Recomendo, com o maior entusiasmo, o livro “Tudo ou Nada, a verdadeira história do Grupo X”. Não consigo encontrar outra palavra que explique esse trabalho de Malu Gaspar, editora de Veja no Rio, diferente de “brilhante”.
O livro é resultado de uma pesquisa muito cuidadosa sobre Eike Batista e sua inacreditável história. O enredo de tirar o fôlego, se fosse ficção, não funcionaria.
É fantástico demais. Inverossímil.
Mais do que um relato da ascensão e queda do sétimo homem mais rico do mundo e “orgulho do Brasil”, na opinião de Dilma, “Tudo ou Nada” é um retrato nada estimulante dos bastidores da política.
E de como funciona o mundo da economia e dos especialistas do mercado de capitais na sua lógica de vaidades, palpites, política e corrupção.
Livro enorme, mais de 500 páginas, não é chato nem se parece com um relatório repleto de notas de pé de página. Pelo contrário.
Sua leitura é emocionante e o texto tem o ritmo de um filme de ação. Só no final, para quem esteja interessado, existe o registro das provas e das entrevistas que confirmam tudo que é narrado.
Aliás, não houvesse as tais provas, o que é descrito seria o suficiente para colocar Malu na cadeia por um bom tempo, tantos processos seriam.
Eu conheci Eike e tenho dele gratas recordações. Fomos vizinhos de prédio, pois minha agência ficava num andar debaixo do seu, e algumas vezes almoçamos juntos.
Ele foi também meu cliente, pois entregou a conta de sua empresa de encomendas expressas e me pediu uma assessoria para a viabilidade de montar uma fábrica dos tuck-tuck (espécie de riquixá motorizado).
A Fedex tropical fechou as portas e o projeto dos tuck-tuck foi arquivado.
Não deu, nesta curta convivência, para conhecer seu sistema de administrar empresas e pessoas, mas deu para perceber que deveria existir algum método na criação de um clima de permanente tensão, insegurança, maledicência e desconfiança entre a cúpula de seu império.
Um grupo que arrecadou bilhões de dólares, chegou perto de comprar a Vale do Rio Doce, e cuja movimentação de dinheiro fazia inveja a fundos soberanos internacionais, era tocado, além dos mais qualificados profissionais do mercado, também na base do palpite, da consulta a mapas astrais e mandingas, além de expedientes dos mais inortodoxos.
Tempos depois, tentei falar com ele para editar um livro sobre seu estilo de liderança, para uma coleção chamada de “A cabeça de…”, cujo primeiro volume tinha sido “A cabeça de Steve Jobs”, que nós criamos na Ediouro.
Foi bom não ter conseguido falar com ele. O livro, como toda biografia autorizada, correria o risco de criar uma imagem edulcorada e fantasiosa sobre sua filosofia de trabalho.
Malu fez o livro sem uma única entrevista com Eike, embora tenha feito mais de cem conversas com seus colaboradores e parceiros. Volto a afirmar: o livro é necessário, principalmente para quem trabalha com marketing e comunicação.
Um detalhe engraçado: no apogeu, faturando bilhões de dólares e sem um único barril produzido, considerado o símbolo do empreendedorismo brasileiro e um exemplo para o mundo, Eike Batista tinha a seu serviço, como contratados, quarenta jornalistas, número muito superior à maioria das redações cariocas.
A produtora Conspiração criava e produzia a acachapante quantidade de um documentário por semana.
As apresentações da petroleira eram realizadas num auditório próprio, dotado de sistema com projeção em 3D, tecnologia superior à das grandes salas de cinema no Brasil.
Quer saber? Tiro o chapéu para um cara que, depois de tudo isso, saindo de uma delegacia da Polícia Federal, onde foi prestar depoimentos, perguntado sobre como se sentia depois da debacle, responde: “Bem, eu comecei na classe média!”