa ficar se policiando nem recorrendo a citações ou paradigmas. Você é o paradigma e é você quem é citado. Sem fazer disso motivo para orgulho e vaidade inconvenientes. Quando a equipe percebe e confia em suas convicções as coisas se tornam mais fáceis de ser compreendidas.
Quando você é simples, o entorno se faz simples. Dar liberdade para ser melhor é um conceito simples, sim, mas ao mesmo tempo é cruel, do ponto de vista seletivo. Afinal, empresas não são instituições de caridade e as pessoas estão ali para conquistar resultados. A crueldade reside na transparência do acordo. Nem todos suportam essa responsabilidade.
Se a liberdade já é um fardo muito difícil para algumas pessoas, imagine-se a liberdade para ser melhor. De todo modo é a proposta mais honesta que um líder pode fazer aos seus liderados. No momento em que realizo um trabalho de apoio ao desenvolvimento de uma equipe de profissionais de criação, sustentado nesse conceito, me chama a atenção como algo, a princípio tão óbvio, tão natural, soa inédito, surpreendente para o time.
O que me faz refletir no quanto complicamos as coisas, na tentativa de nos valorizarmos dentro da complexidade. Ah, se as pessoas ficaram com dúvidas, isso é positivo, deixar um mistério no ar me faz mais importante, acreditam alguns. Se soubessem com que caretas os outros se entreolham logo que esses tipos lhes dão as costas…
Stalimir Vieira é diretor da Base Marketing