Discutia-se, no programa de rádio que faço no Rio de Janeiro, sobre ser ou não ser verdade o que aconteceu numa pequena cidade da Colômbia, Putmayo, onde, depois de um deslizamento de terra, apareceu na montanha o rosto de Cristo. A possibilidade de que, por pura sorte, a natureza esculpisse um rosto absolutamente igual à imagem que conhecemos do filho de Deus (vejam a foto e confiram) é quase nenhuma. Na encosta, vê-se perfeitamente um rosto exatamente como os pintores da renascença desenharam a imagem do Salvador.

Digo até mais: é um misto entre a imagem idealizada pela escola clássica de pintura e o Cristo de Hollywood como do filme “Jesus Cristo Superstar” ou de outra superprodução com tema bíblico. Um Cristo saxão de cabelos lisos e olhos bem ocidentais. O mais assustador é que os sentimentos estão lá. Não bastasse a perfeição do rosto, é possível sentirmos a piedade e a dor, numa expressividade de Miguel Angel. Pode acontecer por acaso? É, vai ver que pode.

Passemos a outro assunto. Há alguns meses, no Rio de Janeiro, a prefeitura resolveu demolir um viaduto. Um viaduto enorme, monstruoso, que ligava a tradicional Praça XV à Avenida Brasil. Realmente uma excrescência do porte do Minhocão em São Paulo. Beleza. A estrutura do viaduto era de imensas vigas de ferro, com dezenas de metros de comprimento e pesando algumas outras centenas de toneladas. Teve uma noite em que essas vigas foram roubadas. Vou repetir, confiram na internet, as vigas foram roubadas. Dezenas de metros de comprimento, dezenas de toneladas, maior que um ônibus, maior que um vagão de trem. Ferro puro. Várias delas. Foram roubadas. Carretas imensas transportando essas vigas percorreram as ruas na noite do Rio de Janeiro. Ninguém viu, ninguém sabe. A polícia foi acionada, os serviços de segurança e informação da prefeitura foram acionados, os assessores de imprensa da prefeitura foram acionados. Ninguém, ninguém, sabe onde foram parar as vigas. Isso pode acontecer? Pode. Tanto é verdade que aconteceu. Vigas somem, como os sonhos desvanecem.

Então vou contar outra história que me aconteceu ontem, tão inverossímil como essas. Melhor dizendo, tão improvável como as anteriores. Tive uma reunião com um diretor de uma emissora de televisão no meu escritório. Homem internacional, que chama o Boni de meu filho, manda o David Letterman à merda e manda dizer pro Faustão que não vai atendê-lo porque está com sono. Pois bem, tratamos de um evento de amplitude mundial que esse diretor está dirigindo e vou dar uma pequena e desimportante contribuição.

Ele mora numa fazenda na periferia do Rio e passou o dia na cidade cumprindo uma série de compromissos, inclusive a reunião comigo. Após nosso encontro, já no começo da noite, fechei meu escritório e fui embora. À caminho de casa, toca meu celular. É o tal diretor me perguntando se ficou alguém no escritório e se seria possível descobrir se, por acaso, um objeto estranho foi encontrado na minha sala. Respondi que podia pedir à segurança do prédio para ir até minha sala e procurar por algo, desde que soubessem do que se tratava.

Houve uma longa pausa do outro lado da linha. Senti no ar um imenso constrangimento. Até que veio a resposta: uma dentadura. Uma dentadura? Sim, uma dentadura. Um dentista da cidade desse meu amigo tinha mandado fazer uma dentadura para um cliente num protético com oficina no centro do Rio e pediu que ele fizesse o favor de trazer a encomenda. Coisa que ele fez logo ao chegar. O problema é que em algum momento percebeu que não sabia mais onde estava o pacotinho com a dentadura. E veio a dúvida: onde eu esqueci a porra da dentadura que o filho da puta do dentista pediu para eu trazer do Rio de Janeiro? Teve de ligar para meia dúzia de empresários, advogados, e artistas para perguntar, envergonhadíssimo, se, por acaso, alguém achou uma dentadura.

É possível uma celebridade perder uma dentadura que transportava por favor e ter de ficar telefonando para uma porção de gente para saber seu paradeiro? Parece mentira. Mas foi assim.