O jornal A Folha da Tarde, de Porto Alegre, de 1971, publicou uma matéria com o título “Paulistas descobrem o Sul com Ivanhoé”. Tratava-se da Ivanhoé Produções, poderoso grupo de empresários paulistas que estavam se estabelecendo no Rio Grande do Sul, pretendendo atuar desde agência de notícias até um banco de crédito imobiliário.

Logo depois, em outra edição, informava que o Grupo Ivanhoé lançaria brevemente uma cadeia de boates e que a Ivanhopress estudava a criação de uma revista especializada em negócios. Uma semana se passou e o Correio do Povo trazia na sua coluna de necrológios a triste notícia do falecimento do sr. Pedro Louzada Balaustre, fundador da pioneira empresa de transporte

Ivanhoé, núcleo da futura holding Ivanhoé, hoje com presença nacional, atuando em diversos setores da economia.

O falecimento prematuro do empresário repercutiu na Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul, com um deputado solicitando nota oficial de pesar pelo passamento do ilustre empreendedor. Um deputado federal gaúcho apressou-se a registrar o infausto acontecimento no pinga-fogo da Câmara em Brasília.

Mas, como a Zero Hora de dezembro registra, o grupo não se deixou abater e anunciou que Pedro Louzada Balaustre Júnior assumiria os negócios do conglomerado, ao mesmo tempo em que anunciava as novas empresas associadas: a Aços Finos Ivanhoé, a Ivanholac Laticínios e o início dos entendimentos para a montagem da Ivanhoar, a mais nova companhia aérea do país.

Na seção Rural do Correio do Povo, grande matéria dava conta das novas linhas de produtos agrícolas da Ivanhofértil. A coluna social dos jornais do Estado publicaram, já no início de 1972, o casamento de Balaustre Júnior com a milionária catarinense Carmelita Umbrella. Numa biografia resumida, o pai de Carmelita foi descrito como um protetor das artes nacionais que acompanhou a família Mesquita de O Estado de S. Paulo no exílio em Lisboa depois do fracasso da revolução de 1932.

A união das famílias Balaustre e Umbrella impulsionou o Grupo Ivanhoé, ao mesmo tempo em que o espírito de benemerência dos patriarcas trazia, para diversas comunidades, ações de caráter eminentemente social como a abertura do Orfanato Pedro Balaustre. Um colunista conhecidíssimo de Porto Alegre publicou em uma nota exclusiva que o Don Gabriel Inellas, orientador da Ordem Hospitalar de São Lazaro, estava na cidade para contribuir na organização de uma grande casa de saúde destinada a oferecer assistência médica à população carente, sob os auspícios da Associação dos Funcionários do Grupo Ivanhoé.

A seção de economia da Zero Hora, em meados de maio de 1972, relatava em detalhes a operação take over cash que impediu que o Bicre – Banco Ivanhoé de Crédito, ameaçado de absorção pelo Unidesco – saísse do controle das famílias Balaustre e Umbrella.

A operação contou com o apoio das empresas Refinaria de Petróleo Dilúvio e Umbrella Mines. Dali em diante, a expansão do Grupo Ivanhoé continuou em fantástica progressão sob o comando de Pedrinho Balaustre. Surgiram novas empresas como  a Ivanhodog Lanches e a Ivanhonasa – Rede Nacional de Emissoras Culturais.

E durante muito tempo os leitores gaúchos receberam informações sobre a vida social de Pedrinho e Carmelita, assim como a extraordinária performance do Grupo Ivanhoé, um exemplo de que o Brasil possui homens de visão, capazes de conduzir empresas geradoras de riqueza, empregos e progresso.

Um detalhe: o Grupo Ivanhoé jamais existiu e de seu tinha apenas o papel timbrado e o talento dos criadores da brincadeira, listados no livro “Anedotário da Rua da Praia”, de Renato Maciel de Sá Júnior. São eles: Rogério Medelsk, Roberto Appel e Luís Fernando Veríssimo.

Descoberta a brincadeira, inúmeros deputados que fizeram discursos em diversas ocasiões exaltando o Grupo Ivanhoé, inclusive as notas de pesar pela morte do fundador, tiveram que solicitar que fossem apagados seus pronunciamentos nos anais das casas legislativas.

Para não jogar fora os papéis impressos, o grupo ainda passou muitos anos enviando cumprimentos nos aniversários dos jornais e por ocasião do Natal. Sempre com o devido registro e agradecimento.

*Para entrar em contato com o autor, escreva para o email lulavieira@grupo5w.com.br