“Quem foi que disse que preto não tem vez?” A criação publicitária é uma dessas vozes. Depois de 11 anos de mercado, trabalhando como redator publicitário em diversas agências de Belo Horizonte, Cuiabá e São Paulo, a imagem que tenho da criação publicitária é o retrato de anos e anos de desigualdades que podem ser constatados em diversos setores da economia. Mas, como o meu é o da propaganda, vou ficar nele e somente nele para tentar fazer algum barulho.
Faça um exercício. Olhe agora para a criação da sua agência e veja quantos negros estão sentados no recinto. Poucos, não é mesmo? E na posição de diretores de criação? Nenhum? Não se assuste. É bem por aí. Me prove o contrário, por favor. Recentemente comecei uma simples pesquisa nas redes sociais para tentar identificar redatoras negras trabalhando no mercado brasileiro. É triste, mas passei por dezenas e dezenas de páginas e não encontrei quase nenhuma. Quando as achei estavam em agências pequenas, cuidando de contas pequenas. Não é fácil ser mulher na propaganda. Tem o assédio, tem os salários desiguais, tem um monte de coisas erradas que acontecem com as meninas. Mas deve ser ainda pior quando se é negra. Porque além de lutar contra todas essas dificuldades, elas ainda precisam ser fortes para saltar a barreira do preconceito de cor.
Outra constatação foi a falta de lideranças negras na criação das agências. Depois de perder horas no LinkedIn, não achei nenhuma. Mais uma vez alguém pode me provar o contrário? Vejamos um exemplo: existe em São Paulo um criativo negro trabalhando em uma grande agência. O homem tem leões, tem bronzes, pratas, ouros, El Ojos e por aí vai. Trata-se de uma carreira construída com coisas brilhantes, mas que mesmo depois de 12 anos não foram capazes de colocá-lo para liderar uma equipe. Tomara que seja por conta do seu perfil. Talvez ele não o tenha. Mas, pelo seu trabalho, fica difícil não suspeitar que o motivo seja outro que não a falta de oportunidades dadas aos negros na propaganda.
O Brasil é um país de desigualdades, é um país de poucas oportunidades, onde a tal da meritocracia não funciona. Eu me considero exceção, tive competência, mas também tive sorte de encontrar pessoas inteligentes que me deram oportunidade para provar que sei trabalhar. E acredito que é só isso que queremos. Oportunidades para esse povo preto, criativo, musical, interessante, que sai das faculdades mas não encontra sequer uma cadeira de júnior para assentar. Povo preto que tem que cortar um dobrado pra mostrar que pode criar boa propaganda em um Brasil que só coloca negros em comercial para poder cumprir a tabela do politicamente correto. O que queremos é ter nossas pastas avaliadas, nossas entrevistas marcadas, nossos telefonemas atendidos e nossos e-mails respondidos. Não queremos privilégios. Só um pouco mais de igualdade e menos dedos apontados falando que estamos de mimimi.
Alexander Davidson (o Big) é redator da Z+