Em 2016, Luciana Haguiara, executive creative director da Circus/MediaMonks, estava no júri de estreia do Digital Craft Lions, que nasceu para celebrar o “technological artistry”. “É uma categoria diversificada porque tem muitas linguagens diferentes, é acelerada e aponta a direção do que há de mais inovador em execução”, recorda.

Agora, a profissional está no júri num contexto bastante singular, com dois anos de trabalhos para avaliar e um mundo completamente diferente. “Em um júri online, a gente bate menos papo, troca bem menos experiências, o tempo é contado, o que é uma pena”, comenta sobre apenas uma das diferenças desta edição online do festival.

Para a profissional, o objetivo não é premiar coisas que só um júri técnico entende, mas o que vai “causar impacto, emocionar, surpreender e conectar pessoas”.

Luciana Haguiara, da Circus/MediaMonks: ideia sem craft pode passar despercebida

EXPECTATIVA
Eu estava no júri de estreia da categoria, em 2016, que nasceu pra gente celebrar o “technological artistry”, a execução artística dentro do ambiente digital. É uma categoria diversificada porque tem muitas linguagens diferentes, é acelerada e aponta a direção do que há de mais inovador em execução.

CRAFT
Uma coisa que acho que todo mundo concorda é que uma ideia sem craft, sem o cuidado, sem a beleza e a inovação no jeito de ser construída pode passar despercebida. Isso não significa que tem de ser complicado, ao contrário, simplicidade e beleza são fundamentais. A gente não quer premiar coisas que só um júri técnico entende, mas o que vai causar impacto, emocionar, surpreender e conectar pessoas.

BUSCA
A ideia é achar linguagens nunca vistas antes, mas que se encaixem nos requisitos da pirâmide: ideia x craft x propósito. Achar trabalhos de marcas que pensam no todo e no impacto positivo no mundo, sem demagogia, com ações reais que podem vir desde o próprio produto, até a maneira de comunicar, de um jeito inovador e com uma execução incrível.

PERFIL COMO JURADA
Alguns festivais têm quantidades massivas de inscrições, o longlist é sempre mais cruel, a gente precisa ser muito crítico nesse começo. Uma coisa que tento seguir é: se eu não tenho nada de bom pra falar sobre o trabalho, não falo. Esse é um direcionamento de um dos festivais mais bacanas do qual participei algumas vezes como jurada e funciona. O clima do júri fica leve, as críticas são sempre construtivas e o resultado, se a peça realmente não for boa, aparece nas notas. Ninguém perde tempo e energia para puxar nada pra baixo, só pra cima. Não tenho um método único, depende de cada Festival e se adapta à sua respectiva regra, mas no final o critério é o de sempre: ideia, craft e propósito. E mais importante: o “nossa, como eu queria ter feito isso”.

CRITÉRIO EM EMPATE
No caso de empate de trabalhos com execuções excepcionais, o que já aconteceu, o critério é escolher a ideia que mais emociona, que mais toca o coração das pessoas.

PRESIDENTE DE JÚRI
A Jax [Jax Ostle-Evans, managing director da Stink Studios] é incrível. Ela é muito direta e objetiva e tem orientado o júri com critérios muito bem definidos, dando um norte em subcategorias que às vezes podem ser muito abertas. Estou animada em ter uma presidente mulher na minha terceira vez como jurada no Cannes Lions, além de estar em um time com mais da metade de participação feminina. Isso é inédito.

PRÉ E “PÓS” PANDEMIA
Vai ser interessante ver como o craft evolui durante a pandemia. Ter dois anos acumulados não é um problema, ao contrário, vamos ver realmente como alguns trabalhos podem ser atemporais.